Brinquedos de menina e de menino: Fará sentido?

A nossa sociedade tem o estranho hábito de nos ensinar o que devemos ser, como devemos estar ou como devemos agir. No entanto, esqueceu-se do que é mais importante: o que devemos sentir. Desde que nascemos, somos desde logo motivadxs, consoante o nosso sexo, a vestir uma determinada roupa: “azul para os meninos, rosa para as meninas”. O tempo passa. Nós crescemos conforme este conjunto de “regras” e assimilamo-las, mesmo que de forma involuntária. Porquê? Porque as crianças durante o seu processo de crescimento, tendencialmente definem um adulto como o seu modelo, seguindo as suas atitudes, os seus hábitos, os seus comportamentos. As crianças são levadas a acreditar que não existem opções de escolha, quando os seus educadores ou progenitores as privam de uma diversidade imensa relativa a brinquedos, à roupa, aos livros, entre outros.

Decidi escrever este artigo, devido a uma situação que presenciei. Quando estava de férias desloquei-me a uma daquelas lojas de comércio tradicional para comprar uma lembrança, tudo estava a correr bem, quando olho para o meu lado esquerdo e deparo-me com uma criança, com cerca de 5 anos, aparentemente do sexo masculino, a querer levar para casa um brinquedo da Pequena Sereia. Para mim algo normal, uma criança a querer levar um brinquedo para brincar. Eis, que me deparo com uma senhora, presumi que fosse a sua mãe, apesar de não o poder dar como garantido, a dizer à criança: “esse brinquedo não podes levar, olha esta bola”, enquanto a criança olhava atentamente para o brinquedo da Pequena Sereia. A senhora continuava — “olha aqui estas ferramentas. Esse não, esse não podes levar”, tirando o brinquedo da mão da criança. 

Reflito momentos mais tarde, já no meu quarto de hotel, se é justo para uma criança ser privada de brincar com um brinquedo por ser considerado de “menina”. O que é um brinquedo de menina e um brinquedo menino? Afinal de contas são ambos brinquedos. Porquê colocar as palavras “de menino” ou “de menina” à frente de brinquedo? Mesmo que não seja perceptível, ao fazer esta distinção está a dizer à criança que existe um determinado conjunto de brinquedos para si e que os outros não são adequados, fundamentando-se no sexo da criança. Isto, pode parecer que não tem impacto, no entanto, tem. Ao educarmos as crianças desta forma, estamos a limitá-las, quando poderiam simplesmente brincar sem este tipo de “regras”. Os brinquedos não podem ser escolhidos conforme o sexo das crianças. Aliás, essa distinção nem sequer faz sentido. Uma criança do sexo feminino pode brincar com uma bola e uma criança do sexo masculino pode brincar com bonecas, porque são ambos brinquedos e é isso que deve ser considerado. 

Fonte: Imagem.


4 comentários

  1. A Suposta “Mãe” da criança, em questão…e eu já passo a “esQrever esta palavra com erro ortográfico” a palavra MÃE com Maiúscula, tem o grave dever nas suas mãos de educar os filhos como ela acredita que deve ser. Esta GRANDE Mãe, dá ao filho o melhor que ela tem que são os seus valores.
    Com certeza ela também não deixaria levar algo que fosse muito caro ou que, por diversos motivos não achasse próprio para o filho, tal como uma guloseima que lhe provocaria problemas de saúde. Provavelmente também lhe transmite as suas convicções religiosas, como outra dimensão que vai ajudar o filho a viver melhor, sei lá?! talvez?!
    A Carolina ao comentar a decisão da Mãe é que ficou a magicar e a julgar a ordem da (talvez) Encarregada de Educação da Criança. Se a Mãe entendeu que o filho não levava uma boneca, porque é isso que ela acredita, ninguém…mas ninguém a pode julgar por esse motivo.
    São artigos como este que nos mostram que, afinal não existe a tão apregoada “liberdade” para os pais educarem os seus filhos, porque estará ao lado alguém, de “olhómetro” que vai querer ditar as regras…ou no mínimo dizer que “ai e tal, porque não devia, porque está errada blá,blá, blá”.
    Não são os pais que pagam bem caro pela Educação dos filhos?! Então deixe a senhora em paz e não venha com essas supostas “liberdades” defender os “orgulhos”. Provavelmente essa Mãe já vai levar o rótulo de “homofóbica”, será?! Ou será que ela, (independentemente de julgamentos à posteriori), quer o melhor para o filho, isto é que ele seja HOMEM?! Cada um tem liberdade ou não?!

