Croácia: Festejos de Carnaval queimam bonecos de família arco-íris

Após o veredicto que permitiu a possibilidade de casais do mesmo sexo adotar, a Croácia viu este Carnaval a queima de bonecos que representam uma família arco-íris.

A imagem do casal gay que se beijava e carregava uma criança foi queimado em praça pública e cercado por um grande número de pessoas, crianças incluídas, que se manifestaram com aplausos e risos.

Tradicionalmente, um político não amado, é carregado pelas ruas e depois queimado. Este ano a organização considerou o avanço na lei da adoção uma “cultura da morte“. E, como tal, anunciou que iriam “incendiar esta família grotesca“, dado que, segundo convidado da cerimónia, “é algo anormal para nós“. A Organização do Carnaval reiterou: “Continuamos conservadores e mantemos a tradição. Dê uma criança à sua mãe, como diz o ditado. Achamos que é a coisa certa.

Enquanto os bonecos dos dois homens usavam lenços arco-íris e jóias, a criança mostrava o rosto do deputado social-democrata Nenad Stazic que fez campanha pela legalização da adoção por parte de casais do mesmo sexo. O casal gay já havia sido puxado pelas ruas durante a procissão do carnaval, acompanhado por grupo de crianças e jovens.

Por fim, foi ateado fogo a esta representação de uma família (vídeo abaixo), num momento já apelidado de “desfile doente de violência“.

Se em Portugal vivemos ainda um Carnaval que permite crianças serem “mascaradas” de escravas, a verdade é que este é um caso de homofobia descarada, contra a população LGBTI croata e, em especial, as suas famílias e crianças arco-íris. O Carnaval pode servir para criticar e satirizar o status quo, mas quando este é mera ferramenta de perpetuar ódios (pré)históricos, fica aquém de um momento de celebração e liberdade. Este foi, pois, um Carnaval homofóbico e infeliz.


A notícia esteve em destaque no Podcast Dar Voz A esQrever:

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

3 comentários

  1. aquaze – Alguns livros ficcionais publicados, o último dos quais, "Reencontro", em 2009. A viver em Lisboa e escrevendo ora centradamente ora dispersamente.
    aquaze diz:

    “Continuamos conservadores e mantemos a tradição”: manifesto de uma incompreensão do movimento da vida e consequente limitação dos horizontes. A educação (familiar e escolar) tradicional funda-se no medo (ao percebido como “outro”) e subsequente construção do ódio irracional.

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