A chapada de amor-próprio de Lizzo

Seja na rádio, numa loja de roupa ou numa aula de zumba, ninguém deixará certamente 2019 sem ter ouvido falar de Lizzo, a artista pop de 31 anos que ensinou o mundo a amar-se a si mesmo, uma mensagem marcante em 2019 e que é bem-vinda para os anos vindouros.

Capa do mais recente álbum de Lizzo, Cuz I Love You (2019)

A artista negra, natural de Detroit (EUA), esteve presente este ano na tabela Hot 100 da Billboard durante 33 semanas com o seu single lançado em 2017, Truth Hurts. Em setembro atingiu o topo, ficando sete semanas nesta posição. Partilha agora com Iggy Azalea o título de rapper feminina que mais tempo esteve no topo da tabela da Billboard.

Embora apenas tenha alcançado os grandes palcos este ano, Lizzo não é nova no mundo da música, nem das artes. A rapper conta já com três álbuns, um EP e diversas presenças no grande ecrã. Para além dos seus incríveis dotes vocais, Lizzo compõe, é flautista transversal desde a sua adolescência e uma ativa dançarina, especialmente na modalidade de twerk, talentos estes que acompanham infalivelmente as suas atuações.

Contudo, o que destacou Lizzo em 2019 foi a irrepreensível mensagem presente na sua lírica. Um grito de amor-próprio. De priorizar o eu. De amar-nos, gostar de quem somos e do nosso corpo. Explorá-lo e não ter vergonha de o fazer. Reconhecer as nossas falhas. Defeitos. E a independência e liberdade que deve ser inerente à nossa singela existência. Esta mensagem ecoa pelos seus álbuns, músicas e voz. A importância de sermos felizes com quem somos.

Apesar dos aplausos à coragem de Lizzo sobre o afinco no seu discurso de “body-positivity”, esta é uma mensagem que a cantora carrega há largos anos, mas que nunca foi reconhecida. A rapper conta que antes do paradigma vivido em 2019, o público ficava chocado e impressionado, duvidoso por vezes, das suas músicas e de todo o amor que tinha por si mesma.

Agora, os temas dessas mesmas músicas são vistos como pioneiros de uma onda de reconhecimento, respeito e amor pelo nosso corpo (e obviamente, pela nossa mente). Sobre isto, Lizzo acrescenta ainda que nunca existiu o termo “body-negativity” pois essa é a norma imposta pela sociedade. Norma essa que pretende quebrar.

« I’m tired of the bullsh*t. And I don’t have to know your story to know you’re tired of the bullsh*t too.

It’s so hard to love yourself in a world that doesn’t love you back, am I right?

So I wanna take this opportunity right now to just feel good as hell. Because you deserve to feel good as hell. »

Discurso de Lizzo durante a sua atuação nos VMA 2019

O grito de Lizzo não fica por aqui. Para além do seu self-love, a artista eleva ainda a sua força devida enquanto mulher, nenhuma oportunidade está fora do seu alcance, com ou sem precedentes, está cá para quebrar barreiras e desigualdades. Toda esta energia é acompanhada por um estilo musical pop, hip-hop, soul e R&B, uma música alegre, também com as suas baladas emotivas, mas sempre acompanhada de um sentimento, de um sorriso e de uma garra potente.

Este hino de Lizzo advém de todas as adversidades que enfrentou ao longo da sua vida, da sua adolescência e da sua carreira: como afirma com orgulho e sem vergonha, a cantora é uma “mulher negra e gorda”. Considera que demorou a arrancar nos grandes palcos devido aos preconceitos existentes na sociedade e na indústria musical. Apesar de sempre reconhecerem o seu indubitável talento, poucos eram os que investiam na sua carreira. Tendo agora o mundo a ouvi-la, Lizzo luta e grita por tod@s @s que enfrentam estas dificuldades.

A cantora fala livremente e sem pudores, e na sua mensagem não hesita em falar da temática LGBTI+ e questões de identidade de género. Lizzo afirma que não se consegue inserir num só rótulo, que a sexualidade é um espectro e que a sociedade continua a querer ver tudo a preto e branco. Para além da óbvia mensagem de amar-nos como quem somos, o seu apoio à comunidade queer é também manifestado na sua música. Tome-se como exemplo a sua atuação no Pride de Nova Iorque em 2018, ou os seus temas “Boys” – no qual aclama gostar de todo o tipo de rapazes, com todas as suas características, qualidades e imperfeições, incluindo gays -, e “Like a girl”, onde em toda a sua garra feminista, acrescenta ainda que “se te sentes como uma mulher, então és real como uma mulher”.

Sem dúvida que Lizzo é uma das sensações de 2019, trazendo consigo uma lufada de ar fresco ao mundo da música, bem como uma mensagem a ser aplicada por todos nós. Convido tod@s @s leitor@s a descobrirem Lizzo, pela sua música, pela sua mensagem e claro, pela sua divertidíssima personalidade.

“Lizzo describes how her music is informed by gospel and her band nerd past, how she was encouraged by her father to make music and her views on body positivity.”

Fontes: TeenVogue, Billboard, Spotify, Entertainment City


Lizzo esteve em destaque no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈, oiçam: