Como não estamos – TODAS e TODOS – a partilhar a indignação e raiva de Ellen Page?

A semana passada um vídeo da entrevista da atriz e ativista Ellen Page no programa de Stephen Colbert emergiu e deixou muita gente espantada com a fúria visceral e magoada por ela demonstrada. Falava-se da escalada de violência para com pessoas LGBT e nomeadamente do ataque homofóbico a um colega seu, Jussie Smollett, conhecido por interpretar uma personagem homossexual na série Empire. O ator e cantor foi alvo de violência física no primeiro mês de 2019 por dois homens com chapéus de apoio a Donald Trump (Make America Great Again) que puseram uma corda de enforcamento à volta do pescoço enquanto era chamado de “faggot Empire n***** (paneleiro preto da Empire)” e inundado com lixívia. Smollett  já veio a público dizer que não chegou a ficar hospitalizado, estava bem e que o seu “corpo é forte mas a alma é mais forte ainda“.

O ultraje de Ellen Page em relação aos ataques a pessoas LGBT é extremamente comovente e acutilante, culpando o executivo dos Estados Unidos da América, nomeadamente na pessoa do vice-presidente Mike Pence, que tem um passado de homofobia declarada, seja no apoio à terapia de conversão como na negação de direitos vários às pessoas LGBT. Ver a raiva dorida de Page fez-me pensar porque é que não estamos todas e todos assim. Porque é que deixamos seguir em frente estes relatos. Como podemos ficar indiferentes a estes e outros ataques que visam destruir a nossa identidade e ameaçam a nossa comunidade. Também no mês passado o serial killer canadiano Bruce McArthur declarou-se culpado da morte de oito homens gay em Toronto, muitos deles também pertencentes a minorias raciais. Isto para não sair da América do Norte e ir até à Tchetchénia onde o genocídio de pessoas LGBT continua. Ou tantos outros sítios.

Temos de gritar por entre as lágrimas. Temos de nos revoltar com esta escalada de violência. Não há menosprezo possível com estes ataques às nossas pessoas. Elas somos nós e nós elas. Sem separação. Temos de estar particularmente vigilantes até aqui em Portugal, onde estes ataques têm vindo também a aumentar nos últimos tempos. E ainda mais com as minorias dentro das minorias, que sofrem discriminação diária das mais variadas frentes. E não se vêem representadas em lado nenhum. Nem defendidas. Apenas humilhadas ou ignoradas. Se algum tempo houve para não baixar os braços esse tempo é agora. Chega de complacência. Porque é ela que nos mata.

Por Nuno Miguel Gonçalves

I lived once. And then I lived again.

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