Alpha: “A arte tem este poder incrível de mudar mentalidades e dar voz a quem é silenciado.”

Natural de Vila Nova de Famalicão, Alpha é um jovem rapper português que promete oferecer uma nova visão do rap português numa fusão de estilos como o Hip Hop e o Hip House. Queer, feminista, explora sonoridades experimentais com letras afiadas, não deixando margem para dúvidas sobre aquilo que defende, acredita e, na realidade, é.

No momento em que lançou novo single, o viciante “O que eu quero”, estivemos à conversa com o artista multifacetado, vale a pena conhecer:

“O que eu quero” traz-nos uma mensagem poderosa de liberdade e, mais que isso até, de como a nossa própria libertação é um processo de empoderamento em si. Como defines a tua mensagem e o teu som?

É difícil definir o meu som e as mensagens que tento passar. A minha música é o reflexo da minha alma, e escrever música é uma necessidade que eu sinto para exprimir algo. No processo criativo sou influenciado pelas culturas que vou conhecendo, os estilos, sentimentos, estados de espírito, perspetivas entre outras.

De uma forma muito espontânea poderão ver-me fazer hoje uma música sobre o estado atual do nosso país, num beat frenético de EDM, como no dia seguinte criar um som mais tranquilo, inspirado, por exemplo, no fado.

De mim poderão esperar apenas o inesperado.

O rap e o hip hop historicamente têm tido uma mensagem fortíssima a nível político e social. Serão estilos, por definição, contra-sistema, contra opressão e, ainda que possa ter havido alguma diluição dessa mensagem nos últimos anos, que importância vês na exploração, sem medos, dessa ideia original na tua música?

A música foi sempre uma forma de exprimir mensagens políticas e sociais. Penso que o Rap é apenas a forma mais atual de transmitir essas mensagens, assim como foi, por exemplo, a “Portuguesa” (hino nacional), há uns anos. A utilização da música como um instrumento de sensibilização e de união está presente na história e é, na minha opinião, vital.

A arte tem, do meu ponto de vista, este poder incrível de mudar mentalidades e dar voz aos que são silenciados. Porque todos merecemos uma voz desde que com ela não ofendamos o próximo (como diz a celebre frase: “A liberdade de um indivíduo acaba quando começa a de outro”).

Na minha música, poderão esperar com certeza a reflexão das minhas opiniões, por mais que estas possam deixar certas pessoas “desconfortáveis”. A prova disso está em alguns dos trabalhos que já lancei como, por exemplo, a minha música “P.U.T.A.”, presente no EP “Dark Arts”.

Que influências podemos encontrar no trabalho que te sejam especiais?

No meu trabalho, poderão encontrar inúmeras influências, uma vez que, para compor eu inspiro-me no que me rodeia. Contudo, tenho algumas influências mais marcantes que baseiam melhor o meu trabalho num cenário mais geral.

Em relação a culturas, sou apaixonado pela cultura LGBT, particularmente pelas Ballrooms, tendo uma aproximação ao Vogue e Waacking (sendo eu também bailarino de competição de danças urbanas apresento um reportório de vários estilos, contudo, estes são os que mais me fascinam e à semelhança da música aqueles por onde eu me consigo exprimir melhor).

Quanto a artistas é difícil selecionar apenas alguns, mas penso que Nicki Minaj, Lady Gaga, Todrick Hall, Gloria Groove, Charli XCX e mais recentemente Doja Cat têm sido algumas das influências que mais têm servido de inspiração para o meu trabalho. Contudo, eu estou constantemente a explorar novos artistas e novas formas de fazer música, e por isso vou buscar ideias a muitas fontes diferentes.

Depois do EP “Dark Arts” e de um primeiro concerto, surge este novo e apurado single, “O que eu quero”. Como tem sido a experiência neste novo desafio?

Este single foi um “game changer” para mim, ou pelo menos um “level up”. A evolução em relação a projetos anteriores é evidente e foi notada tanto por mim como pelas pessoas que seguem o meu trabalho.

As críticas têm sido excelentes e eu não podia estar mais feliz, embora saiba que ainda tenho muito espaço para evoluir e muitas coisas para aprender. Gosto imenso desta proximidade e da partilha do que faço com quem me segue, pois poderão presenciar o meu crescimento como rapper, produtor, e até bailarino.

A minha mente está focada no futuro, quero alcançar novas metas e manter esta evolução. Estou constantemente a trabalhar em novos projetos que prometem ser, na falta de uma palavra melhor, inovadores. Vou mostrar que há ainda muito espaço para criar neste mundo e na minha mente.

Por fim, queria agradecer à esQrever pelo convite para esta entrevista que julgo ter sido muito útil para chegar mais perto do meu público, não apenas para dar a conhecer a minha música mas para falar um pouco mais sobre mim.


Poderão encontrar Alpha nas várias plataformas de streaming e vídeo, segui-lo no Instagram e ver o vídeo do single “O que eu quero” de seguida, não percam!

Uso o que quero quando quero e onde quero
A tua opinião para mim vale menos que zero
Vá lá chegou à altura de por fim tu seres sincero
Criticas mas tu queres isto é caso de adultério
Eu uso o que eu quero quando eu quero e onde eu quero
Transito entre estilos porque roupa não tem género
E não importa se tu achas que eu exagero
Porque afinal de contas palhaços eu não venero

Letra : Tiago Lobo aka Alpha

Alpha e o seu novo single foram destaques no Podcast Dar Voz A esQrever, oiçam: