A Cor do Género

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No findo mês de junho celebrou-se o orgulho LGBTQI+ e a luta pela igualdade de direitos para todos os cidadãos do mundo, esta é, portanto, a altura certa para abordar a cor do género. Este é um tema tão simples que dá pano para mangas, não fosse ele inerente à condição humana desde o momento em que se nasce. Sim, está a falar-se aqui das roupas azuis e cor-de-rosa que vestem aos bebés e crianças. O azul é para meninos e o rosa para meninas. E isto continua a ser alimentado hoje em dia. Não só na área do vestuário, mas também em editoras e outros sectores. Não se pode esquecer o que aconteceu há bem pouco tempo com uma editora de referência que resolveu fazer livros diferentes para rapaz e rapariga. Esse ainda é o maior problema!

Depois há a questão da fragilidade que está associada ao cor-de-rosa e, consequentemente, à mulher. Quando nasci, calçaram-me uma bota azul e outra amarela. Pelo menos, não estava tudo perdido. O género não tem cor! Os meninos também podem usar o rosa, o amarelo, o verde, o roxo, o vermelho e todas as cores do arco-íris. Assim como as meninas. Não são apenas duas cores que definem o género masculino e feminino. Nem existem apenas estes dois géneros. Então e a intersexualidade? Há pessoas que mudam de sexo porque sentem que não nasceram no corpo certo, isso pode criar alguma confusão na cabeça de pessoas mais conservadoras. Talvez seja por isso que a lei para mudança de sexo aos 16 anos tenha sido vetada pelo Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Importa referir que o género não tem cor. Cada pessoa é como é, já o diz a velha máxima «somos todos iguais com as nossas diferenças». Pode parecer clichê, mas é uma grande verdade que todos deveriam ter em consideração. Ou seja, os direitos deveriam ser iguais para todos os géneros; com recurso à mesma educação, saúde, trabalho, etc. Portanto, ainda há muito trabalho a fazer! Principalmente nas escolas que é onde tudo começa. Toca a dar aulas de educação sexual, fazer equipas mistas nas turmas de desporto, promover a informação de qualidade que é dada por associações sobre os mais variados temas, entre muitas outras campanhas que possam ser realizadas no sentido de criar gerações futuras que respeitem e sejam respeitadas.

4 comentários

  1. As cores têm ancestralmente valores simbólicos e embora tenham tal capacidade simbólica, os valores simbólicos variam com as épocas históricas, em longos períodos que compreendem muitos séculos. O azul era cor “inexistente” na civilização romana da época clássica, os romanos eram “cegos” para essa cor, ou melhor, viam-na enquanto marca de inferioridade. As mulheres de olhos azuis (bárbaras vindas do norte da Europa) eram putas; os homens de olhos azuis seriam escravos. Hoje o azul é a cor maioritariamente favorita (as blue-jeans), mas ambígua: tanto significa plenitude (o céu azul) como tristeza (os intensos blues da música negra). Convencionalmente, é hoje a cor da masculinidade, mas nos séculos XVII e XVIII era cor muito usada para pintar os mantos da Virgem Maria na pintura religiosa. Desde esses séculos, o cor-de-rosa impôs-se enquanto a cor da verdade pura e original (mistura de vermelho e branco), será daí decorrente a sinalização do feminino, etc.

    1. Obrigado pelas incríveis informações que veio acrescentar. Não se esqueça de continuar a ler a minha crónica que sai todos os meses a 21 aqui no nosso esQrever. Prometo não desapontar.

  2. Sempre às ordens. Sobre as cores, cruzo informações de um conhecido “Dicionário de simbologia” e de trabalhos escritos (e traduzidos) do historiador Michel Pastoureau. Além, claro, da leitura de informações e artigos sobre pintura antiga e contemporânea. “Things change” e os conceitos e preconceitos são exactamente dessas coisas que mudam.

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