Mundial de Futebol: Afetos Entre Pessoas LGBTI Serão Denunciados

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Existem instituições, do Brasil ao Reino Unido, que têm avisado adeptos e adeptas que se desloquem à Rússia para ver o Mundial de Futebol para tomarem precauções quanto aos afetos que poderão partilhar em público. Simples beijos ou mãos dadas poderão ser denunciados às autoridades por grupos conservadores russos.

Não deixa de ser irónico que o primeiro jogo do Mundial seja entre a Rússia e a Arábia Saudita, já na próxima quinta feira, dois países com leis altamente punitivas à sua população LGBTI. Ainda que possamos falar em vários níveis de homofobia estatal dos dois países – as relações homossexuais são legais na Rússia e crime na Arábia Saudita -, a verdade é que no país anfitrião do maior evento futebolístico mundial a homofobia é ainda socialmente aceite. E podemos juntar a isto a chamada ‘lei da propaganda gay’, que vê qualquer tipo de manifestação, pessoal ou coletiva, de pessoas LGBTI como propaganda, alegadamente para proteger as crianças. Do quê mesmo, pergunto?

Oleg Barannikov, coordenador dos guardas cossacos, um dos grupos ortodoxos conservadores, disse que “se dois homens se beijarem no Mundial de Futebol, pediremos à polícia que lhes preste atenção. O que acontecerá depois é com a polícia.

No Brasil, o Ministério das Relações Exteriores avisou que as demonstrações de afeto podem ser consideradas “propaganda de relações sexuais não tradicionais feita a menores” e enquadradas numa lei que determina multa e deportação.

Já o diretor da organização londrina contra a discriminação Fare, Piara Powar, explicou que o guia aconselha as pessoas LGBTI a serem cautelosas em qualquer lugar e “que não sejam vistas como recetivas à comunidade LGBTI”. E relembra que “a mesma mensagem existe para fãs não branc@s e de minorias étnicas: vá ao Mundial, mas com cautela. Questões relacionadas à comunidade LGBTI não fazem parte do discurso público. A população LGBTI russa não tem um lugar no espaço público, o seu espaço é escondido e subterrâneo.”

A FIFA entretanto reforçou a sua posição de tolerância-zero à discriminação, mas sabemos que, ainda assim, não tem conseguido parar os cânticos homofóbicos que ainda se ouvem frequentemente nos estádios. Mais, a própria FIFA parece ter dois pesos e duas medidas na luta contra as várias formas de discriminação.

Relembramos que, segundo as Nações Unidas, “a prática da educação física e do desporto é um direito fundamental de todas as pessoas” e, como tal, viver livremente um dos maiores eventos desportivos do mundo é fundamental para o bem-estar e a afirmação de todas as pessoas. O desporto, dado o seu alcance pessoal e social, pode e deve ser uma ferramenta de união e celebração. Assim seja!

 

Atualização 14/06/2018:

Em dia de estreia do Mundial de Futebol 2018, parece que esses receios se realizaram, com relatos indicando que um casal gay – que viajou para a Rússia para torcer pela França – foi espancado em São Petersburgo após apanhar um taxi.

A principal vítima, O. Davrius, foi levada para o hospital onde lhe foi diagnosticada uma contusão cerebral e uma lesão aberta craniocerebral, além de uma fratura na mandíbula superior.

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon: @pedrojdoc

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