No ano passado, Graça Fonseca, dirigente socialista e secretária de estado do atual governo, e este fim-de-semana (no ano passado já tinha feito o seu coming out, mas ninguém ligou), Adolfo Mesquita Nunes, dirigente do CDS e ex-secretário de estado, saíram do armário e revelaram a sua orientação sexual.
Estas duas afirmações são extremamente relevantes para a comunidade LGBTI porque ajudam, de forma muito significativa, na mudança de mentalidades, algo que a legislação por si só não consegue fazer. Estas saídas do armário mostram à sociedade que a homossexualidade não é algo mau, não é nenhuma doença, não é um nojo e muito menos um motivo de vergonha. Estas mostram a todos que a homossexualidade é algo normal, tal como a heterossexualidade.
No entanto, mostram também que existem várias personalidades, de todos os campos políticos, sociais, económicos e culturais, que não são diferentes de quaisquer outras, apenas porque tem uma orientação sexual diferente, daquilo que foi definido como norma, a partir de um período da história.
O coming out do Adolfo Mesquita Nunes é ainda mais relevante porque demonstra que mesmo em partidos conservadores e que estiveram ou estão ainda contra a igualdade social (que estiveram contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo ou mesmo que estão contra a adoção por casais do mesmo sexo), a homossexualidade existe e é algo completamente natural.
Remeto aqui para a entrevista que o atual líder da Juventude Popular, Francisco Rodrigues dos Santos, deu há pouco tempo, onde se mostrava contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apenas e somente porque para ele casamento é algo entre um homem e uma mulher e não conseguiria explicar esta mudança a um filho e contra a adoção por casais do mesmo sexo, dado que para ele “nenhuma filiação é natural com duas pessoas do mesmo sexo”. Pessoas do mesmo partido podem ajudar a combater a discriminação e estar a favor da igualdade (Adolfo Mesquita Nunes), ao passo que outras podem continuar a perpetuar a diferença e a discriminação (o líder da Juventude Popular).
É estranho que em 2018 exista quem ache que um político ou figura pública “sair do armário” é uma “coisa da vida privada” ou que “não temos nada a ver com o que o senhor(a) faz”. Este pensamento revela bastante, nomeadamente como a mudança de mentalidades é ainda essencial e ponto de combate da comunidade LGBTI.
A orientação sexual não é algo privado, dado que nenhum heterossexual esconde a sua orientação. Privado é aquilo que a pessoa faz no seu recato, tal como com quem namora ou como faz a sua vida. Tornar pública a sua orientação sexual, como nos casos do Adolfo e da Graça, é um enorme ato de coragem, dado que estão a promover, cada vez mais, a transformação em normalidade de algo que ainda é encarado por muitos como anormalidade.
Andar de mãos dadas em público para um casal heterossexual é algo perfeitamente banal e que não tem olhares de desdém ou bocas de outros, o mesmo já não acontece com um casal homossexual, e este estar de mãos dadas não é – de todo – expôr a sua vida privada.