Educação: Estudo do Meio do 1º ano ignora famílias homoparentais

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Existem vários tipos de famílias. Assinala a que mais se parece com a tua.

Estamos em 2018, certo? Ainda me espantam certas coisas…” É assim que Natacha Margarido se indignou ao encontrar no livro “Estudo do Meio” este exercício lançado à filha que frequentará o 1º ano de escolaridade.

Nele podemos ver nove exemplos de famílias e é fácil de perceber que a Porto Editora teve cuidado em relação aos laços familiares, dando como exemplo famílias com pai e mãe, avós, famílias monoparentais, mais ou menos numerosas, de vários grupos raciais. Ainda assim, dois anos depois da legalização da adoção e co-adoção por casais do mesmo sexo e mais uma vez, as famílias homoparentais foram deixadas de parte.

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Um dos objetivos do livro é, precisamente e segundo a Direção-Geral de Educação, “identificar os principais elementos do Meio Social envolvente“, onde se inclui a família, “comparando e relacionando as suas principais características.Mais, pretende-se que a criança com esta disciplina adquira “um conhecimento de si própria, desenvolvendo atitudes de autoestima e de autoconfiança“, tal como “valorizar a sua identidade e raízes, reconhecendo a diversidade como fonte de aprendizagem para todos.

Ora, estes objetivos parecem ser alienados pelo exercício proposto que, para além de prolongar a invisibilidade das famílias homoparentais – e, como tal, impede a sua normalização – possui uma mensagem subentendida que as famílias criadas por dois pais ou duas mães não estão em pé de igualdade perante os restantes exemplos. As famílias homoparentais são, mais uma vez, invalidadas por uma escolha que, ainda que aparente ser cuidada, não deixa de ser questionável.

As crianças que pertençam a uma família homoparental sentir-se-ão excluídas e aquelas que pertecem a famílias hetero ou monoparentais poderão vir a vê-las como algo estranho, algo que, literalmente aqui, não vem nos livros, que não tem o mesmo valor.

Não se trata pois de retirar um exemplo por outro, mas sim de desenhar um exercício que seja verdadeiramente inclusivo e que valide também na sala de aula os vários modelos familiares reconhecidos legalmente em Portugal. Há pois que fazer melhor, muito melhor.

Nota: Obrigado à Natacha Margarido pelo contacto 🙂

3 comentários

  1. Boa tarde!

    Caro Pedro Carreira, o meu nome é Paulo Rebelo Gonçalves, sou responsável de Comunicação da Porto Editora, e tomo a liberdade de vir aqui partilhar consigo e com a comunidade as ideias centrais do que já transmiti à Natacha Margarido.

    Gostaria de dizer que somos muito sensíveis à temática da diversidade e da inclusão, como, aliás, o Pedro Carreira assinala no seu texto. Aliás, se comparar com outros livros escolares de outras editoras, concluirá que este será o mais inclusivo de todos.

    O livro em questão foi produzido em 2015 e entrou em vigor em 2016; por essa altura, já analisávamos editorialmente como poderíamos melhorar vários aspetos, incluindo este que aponta (pois também nós ficámos com a ideia que poderíamos ter feito melhor) e ao qual se junta outras questões, como famílias em que um ou ambos os progenitores têm uma deficiência, por exemplo.

    A observação da Natacha Margarido e o seu comentário vêm ao encontro das nossas preocupações. Na impossibilidade de alteramos o referido manual escolar – a Lei estipula uma vigência mínima de seis anos, período durante o qual os editores estão proibidos de fazer qualquer alteração em nome da reutilização – creia que estamos a trabalhar no sentido de encontrar soluções para este e outros desafios pedagógicos, sempre com o objetivo de ajudar as crianças a perceber o mundo em que vivemos e a promover os valores da inclusão e do respeito pela diversidade.

    Por fim, e tal como fiz com a Natacha Margarido, partilho aqui dois exemplos:

    Um, o livro Os Direitos das Crianças, da Luísa Ducla Soares, que publicámos este ano e onde se faz propositadamente uma referência à existência de famílias com pais do mesmo sexo (pág. 6).

    Outro, o vídeo que produzimos para a abertura do ano escolar de 2017: nele, identificará diferentes famílias, incluindo uma família homoparental: https://youtu.be/o3EgjBBshnE.

    Muito obrigado pela atenção e votos de felicidades!

    1. Boa tarde, caro Paulo Gonçalves!

      Desde já muito obrigado pelo seu comentário e por explicitar a preocupação que a editora tem sobre o referido exercício.

      No vídeo que partilhou (e que é ótimo) julgo ver precisamente o livro aqui em questão, esperamos então por um futuro com a mesma linha de pensamento, pela inclusão de todas as famílias e respetivas crianças.

      Cumprimentos!

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