Continua a ficar melhor: Queer Eye regressa mais diverso que nunca

Confesso, quando foi anunciado o reboot do Queer Eye for the Straight Guy pela Netflix fiquei totalmente indiferente. A série original, que pegava em homens heterossexuais e lhes dava um revamp por parte de um grupo de homens gay, não me tinha impressionado muito. Porque na altura estava tão armariado que conseguia cheirar o pinho branco que estava atrás dos casacos velhos da Chevignon. E porque sentia que em 2018 uma série como aquelas não fazia grande sentido. E tinha razão, não faz. Porque a série é outra. Totalmente.

Queer Eye (sem mais “sufixos”) é uma experiência totalmente diferente. Para além da qualidade de produção e da renovação da fórmula antiga, o que dá personalidade à serie é a diversidade dos novos Fab 5. Sim, são todos homens homossexuais – seria interessante integrar alguém das outras letras LGBTI no elenco – mas existe uma disparidade de histórias e experiências por eles apresentadas que anteriormente simplesmente não tinha lugar. Antoni, Bobby, Jonathan, Karamo e Tan são quase instantaneamente apaixonantes e a química que existe entre eles transparece em televisão de forma altamente viciante e reconfortante.

Porque para além da velha máxima do make-over existe aqui uma tentativa concretizada de construir pontes com os outros lados da barricada e raspar a superfície e falar-se de assuntos que nos afligem nos dias de hoje: identidade, racismo, homofobia, religião, política. Num dos mais comoventes episódios da primeira temporada Karamo e um polícia de Atlanta que é o “herói” (como são chamados os concorrentes) criam uma linha transfiguradora de diálogo e respeito mútuo onde anteriormente existiam preconceitos assentes em sectarismos e preconceitos raciais. Outra transformação é mesmo a de um homem gay preso a uma ideia falsa de quem tem de ser para ser aceite enquanto homem negro homossexual pela comunidade e pelo resto da sociedade.

A primeira temporada teve tanto sucesso que a segunda já aí está e estreia já para a semana, dia 15 de Junho. E a evolução continua, os heróis incluem também um homem trans e também heroínas porque pela primeira vez na história do programa os Fab Five vão influenciar a vida de uma mulher que é responsável pelo centro comunitário de uma igreja. Pelo trailer (em cima) já dá para comprovar que será dos episódios mais comoventes e que promete abordar a longa história de adversidade entre as comunidades LGBTI e católica.

Enquanto esperamos não há como não devorar a minha paixoneta do programa, the new America’s sweetheart: Jonathan Van Ness. Anteriormente conhecido pela série Gay of Thrones, este cabeleireiro tem dos mais intrigantes podcasts disponíveis na Internet, Getting Curious, onde semanalmente convida um especialista num tema que o fascina: que vai desde política internacional a ciência e religião.

E também não há como não ficar enamorado com enorme quantidade de material de brotherly love que está espalhado pelas redes sociais de cada um deles. É particularmente refrescante esta representação de amor não-sexualizado entre homens gay na forma de amizades e cumplicidades profundas que vão muito além das diferenças que os separam. Se há coisa que todos os homens, independentemente da sua orientação sexual, podem aprender com eles é que amar outro homem desta forma não nos torna mais frágeis, torna-nos fortes. Invencíveis.

PS: Como celebração do Pride Month não percam as playlists do Spotify curadas pelos cinco rapazes. A do Tan é particularmente boa e diversa. Happiest Pride!

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