
“Com toda a franqueza, eu acho que isto não interessa às pessoas.”
Assunção Cristas esteve ontem na SIC num debate com Rui Rio a preparar terreno para a campanha para as eleições legislativas no próximo dia 6 de outubro. A jornalista que moderava o debate, Clara de Sousa, a certo ponto questiona a líder do CDS sobre a polémica criada pela Juventude Popular em torno da proteção das crianças LGBTI nas escolas portuguesas, nomeadamente das trans e intersexo, na chamada lei da autodeterminação de género. Eis um revelador excerto:
Clara de Sousa: Disse que não se revê no ruído criado pelo Governo por causa do despacho da identidade de género nas escolas. O que eu ainda não percebi é se se revê no ruído criado pelo líder da Juventude Popular?
Assunção Cristas: Com toda a franqueza, eu acho que isto não interessa às pessoas.
Clara de Sousa: É importante percebermos se a líder do CDS aceita que o líder da juventude do seu partido trunque um texto para o fazer soar da maneira que ele acha que deve ser.
Assunção Cristas: Essa questão não é relevante neste momento.
Importa referir que o ruído referido foi efetivamente criado por 85 deputados e deputadas do PSD e do CDS quando entregaram no Tribunal Constitucional um pedido de fiscalização da norma que determina a adoção de medidas no sistema educativo português sobre a identidade de género. Gesto este que foi depois acompanhado por uma campanha da Juventude Popular contra uma alegada ideologia de género, liderada por Francisco Rodrigues dos Santos.
Dada a não-resposta de Assunção Cristas, importa relembrar os dados do Estudo Nacional sobre o Ambiente Escolar (ENAE), publicados em 2017:
[A]s escolas são, para muitos/as jovens LGBTI+, um ambiente de insegurança e desconforto, onde o insulto e outras atitudes negativas são frequentes.
» 36,8% sentem insegurança por causa da sua orientação sexual e 27,9% por causa da sua expressão de género
» Cerca de 75% evita frequentar espaços como os balneários, casas de banho ou aulas de educação física, por insegurança ou desconforto (33,6%, 25,5% e 22,2%, respetivamente). Áreas como recintos desportivos (14,2%) ou a cantina ou bar da escola (13,3%) são também evitadas.
» Pelo menos 15,4% faltou às aulas no último mês por sentir insegurança ou desconforto.
Por isso, sim, a proteção das crianças LGBTI nas escolas portuguesas deve ser tratada com relevância e não com o desprezo que a líder do CDS, em pleno horário nobre, mostrou contra estas crianças e respetivas famílias. Assunção Cristas volta assim a mostrar uma liderança enfraquecida, onde não foi capaz de mostrar, mais uma vez, a sua posição de forma clara e fugindo ao assunto. Do desespero e do nojo não escapará certamente.
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