Rui Rio junta-se à bolsonarização da Direita

Abel Matos Santos lidera há alguns anos um movimento especialmente conservador no CDSPP. A própria Assunção Cristas legitimou vários nomes problemáticos para integrarem as suas listas partidárias. Um grupo de 85 deputados e deputadas do CDS e PSD entregou no Tribunal Constitucional um pedido de fiscalização da norma que determina a adoção de medidas no sistema educativo português sobre a identidade de género. E agora, depois de Laurinda Alves, jornalista, ter publicado um inenarrável artigo de opinião, foi a vez da Juventude Popular pegar no tema e lançá-lo para a discussão pública através do mais puro preconceito e da demagogia bacoca contra o despacho que dá ferramentas e orientações às escolas portuguesas para, em conjunto com as famílias, respeitarem e defenderem as crianças e jovens trans e intersexo. Como se não bastasse, junta-se agora a este circo o PSD através de Rui Rio.

Que fique claro, este despacho existe como forma de fazer cumprir a lei da autodeterminação de género e como ferramenta contra o bullying e a violência de género nas escolas portuguesas.

O líder do PSD, ao colar-se às ideias transfóbicas partilhadas pela Laurinda Alves e de Francisco Rodrigues dos Santos, está assim a remeter o centro-direita para um palco político que se aproxima cada vez mais da estratégia de Bolsonaro onde a desinformação e a demagogia imperam perante os direitos de toda a população e de todas as suas realidades. Junta-se assim o segundo partido português a uma linguagem de vale-tudo, de desrespeito ao que pessoal educativo nacional – como a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, mas também entidades internacionais como o Conselho da Europa ou a UNESCO – aconselha para uma saudável (con)vivência de crianças e jovens trans e intersexo em ambiente escolar.

Tanto o PSD como o CDS mostram-se assim incapacitados de alterar a sua retórica que, historicamente, tem servido de resistência aos avanços dos direitos LGBTI em Portugal. Porque continuo a acreditar que a defesa dos direitos humanos, e em particular os das pessoas LGBTI, não é incompatível com um posicionamento político mais à direita. Mas estes rumos políticos lançam uma discussão absolutamente demagógica e perigosa para o bem-estar destas crianças que, relembro, são logo à partida, um dos grupos mais fragilizados da sociedade simplesmente por serem quem são.

Nas eleições legislativas importa deixar claro que este não é, nem pode ser, o caminho para qualquer partido que se ache digno que nos represente no Parlamento. Porque a transfobia mata e não deve, portanto, servir como arremesso político. CDS e PSD atacam hoje a identidade de crianças, remetendo-as a meros peões de uma campanha política que só agora está a começar. O desespero é palpável e torço que paguem caro nas eleições legislativas, pela vergonha que estão a ser e pelo péssimo exemplo que estão a dar a todas estas crianças e famílias.