J.K. Rowling, a TERF transfóbica de serviço, contra-ataca

Numa altura em que estamos a tentar amplificar as vozes de pessoas negras com o movimento #BlackLivesMatter, incluindo pessoas trans e especificamente mulheres negras trans – que continuam a ser a faixa da nossa comunidade mais afectada por ataques de ódio, J.K. Rowling, a autora britânica da saga Harry Potter, decidiu invadir o Twitter com uma série de tweets indiretamente e diretamente transfóbicos. Já não é a primeira vez que J.K. Rowling deixa revelar publicamente os seus valores de TERF – Feminista Radical Trans-Exclusionária. Mas no Sábado decidiu comentar um artigo de opinião que abordava a criação de um mundo pós-COVID mais justo para pessoas com menstruação com “People who menstruate.’ I’m sure there used to be a word for those people. Someone help me out. Wumben? Wimpund? Woomud?“.

Imediatamente atacada no Twitter ripostou que “If sex isn’t real, there’s no same-sex attraction. If sex isn’t real, the lived reality of women globally is erased. I know and love trans people, but erasing the concept of sex removes the ability of many to meaningfully discuss their lives. It isn’t hate to speak the truth. Continuou esta verborreia com o reforço que não odeia pessoas trans e que sempre as apoiou mas que a experiência dela enquanto mulher não deixa de ser válida. Ou seja, respeita as pessoas diferentes dela mas nada é mais importante que a luta dela. Com toda a certeza que na sua vida, numa sociedade dolorosamente patriarcal, foi diariamente odiada e menosprezada pelo mero fato de ser mulher. Como é agora capaz ela de refletir esse ódio junto de pessoas que sofrem de igual (ou pior) forma?


J.K. Rowling deve ter aberto uma garrafa de vinho barato e teve duas horas a mandar bílis para o Twitter” – Nuno Gonçalves.

Os comentários transfóbicos de J.K. Rowling estiveram em discussão no Podcast Dar Voz A esQrever 🎙🏳️‍🌈, oiçam:


Por isso, de uma vez por todas… J.K. Rowling, mete o teu “respeito e amor” pela comunidade LGBTI no cu e deixa-os rebentar que nem um horcrux. Não precisamos da tua simpatia e das tuas palavras ocas de solidariedade, especialmente quando elas só aparecem como factor de apaziguamento. Não precisamos que conjures do éter personagens gay como Dumbledore porque te calha bem no goto. Não precisamos do teu ofendido apoio a pessoas trans que consideras derradeiramente inferiores a ti. Não precisamos de ter a tua bílis de 280 caracteres enfiada pelas nossas gargantas na forma de opinião válida de uma feminista arcaica. Volta para o covil escuro de onde vieste e escreve para as pessoas como tu que tentam impedir a presença de mulheres trans nas paradas de Orgulho. A realidade é que a mediocridade vem sempre ao de cima e a tua começou com o primeiro capítulo de Harry Potter e a Pedra Filosofal.

Atualização 11 de junho 2020:

Rowling reagiu ao backlash e, após reações de várias pessoas ligadas à saga Harry Potter, como Daniel Radcliffe, insistiu que pretendia uma discussão subtil sobre o assunto, mas, no final, as suas preocupações pareciam resumir-se às casas de banho. Qual deputado Bruno Vitorino!

Entre as alegações de Rowling estava a afirmação de que uma mulher trans levaria, de alguma forma, a insegurança em lugares como casas de banho ou vestiários.

Não há evidências de que pessoas trans que usam as devidas casas de banho, ou seja, as que correspondem ao seu género, coloquem alguém em perigo. Pelo contrário, estudos mostram que as pessoas trans relatam sofrer assédio, agressão e ter acesso negado ao tentar usaresses espaços. E, sei lá, são um dos grupos historicamente mais perseguidos por ódio e preconceito. Não, o problema não são as mulheres trans, mas quem insiste em as estigmatizar.