Preconceito laboral

Deparei-me com uma situação um pouco estranha e aborrecida. Eu não sou de comentar as ações nem as circunstâncias de vida das pessoas. Acho que todos os cidadãos merecem respeito e o direito à sua liberdade deve ser preservado. No outro dia, num grupo de pessoas onde eu estava inserido, alguém resolveu começar a comentar o modo de agir de uma outra pessoa que estava um pouco mais afastada de nós. Essa pessoa, que tem uma grande projeção vocálica, não é bem vista nem recebida precisamente por ter essa caraterística que, muitas vezes, é associada à homossexualidade. Por acaso, coincide. Essa pessoa é homossexual. E daí? Há tanta gente que tem uma voz estridente, assim como a Cristina Ferreira e a Júlia Pinheiro. E não é por isso que são julgadas em praça pública.

Ora, o que chateia é que alguns dos sujeitos que estavam comigo resolveram comentar a voz do indivíduo como estridente e outros adjetivos que não podem ser aqui escritos. Mas, mais grave ainda, foi quando os adjetivos se transformaram em substantivos. Proferiram-se palavras como florzinha. Aí já não se estava a falar da voz, mas sim a utilizarem-se vocábulos maldosos que são, frequentemente, relacionados com a comunidade LGBTQI+. Claro que também se disse a palavra ‘paneleiro’ (essa nunca pode faltar), seguida de muito calão.

Se na última crónica aqui no esQrever relatei a minha posição exterior relativamente a uma situação de preconceito, desta vez tive a possibilidade de a experienciar de uma forma mais direta. Não gostei! E não me senti bem em ouvir expressões de ódio relativamente a alguém que estava apenas a ser ele próprio. Mas, se cada um tem direito a ser como é, também os preconceituosos o podem ser. Um pouco mais ridículo é o tempo que perdem a tecer os comentários que de nada servem a não ser criar mau ambiente e fazer com que algumas pessoas que estejam presentes se sintam mal. E esse não é o objetivo da vida, mas também não se pode querer que toda a gente tenha o objetivo de ser e fazer feliz.

Ainda esta semana, numa conversa com uma grande amiga, abordámos o assunto da felicidade a propósito de alguém que conhecemos que tem todos os motivos para ser infeliz; no entanto, não o é. É um sujeito forte e lutador que enfrenta a vida da melhor maneira possível. No seguimento desta conversa, surgiu a possibilidade de um dia o preconceito desaparecer. Mas chegámos à conclusão de que não há hipótese para isso acontecer. Haverá sempre alguém, cuja educação ficou aquém, xenófobo, homofóbico, misógino, machista, entre outros ódios e ‘fobias’. Todos as temos, a minha é a fobia de pessoas ignorantes. Porque eu procuro informar-me acerca dos assuntos. Existem tantos livros, tantos artigos em revistas ou na internet que explicam os comportamentos humanos. Se pudermos aprender algo mais e tornarmo-nos melhores pessoas com aquilo que experienciamos, então certamente que seremos mais capazes de fazer da inclusão algo alcançável. De criar mais felicidade. E é esse o objetivo desta crónica – tentar sensibilizar pelo menos uma pessoa que seja.

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