    1. Cara Maria.
      Compreendo a sua opinião e respeito. Contudo , permita-me discordar de si, por inúmeros motivos.
      Quando uma mãe tem um filho, cria inúmeras expectativas para ele. Deseja-lhe um futuro promissor, sem dificuldades, dentro de padrões pré-estabelecidos na sua cabeça. A Maria invoca que a educação que a mãe dá ao seu filho não é aberta a discussão, sob o princípio de que esta faz o melhor para o seu filho. Porém, poderá estar a esquecer-se que a educadora não é imune a erros, erros esses que, eventualmente, moldam personalidades e deixam marcas , numa altura crítica da vida da criança. Que diria a uma mãe que ensina o filho a roubar, dado que não arranja uma outra forma de subsistir? Que diria a uma mãe que ensina o filho a não respeitar os outros e as suas diferenças ? Que dirá a uma mãe que não se importa se o filho estuda ou não , que não lhe dá acesso à cultura ?
      Por algum motivo, existe uma serviço de apoio à criança, para proteger crianças de situações de risco.
      Obviamente , que a situação retratada no artigo, não é de uma gravidade tão séria, nem pōe em risco a vida da criança. De facto, o que é colocado em risco é a sua estabilidade emocional e a aceitação das suas características.
      Empiricamente é possível perceber que uma pessoa cuja mãe e familiares rejeitam, terá tendência a manifestar falta de confiança e estados depressivos. Sofre duplamente, pela desaprovação da sociedade e pela desaprovação da própria família .
      A mãe tem expectativas para o filho , mas não deve valorizá-las ao ponto de causar sofrimento ao filho , mesmo que não seja essa a sua intenção. E, é essa a reflexão aqui.
      Outro assunto interessante é a resposta à pergunta : O que é ser homem? E Já agora , o que é ser mulher ? Porquê que é necessário criar uma dicotomia sobre uma imensidão de características de personalidade que estão presentes nos dois gêneros. Embora, muitas vezes seja possível encontrar características mais frequentes num gênero ou noutro, a assunção exclusiva de características a um determinado género é negativa e conduz a dogmas sobre pessoas com características mais associadas ao sexo oposto. O que é preciso fazer, de facto , é acabar com esta dicotomia e permitir a expressão de características de personalidade livremente, deixando cada pessoa viver como quer.
      Por isso, Maria , sim, devemos apontar o dedo à mãe e fazê-la perceber que o filho dela não tem nada de errado . O preconceito das mães começa com o preconceito social, e ambos têm de ser combatidos.
      No dia em que as mães não virem os seus filhos a ser olhados de lado por serem diferentes , também não os verão como diferentes. E está mudança começa com coisas simples. Como a unisexualizacao de brinquedos e o desuso de expressões como brinquedos de menina e de menino.

  2. Caro David Lourenço, muito obrigada pela sua amabilidade e educação. Mas acredite, em mim, por favor, não sou uma pessoa preconceituosa, muito menos homofóbica. Estou a chamar a atenção, antecipadamente por receio que me julguem e me apontem como tal…peço perdão por isso…É que já levei com tantos “títulos”…
    Estamos a falar de valores Universais, como ser Homem e ser Mulher, muito simples, não compliquem. Isto para não falar de valores cristãos, porque esse tema exige muito mais profundidade!! Há muitos carismas diferentes e sentimentos divergentes, é certo, mas géneros, apenas dois: masculino e feminino, quer queiramos quer não. Pode ser tremendamente difícil para certas pessoas aceitarem…mas vai fazer o quê?! Vai mudar?! Para quê?! Depois passa a ser o quê?! Ninguém escolhe o sexo, à nascença, assim como não escolhemos os nossos pais e irmãos, nascer ricos ou pobres…Contra factos não há argumentos…Há aspectos que podem ser alterados ou melhorados, outros não. O sexo é daquelas coisas que ou é ou não é…não há meios termos…A nossa sexualidade é sagrada, por isso deve ser protegida, respeitada e, sobretudo, nunca exposta desnecessariamente…
    Neste caso particular do brinquedo, até nem é muito complicado, pois conheço meninos, da minha idade que brincavam com bonecas, na infância, e hoje têm uma família tradicional, sem qualquer problema de identidade…No entanto, esta mãe, em particular não cometeu nenhum sacrilégio, a ponto de “lhe apontarmos o dedo”. Penso que estamos a discutir o “sexo dos anjos” e não vamos chegar a acordo nenhum.

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