Chicão, Abecasis e Bugalho: Cristas quer enviar novo preconceito para o Parlamento

Assunção Cristas apresentou algumas das novidades nas listas do CDS para a Assembleia da República, entre elas encontramos Francisco Rodrigues dos Santos, ou ‘Chicão’, como parece que também é conhecido, que considera que “o casamento é entre um homem e uma mulher”; Raquel Abecasis que apelidou a adoção de crianças por casais do mesmo sexo “uma destruição dos pilares da sociedade”; e ainda Sebastião Bugalho que julga a orientação sexual ser uma opção, dado que “as pessoas podem viver felizes heterossexualmente e depois mudarem.”

Casamento, adoção e orientação, está assim criada uma espécie de sagrada trindade do preconceito homofóbico que a líder do CDS pretende enviar para a Assembleia da República nas próximas legislativas (6 de outubro).

Francisco Rodrigues dos Santos também se diz “francamente contra a adoção por casais homossexuais”, dado que “nenhuma filiação é natural com duas pessoas do mesmo sexo. Acontece que, como já foi provado vezes sem conta, a orientação sexual dos pais e mães não influenciam a qualidade de vida e a saúde das suas crianças, ao contrário de comentários preconceituosos, obviamente, mas isso não lhe interessa nada.

Já a antiga jornalista Raquel Abecasis considerou que a aprovação da lei que permite a adoção e co-adoção por parte de casais do mesmo sexo foi feita com “ligeireza e falta de convicção” e que esta foi “trilhar um caminho errado”. Para Abecasis, com a atual lei da adoção, “estamos a destruir os pilares de uma sociedade” e a transformá-la “[n]uma outra que inverte todas as regras para justificar as opções de vida de alguns.” Como fica claro, a escolha da ideia de opção, ou escolha, não é inocente, porque, segundo esta visão, se nós quiséssemos muito, muito, seríamos diferentes, seríamos normais, seríamos heterossexuais. Seríamos, com certeza e convicção, outra coisa que não esta aberração pecadora.

Mas a ideia de escolha não se fica por aqui, pois o ex-jornalista de 23 anos, Sebastião Bugalho, numa troca de tweets entretanto apagados, também se apoia nela e não entende porque é uma expressão insultuosa: “As pessoas podem viver felizes heterossexualmente e depois mudarem. O termos ‘escolha’ não é insulto, pois implica liberdade de escolher. Quem foi casado com mulher e feliz pode mudar mais tarde.” É então este o nível simplista e negacionista do seu pensamento. Primeiro, confunde as vivências de uma pessoa com a sua identidade. Sim, há muitas pessoas gays e lésbicas que viveram relações heterossexuais, mas viveram-nas no armário e na vergonha. Não queremos pois voltar a esses tempos em que a pressão heteronormativa era – e nalguns casos ainda o é hoje – tão grande que uma pessoa preferia trair quem era. Tudo por um estatuto social. Tudo por uma moral. E isso só traz infelicidade às próprias e a quem as rodeia, mesmo que a máscara por vezes possa ser tão credível que acreditemos mesmo nela. Segundo, embora a colagem positiva da escolha à liberdade, há que entender minimamente o contexto histórico com que as palavras “escolha”, “opção” ou “preferência” foram utilizadas para atacar a população LGBTI no passado. Porque para algumas pessoas, antes e aparentemente agora também, se nos esforçarmos muito e quisermos verdadeiramente, como foi dito atrás, podemos deixar de ser aquilo que somos para elas. Porque não nos esforçamos para sermos mais assim e menos assado? Porque não nos rendemos aos seus pedidos de descrição, de bons-comportamentos? Como se não fossemos – nós e elas – tudo isso também? Porque não valerá o esforço? Porque não valerá a pena? Porquê?

Talvez todas estas dúvidas sejam precisamente sinal da resposta. Porque, lamento, por mais que nos esforcemos, com todas as nossas forças, com todas as vossas orações, continuaremos a ser. Cada vez mais com um inegável Orgulho. É por isso que esta lista apresentada pelo CDS é uma ofensa à população LGBTI portuguesa, porque poderá trazer com ela um novo e redobrado preconceito para a Assembleia da República. É assim que nos identificamos? No dia 6 de outubro, dia das eleições legislativas, teremos a oportunidade de mostrar que, independentemente das políticas económicas e sociais, não, este não pode ser o caminho para diferenciar um partido. Porque valemos, todos e todas, mais, muito mais que isso.