Sandra Cunha, deputada no Parlamento pelo Bloco de Esquerda e longa defensora dos direitos das pessoas LGBTI, assumiu-se enquanto mulher lésbica num artigo do Público, em que fala também da homossexualidade de vários deputados na Assembleia da República:
“Há (vários deputados e deputadas) no Parlamento que também não escondem a sua homossexualidade. Fazem a sua vida. Alguns até partilham parte dela nas redes sociais, o que quebra a separação entre a esfera pública e a privada. Só não falam nisso com jornais, rádios ou televisões”
É crucial esta representação e visibilidade das pessoas LGBTI em todos os cargos, particularmente no públicos e nos que envolvem a determinação da legislação que a todas e todos afeta.
Daí ser pouco feliz a forma como é noticiada a peça jornalística, com o título “Não ando com um cartaz. As pessoas heterossexuais também não andam”. Há vários reparos a fazer nesta peça, o primeiro sendo o facto de ser condenatório às pessoas que expõe a sua orientação sexual não normativa sem quaisquer limitações ou entraves, tal como fazem todas as pessoas heterossexuais em todas as situações laborais e sociais. A própria Sandra, que tem apoiado a causa LGBTI várias vezes na Marcha do Orgulho LGBT (com, imagine-se, cartazes), não deverá apreciar a forma como foram utilizadas as suas palavras. O segundo reparo tem que ver com a confusão que tal título provoca entre orientação sexual e sexualidade, sendo a orientação sexual uma questão identitária – tirando que esta, ao contrário da raça, pode ser escondida (para o bem e para o mal) – e a sexualidade algo que tem que ver o foro privado de cada pessoa. O terceiro debruça-se na foto (mal) escolhida para ilustrar a peça, em que a deputada entrevistada está em segundo plano com o foco dado a um companheiro de bancada. Certamente o Público conseguirá providenciar fotos da Sandra, mais ou menos recentes, para representar este artigo.
Não deixemos no entanto a peça atabalhoada e menos rigorosa deixar eclipsar a importância que é termos a nossa primeira deputada fora do armário, atualmente em funções e a fazer um trabalho exímio na Assembleia da República, particularmente na Comissão para a Igualdade e Não Discriminação, onde tem representado com rigor e inteligência o Bloco de Esquerda em questões dos direitos das pessoas LGBTI. Merecia uma peça jornalística muito melhor e tem os nossos efusivos parabéns e agradecimentos por nos estar a representar (tão bem) na mais alta instância legislativa de Portugal.
Obrigado, Sandra!
“Facto”, não “facto”.
Corrigido, obrigado 🙂