Tchetchénia: Nada Mudou Passado Um Ano

Faz agora um ano desde que o jornal russo Novaya Gazeta começou a noticiar o desaparecimento de homens gay na Tchetchénia, república federal Russa. Relatos através da Russian LGBT Network emergiram de prisões e campos de concentrações em que homossexuais, principalmente homens, eram torturados durante semanas a fio por autoridades tchetchenas, a mando do representante máximo Ramzan Kadyrov. Uns teriam morrido no local, outros devolvidos às famílias de origem que também se encarregaram de aplicar a mesma punição.

Manifestações contra este genocídio perpetrado pelas autoridades tchétchenas aconteceram um pouco por todo o mundo, inclusivamente em Lisboa e no Porto, o que levou a um voto de condenação por parte de toda a nossa Assembleia,  EXCEPTO o Partido Comunista Português que achou por bem abster-se (não nos esqueçamos disto). Finalmente a Europa reagiu através de Angela Merkel, que pediu satisfações a Vladimir Putin. Mais tarde, o Kremlin respondeu afirmando que tais prisões não existem e que nenhumas queixas tinham sido feitas acerca das mesmas. As associações LGBT foram no entanto conseguindo recolher alguma informação através de refugiados que ainda não tinham conseguido sair da Rússia e que, de rostos sempre cobertos com medo pela vida que poderia ser retirada pela família ou autoridades, relataram as torturas e violência física e psicológica a que tinham sido submetidos nos “inexistentes” campos de concentração. Lista de mortos oficialmente confirmados, apenas 27 num total que seria de mais de 100, foi divulgada pela Novaya Gazeta e um célebre cantor tchetcheno, Zelim Bakaev, assumidamente gay, desapareceu sem deixar rasto na região de Grozny.

O que mudou passado um ano? Nada. As autoridades russas continuam a afirmar que nada se passou ou passa na Tchetchénia. Inúmeros refugiados continuam a precisar de asilo fora da Rússia. A purga homossexual continua. Estamos a deixar o assunto morrer. E de olhos desviados deixamos que esta perseguição desumana continue, que pessoas como nós continuem a ser mortas sem deixar rasto e sem ninguém querer saber do que lhes aconteceu. Vamos acordar. Seja com doações possíveis através de instituições como a ILGA-Europe ou a Russian LGBT Network para realocar pessoas para fora da Rússia ou mantendo o assunto vivo e na linha da frente. Não nos calemos. O silêncio é conivente.