É a passadeira arco-íris do CDS Orgulho?

Com a proposta do CDS-PP aprovada, Lisboa vai ter passadeiras arco-íris que irão marcar o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia já no próximo dia 17 de maio. Pergunto, é a passadeira arco-íris do CDS Orgulho? Vamos por partes:

Foi ontem aprovada a proposta que Frederico Sapage Pereira e Vítor Teles, representantes do CDS-PP na Assembleia de Freguesia de Arroios, propuseram para que se assinale o dia 17 de maio “com a colocação de passadeiras arco-íris, na avenida Almirante Reis, em frente aos sinais luminosos para passagem de peões junto aos números 1 e 13”.

Lisboa irá assim juntar-te ao grupo de cidades europeias que marcam, de forma permanente ou temporárias, o Orgulho LGBTI com marcos arcos-íris nas suas ruas. Em cima, por exemplo, uma passadeira no centro de Bruxelas.

Mas há nesta proposta do CDS uma incongruência difícil de ignorar. Pelo passado, presente, mas também pelo futuro do partido. Não nos é possível esquecer que este se trata de um partido que sempre se colocou contra os direitos da população LGBTI portuguesa. Falo do casamento entre pessoas do mesmo sexo, à adoção e co-adoção por casais homossexuais e da recente lei da autodeterminação de género. O CDS posicionou-se contra estas leis. Sempre. Com excessão de alguns elementos partidário, como Adolfo Mesquita Nunes que já aqui defendi, o voto do CDS foi sempre contra a nossa existência plena. É isso Orgulho?

Acredito na mudança, porque todas as entidades, pessoais ou partidárias, podem – e devem – mudar para uma melhor versão das mesmas. Mas, para tal, é preciso dar provas de que a mudança é real. Ora, o que é esta passadeira arco-íris quando Assunção Cristas, líder do partido, apresentou para as listas partidárias para as próximas eleições legislativas nomes com visões homofóbicas e transfóbicas? É isso Orgulho?

É que o futuro do CDS, no que toca à população LGBTI e na melhor das hipóteses, parece que se vai manter, ou seja, as posições manter-se-ão baseadas em preconceitos. É isso Orgulho?

De que nos vale uma passadeira arco-íris se na base de um partido persiste a manutenção da homofobia, bifobia e transfobia? De que vale esta proposta se internamente voltam a dar passagem a ideias preconceituosas? Estamos a falar do futuro do país, do nosso futuro, da nossa representação no Parlamento, de quem nos defende a liberdade. Uma passadeira arco-íris não passa de um mero símbolo, mas a existir que seja pela razão certa, com o melhor dos simbolismos, pelos Direitos que nos levam décadas a conquistar, pela celebração de todas as nossas identidades, pela defesa das famílias. Pelo Orgulho, sim, sem ‘mas’ e sem votos contra, no passado e, muito menos, no futuro.

Atualização 02/05/2019:

Afinal não haverá nenhuma passadeira arco-íris! A presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Margarida Martins, diz que a medida aprovada “é ilegal” porque as passadeiras têm de ser brancas, justificando assim o recuo perante a proposta do CDS-PP aprovada pela própria Junta. “Não se pensou”, confessa.


Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

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