Autorização para ser mulher

Escusado será dizer que a mulher continua a não ter os mesmos direitos e privilégios que o homem tem na sociedade. É uma situação que se verifica desde o início da história do Homem, em que a mulher é sempre colocada em segundo plano e as suas tarefas limitam-se a servir o marido, cuidar dos filhos e da casa. Se atendesse a estas “virtudes” então era uma boa mulher e dona de casa. E quanto mais se recua na história, mais se observa o papel que a mulher tinha na sociedade. Até ao século XX não existia o feminismo como então o conhecemos. Porém, mulheres como Brites de Almeida, uma padeira de Faro, insurgiu-se e lutou em nobres causas no Período Medieval. Posto isto, era vista com algum desdém e recusa por parte da sociedade.

No Iémen, por exemplo, as mulheres ainda precisam de pedir autorização ao marido para saírem de casa. Essa é uma realidade que ainda permanece. Mas voltemos a focar-nos em Portugal. É certo que já nenhuma mulher precisa de pedir autorização ao marido para sair de casa, mas essa é uma visão que afetava o quotidiano das nossas avós. As mulheres só saíam para trabalhar no campo, as que necessitassem, ou então estavam sempre em casa nos afazeres domésticos. Esta não é uma realidade assim tão distante. Na atualidade, são observáveis alguns reflexos destes ideais que dominavam os tempos passados.

É com muita tristeza que testemunhei algumas situações que me deixaram a pensar que afinal não se evoluiu assim tanto nos direitos humanos e, essencialmente, no que toca à liberdade da mulher. Já vi amigas a pedir autorização aos namorados para publicar uma simples fotografia no Instagram. Alguns poderão achar que se trata apenas do respeito que deve pautar uma relação. Ainda assim, não enquadro bem estas situações nas minhas definições de liberdade e livre-arbítrio. O leitor poderá ter uma visão completamente diferente da minha. Mas, a meu ver, cada mulher é livre de publicar o que quiser, salientando ou não as suas belas curvas. Assim como é livre de sair de casa sem autorização.

Outra situação com a qual já me deparei é o facto de se achar que a gravidez é uma bênção. Perguntem, intimamente, às mulheres o que acham realmente da gravidez. Perguntem, ainda, se lidam bem com aquilo que a gravidez traz ao corpo. Assim como os caraterísticos quilos a mais, os vómitos diários, perdas de memória, etc. Certamente que nenhuma mulher dirá que odeia estar grávida, precisamente pela pressão da sociedade. No entanto, há muitas que se insurgem. Assim como a padeira de Faro. É preciso dizer o que se pensa. É preciso que mais mulheres digam que não gostam de estar grávidas e que, por vontade delas, saltavam a parte de carregar o bebé no ventre. E saliente-se que não é por isso que uma mãe ama menos os filhos!

Em suma, é de referir que a igualdade de direitos ainda não é uma realidade. A mulher, assim como muitos na comunidade LGBTQI, não ocupam posições de poder na sociedade. Portanto, o preconceito está bem firme e visível aos olhos de quem o quiser ver. Para que acabe, é preciso que se deixe de pedir autorização. De se ser mais extravagante, de arriscar, de se aventurar. De não se ter medo de quem se é. Ser mulher ou ser pessoa LGBTQI é ser-se feliz, aceitando que se é diferente da norma e, por isso, especial, mas também com a responsabilidade de olhar para o lado, de olhar pelo próximo. E, assim, intervir para que ninguém tenha de pedir autorização para fazer o que se quer.


One comment

  1. Conheci este blog, hoje, pela manhã…Ah! não! afinal foi ontem porque já é 1h.30 do dia 8. Bom mas já estou a ficar enjoada, a sentir asco, aversão, repugnância por tanto disparate, tanto absurdo e tanta mentira que vejo, por aqui. Não me identifico absolutamente nada com esta pantomina. Como diz o brasileiro, estou fora. Fuiiiiiiii…

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