4 Anos A EsQrever

Na comemoração das bodas de linho do esQrever não é linear – mas é natural – o percurso que caminhámos no início, enquanto blog de opinião sobre assuntos quase exclusivamente gay, e nos fomos expandindo na riqueza da temática de todas as pessoas LGBTI. Até chegarmos a um ponto em que somos orgulhosamente um site feminista, ainda que claramente colorido por uma paleta mais arco-íris. Ao longo do nosso processo de descoberta e evolução fomos cada vez mais nos apercebendo do quão indissociável é a homofobia da misoginia, tanto que hoje encaramos as questões de igualdade de género como o ponto fulcral para a mudança de mentalidades dentro e fora da comunidade.

E é por isso que estamos expectantes e esperançosos com o poder transformador que ondas de mudança social como a luta contra o assédio – o movimento #MeToo e #TimesUp – ou a tragédia da execução recente da guerreira política Marielle Franco e os protestos que esse crime grotesco desencadeou. São exemplos tenebrosos do silenciamento das mulheres na nossa sociedade. E enquanto não percebermos, todas e todos, que a raiz da homofobia, bifobia e transfobia é a mesma da discriminação ancestral com base no sexo, estamos a lutar em vão. Temos de caminhar e marchar em uníssono e entender que a igualdade tem de ser transversal e englobar todas as vítimas de discriminação motivada por identidade de género ou orientação sexual. E ter particular atenção e ouvir com consciência redobrada as vítimas de discriminações cumulativas, como é o caso das pessoas LGBTI não-brancas.

Mas para contrariar algum negativismo atual podemos também sempre pensar nos avanços que temos feito enquando comunidade nos últimos tempos. Há poucos anos era impensável alguém como o atleta Adam Rippon, abertamente gay e nada binário na sua expressão de género, se tornar numa celebridade instantânea.  Era impensável termos outro atleta olímpico, o judoca Célio Dias, a celebrar a sua identidade e a se tornar num ídolo automático para milhares de jovens que sentem o chamamento do desporto mas têm medo de não ser aceites num meio ainda tão polarizado e discriminatório. Era impensável Portugal ter a primeira figura política orgulhosamente fora do armário e, reforçando o impacto das mulheres na sociedade, orgulhosamente lésbica como é Graça Fonseca, Secretária de Estado da Modernização Administrativa (PS). Era impensável vermos alguém como Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do conservador CDS/PP, a sair naturalmente do armário e a provar que as cores políticas nada têm a ver com a aceitação de quem somos. Era impensável olharmos para projetos arrojados como o Fado Bicha como algo tão potencialmente unificador, pegando na tradição e desconstruindo-a com inspiração nas nossas histórias individuais e coletivas de forma a gerar maior inclusão e representação no futuro próximo. Nada disto é mais impensável, é real, é possível, está aqui.

É no quarto aniversário deste projeto que Portugal tem a hipótese de, mais uma vez, se chegar à frente no que toca aos direitos humanos, nomeadamente com a proibição de cirurgias desnecessárias a crianças Intersexo e a autodeterminação de género consagrada na lei. Podemos fazer a diferença lutando pela liberdade de todas e todos nós.

Vivamos, portanto, cada vez mais sem armários, sem preconceitos e sem fobias. Vivamos, sim, de forma plena e livre, partilhando as nossas histórias, os nossos ideais, os nossos sonhos. É por isso que aqui estamos há quatro anos. Juntas. Um gigante OBRIGADA por esta partilha constante.

A equipa esQrever 🦄 ❤️

Deixa uma resposta