Kevin Hart e a polémica dos Óscares

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Não tinha passado uma semana desde o anúncio de Kevin Hart, ator e comediante norte-americano, enquanto anfitrião da edição deste ano dos Óscares e o mesmo teve de se retirar desse papel depois de ter sofrido uma brutal resposta adversa devido a tweets homofóbicos do passado. Entre muitos posts ofensivos, constavam alguns que utilizavam a palavra gay enquanto insulto e um deles revelava que um dos seus maiores medos era que o filho dele se viesse a revelar gay no futuro.

Aquando da sua retirada enquanto anfitrião dos Óscares pediu desculpa à comunidade LGBT pelos seus erros e palavras insensíveis do passado. No entanto quando os produtores alegadamente lhe pediram para fazer uma apologia pública, ele recusou-se a fazê-lo. E, apenas na semana passada, dirigiu-se ao programa de Ellen DeGeneres numa tentativa de limpar a sua imagem e afirmou até que poderia reconsiderar a sua retirada. Ellen chegou inclusivamente a menosprezar a revolta por parte das redes sociais e a incentivá-lo a não ouvir os detratores e seguir em frente, o que também provocou uma avalanche de comentários negativos contra a própria apresentadora, considerada por muitas pessoas uma porta-voz importante dos direitos LGBT no Estados Unidos.

Seguidamente, Hart deu uma entrevista à CNN onde colocou mais achas na fogueira. Enquanto se tentava desculpar pelos seus comentários, disse que alguém deveria chamar a comunidade LGBT à atenção pelo seu comportamento de bullying. Disse também que jamais seria um aliado LGBT porque “não era esse o seu caminho“.  Finalmente, noutra entrevista à ABC confirmou agora que não apresentaria os Óscares “este ano“.

É extremamente perturbador quando celebridades se insurgem contra as reações das redes sociais quando as próprias exibem comportamentos problemáticos e que ferem um ou vários grupos de pessoas. Pior é quando se recusam a desculpar-se candidamente, acusando sempre a violência visceral dos guerreiros da justiça social para se esquivarem a mais acusações e parecerem elas as vítimas do malfadado “politicamente correcto” (não é Manuel Luís Goucha?). Certo que as redes sociais tanto têm capacidade de promover o bem como exacerbar o mal. No entanto, vivemos, felizmente, em democracia e toda a gente pode dizer o que lhe bem entender. Mas tem também de sofrer as consequências e a resposta social sem voltar o dedo para quem contra eles se insurgem.

Neste caso particular, Kevin Hart fez tudo errado e colocou a própria Ellen DeGeneres numa posição dúbia em relação ao que defende. Ellen afirmou que acredita no perdão, mas Hart nunca o pediu. Não de forma honesta e inequívoca. Esquivou-se sempre de responder efectivamente o que pensava agora e a contrariar os seus ténues pedidos de desculpa com insultos declarados aos que a ele se opõe. Como é que o bully se transforma no bullied quando as palavras que usou continuam a magoar os mais vulneráveis à falta de uma verdadeira penitência pelo seu uso? Como é que se pode pedir desculpa de forma tão fugaz enquanto se renega o verdadeiro valor da luta pelos direitos LGBT ao afirmar que não pretende alguma vez se tornar um aliado da comunidade?

A realidade é que, apesar de ter confirmado que não será anfitrião este ano, deixou, claramente, a porta aberta para convites futuros. Se há coisa que Hart devia ter aprendido, já que as verdadeiras lições foram claramente ignoradas, é que as redes sociais não têm amnésia e o “politicamente correcto” jamais descansa.

Fonte: PinkNews

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