Bolsonaro Presidente: Porque as lutas nunca estão verdadeiramente ganhas

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Bolsonaro, candidato de extrema-direita, venceu a segunda volta das presidenciais brasileiras.

É esta a manchete que leio e que, num espaço de poucos anos, me faz questionar a razão de aqui estar a lutar por estes direitos, meus, nossos, humanos. O que responder quando alguém nos acusa de já estar tudo feito e que já temos a lei do nosso lado, o que queremos, afinal, mais?

A política brasileira, longe de ser uma questão simples, apresentou-se ao mundo no domingo como de um país – ainda por cima que nos é tão próximo – que cede ao populismo de uma pessoa que tem atacado recorrentemente minorias no seu país, entre elas, e não só, as LGBTI. São horas de entrevistas e declarações em que o então candidato às presidenciais brasileiras expele o seu ódio e preconceito contra gays, contra mulheres, população negra e índia.

O Brasil, onde acontece o maior número de crimes contra a  população LGBTI no mundo – mais especificamente contra a população trans -, merece muito melhor que este desenrolar político. No ano passado, 445 pessoas LGBTI foram mortas em crimes motivados por homofobia. Ou seja, uma vítima a cada 19 horas e um aumento de 30% face ao ano anterior. Tudo isto acontece ao mesmo tempo que nos Estados Unidos a administração Trump defende o fim do reconhecimento oficial das pessoas transgénero. O que queremos, afinal, mais?

Pergunto, como será a vida das pessoas LGBTI no Brasil a partir de hoje? E aquelas, ativistas, que dão a cara pelos direitos da população? A legitimação do discurso altamente homofóbico e transfóbico de Bolsonaro nas urnas abre que precedentes? Que desculpa terá hoje um homofóbico para não agredir um gay ou uma lésbica com este resultado político em que a maioria validou todo o discurso ofensivo repetido nos últimos anos pelo candidato? Que diferença fará na vida destas pessoas após esta validação nas urnas? Que valor terão elas – e por equivalência nós – aos olhos daquele País?

Por vezes confundem-se as lutas pessoais com aquelas que travamos por todas as pessoas, mas não perceber que este tipo de batalhas, mesmo em Portugal, que se tem posicionado na linha da frente das leis mais avançadas do mundo no que toca aos direitos e defesa das pessoas LGBTI, são reversíveis é não perceber o que está a acontecer em vários pontos do mundo. E há que sair da bolha. Os direitos conquistados nos últimos anos são ainda hoje um enorme desconforto para boa parte da população e não é difícil imaginar que com mudança de rumo político em Portugal aquilo que foi orgulhosamente conquistado não seja revertido para lei muito mais desigual.

O que queremos, afinal, mais…? Talvez hoje em dia não seja tanto aquilo que queremos, mas sim aquilo que não queremos, não queremos aquilo que nos agride, não queremos aquilo que nos minora, aquilo que nos despreza, aquilo que, de boca cheia, nos mata. A cada 19 horas. Porque as lutas nunca estão verdadeiramente ganhas. Muito menos a de hoje.