Nunca vi o Queer Eye original, a série de sucesso em que cinco homens gay davam uma reviravolta aos armários – leia-se aspecto – de homens heterossexuais na década passada. Quando surgiu a notícia que a Netflix tinha pegado no conceito e dado ela própria uma reviravolta, confesso, não fiquei especialmente entusiasmado. Aliás, nada entusiasmado, simplesmente indiferente. Até que comecei a receber algumas mensagens bastante positivas sobre o programa daqueles cinco e a certeza que o meu desinteresse era mais que justificado começou a vacilar. Poderia haver ali alguma coisa a retirar para lá da componente mais superficial deste tipo de programas? A questão, só por si, espelha algum preconceito que assumo ter e, na tentativa de contrariar esse primeiro impulso, obriguei-me a ver o primeiro episódio. Valeria o hype que a nova temporada tem ganho desde que estreou em fevereiro? A resposta é agora bastante clara:
*cough*
Com este tipo de superficialidade passo eu muitíssimo bem. E se Antoni Porowski é realmente o meu eye-candy de eleição da série (e outras pessoas terão outras belíssimas opções também), a verdade é que a ela vive da química entre os cinco. Desde a culinária (que mais parece uma desculpa, sinceramente, onde já se viu ir ao mercado local e orgulhar-se de comprar dois produtos para uma receita? Mas depois volto a olhar para a fotografia de cima e tudo se perdoa)… Como dizia antes da divagação, as especialidades dos Fab Five passam pela culinária, decoração (Bobby Berk), moda (Tan France), cultura (Karamo Brown) e cuidados do corpo (Jonathan van Ness).
Nem a propósito do texto do Nunoa propósito de paneleirices e masculinidades feridas – e quantas vezes escondidas – é este último, o Jonathan [imagem de destaque ao centro], que mais explora a sua exuberância, é diva, é silly, é uma grandessíssima bicha. E o seu orgulho e sentido de humor deixa-nos sem resposta, o preconceito não tem aqui lugar e vêmo-nos forçados a levar com as suas poses desmesuradas, humor fabulástico e adorá-lo por ser exatamente assim.
E se o carisma de todos eles não chegasse, esta nova temporada aposta numa perspetiva de inclusão e de melhoria da auto-estima de quem se submete à sua reinvenção. Sem nunca deixar de ser aquilo que é – um reality show ligeiro -, os episódios conseguem trazer uma componente sentimental que os eleva acima da superficialidade a que muitos deles sucubem. Existem aqui conversas sobre a Igreja e aceitação, sobre saídas de armário a famílias mais conservadoras e sobre o importante movimento #BlackLivesMatter Karamo chega a confrontar um polícia que participou num dos episódios mais emocionantes.
Esta série da Netflix é uma simpática companhia de final de serão que vale a pena ter, porque a inclusão – com uma pitada de humor e purpurina à mistura – nunca fez mal a ninguém. 🦄
Imagem: Instagram.
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