Drag Shows ao Vivo (e em Quarentena)

A arte do drag ocupa um lugar muito especial no coração da comunidade LGBTI. Se ainda estamos a lutar por representação de todas as letras nos programas televisivos mais mainstream, a realidade é que os espetáculos de drag sempre foram lugares seguros em que artistas podem ser quem são e também o o público que os vê consegue encontrar um caminho para a emancipação e aceitar que ninguém é só uma coisa e que o género é um construto social pelo qual, enquanto comunidade minoritária e muitas vezes ostracizada, não temos de nos guiar.

Por isso, nestes tempos aparentemente intermináveis de pandemia, é difícil encontrar esse escape de ir a um drag show e não nos preocuparmos com julgamentos sociais, discriminações quotidianas, ou pressões de binarismo bacoco. Mas há uma alternativa: se há alguém astuto neste mundo são as drag queens, que durante décadas foram (e continuam a ser) consideradas bastiões da nossa comunidade. E eis que surge o drag online. De várias formas e feitios as drag queens, cujo ganha-pão se resume a bares e clubes e salas de espetáculo, têm vindo a tentar reencontrar o seu público online e já deram origem a centenas de transmissões online individuais com o intuito mostrar o seu drag enquanto se encorajam algumas gorjetas. Tip that coin henny.

Duas iniciativas em particular, vindas dos Estados Unidos, têm vindo a ganhar muito público online. A primeira de todas foi promovida por Biqtch Puddin‘, queen vencedora da segunda temporada de Dragula dos Boulet Brothers, que todas as sextas no canal de streaming Twitch tem feito a curadoria de dezenas de performances de drag queens, mais ou menos conhecidas com o objetivo de ajudar a comunidade a manter-se à tona. O último contou com nomes como Crystal Methyd, Landon Cider, Chad Michaels, entre muitos outros. É a uma hora pouco simpática para Europeus (3h da manhã hora portuguesa), mas pode ser visto no dia a seguir. Ou acompanhado com álcool e bolachas em direto.

Direto e ao vivo é a premissa de Digital Drag Fest da PEG Entertainment na plataforma StageIt. Aqui, pela “módica” quantia de 100 notas (à volta de 10 dólares ou 9 euros por espetáculo), podem ver-se dezenas de espetáculos diários feitos pelas drag queens nas suas próprias casas. E todas as vossas favoritas de Drag Race – e, felizmente, não só – estão lá a fazer a sua versão caseira das apresentações ao vivo. Vejam a listagem, porque é de facto impressionante. Comecei por ver uma apresentação mais modesta de Manila Luzon e do marido gostoso no armário gigante de drag da artista, mas os mais memoráveis foram espetáculos completos de BenDeLaCreme e Bob The Drag Queen que conseguiram montar shows de comédia e performances com live vocals ou lipsync, respectivamente, que valeram cada nota paga. Era um evento mais curto mas afinal vai acontecer, pelo menos, até ao final do mês de Abril.


Os drag shows ao vivo estiveram em discussão no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈, oiçam:


E o RuPaul’s Drag Race continua no ar com a sua décima segunda temporada, que apesar do escândalo Sherry Pie – que foi desmascarada por catphishing extremo e assédio virtual – tem sido uma temporada muito forte com uma grande infusão de novo talento. E não estou só a falar da Gigi Goode. Apesar de, pronto, ela já ter a coroa na cabeça, não é verdade? E parece que vem aí uma edição surpresa de Drag Race com celebridades, mas ainda está tudo em segredo.

Um pequeno vislumbre de alegria e jubilo nestes tempos difíceis. Aconselho a procurarem as vossas queens favoritas no #DigitalDragFest e a experimentarem, têm transformado as minhas noites solitárias numa experiência simultaneamente partilhada e exclusiva, dado que tem sempre um número bastante limitado de presenças. Acima de tudo, não se esqueçam também de apoiar as vossas queens locais, que costumavam ver semanalmente no vosso bar de eleição. Por isso vão ao Instagram ou Twitter ou YouTube e dêem vosso apoio. Vamos ultrapassar isto juntas e juntos. E vemo-nos em breve ao vivo.


Por Nuno Miguel Gonçalves

I lived once. And then I lived again.

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