O Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer – neste ano atípico, assume o seu formato presencial, celebrando a ideia de comunidade e socialização, dentro das necessárias restrições. Através de um conjunto de termos-chave transversais às muitas expressões da cultura queer, como o são o Cruising, Sex, Bodies, Play, Skin e Memory, o festival celebra o corpo e a sua diversidade sexual – o que estes termos nos ensinam sobre a influência dos nossos contextos vivenciais e sociais, e dos lugares que habitamos, na construção das nossas identidades voláteis. Celebra-se a importância da nossa presença, luta e transgressão, na apropriação e subjectivização dos espaços físicos e mentais que nos rodeiam. Com os muitos filmes que compõem as diferentes secções competitivas, reforçado por um conjunto de sessões especiais e de conversas, debates e performances, reivindica o toque e o olhar, a entrega e o deslumbramento, e um conjunto de experiências que lhe atravessa o corpo e que enaltecem as suas complexidades.
O Festival revelou em comunicado que o Filme de Abertura será Los Fuertes, de Omar Zúñiga, sendo o Filme de Encerramento Petite Fille, de Sébastien Lifshitz, estreado na 70ª edição da Berlinale.
Como é habitual, um total de oito filmes fazem parte da Competição para Melhor Longa-Metragem: El Cazador, de Marco Berger; El Príncipe, de Sebastián Muñoz, vencedor do Queer Lion na edição de 2019 do Festival de Cinema de Veneza; Las Mil y Una, da argentina Clarisa Navas; Lingua Franca, de Isabel Sandoval, com um largo percurso em festivais internacionais; Make Up, forte longa-metragem de estreia de Claire Oakley; Neubau, de Johannes Maria Schmit, vencedor do Max Ophüls Prize 2020; No Hard Feelings, de Faraz Shariat, filme sensação da última Berlinale (onde conquistou o prémio Teddy de Melhor Longa-metragem); e, por fim, Vento Seco, de Daniel Nolasco.
Da Competição de Documentários também fazem parte oito títulos: All We’ve Got, de Alexis Clements; La Casa dell’Amore, de Luca Ferri; Miserere, de Francisco Ríos Flores; Queer Genius, de Chet Catherine Pancake; The Art of Fallism, de Aslaug Aarsæther e Gunnbjørg Gunnarsdóttir; Toutes les Vies de Kojin, de Diako Yazdani; Vil, Má, de Gustavo Vinagre; e Welcome to Chechnya, de David France.
O programa da Competição Queer Art é composto igualmente por oito títulos: Ask Any Buddy, de Evan Purchell; Comets, de Tamar Shavgulidze; Hiding in the Lights, da artista visual Katrina Daschner, que regressa ao Festival ao igual que Mike Hoolboom, este último com Judy versus Capitalism; Les Nuits d’Allonzo, de Antoine Granier; Padrone Dove Sei, de Michele Schirinzi; Santos, de Alejo Fraile; e El Viaje de Monalisa, de Nicole Costa.
21 filmes compõem este ano a Competição de Curtas-Metragens: Aline, de Simon Guélat; At Home but Not at Home, de Suneil Sanzgiri; Babydyke, de Tone Ottilie; Carne, de Camila Kater; Cause of Death, de Jyoti Mistry; Chrishna Ombwiri, de Claire Doyon; Extérieur Crépuscule, de Roman Kané; Funeral, de Thịnh Nguyễn; I Am an Other, de Victoria Salomonsen; In His Bold Gaze, de Bernardo Zanotta; The Institute, de Alexander Glandien; Mach Stem, de Daniel McIntyre; Minha História É Outra, de Mariana Campos; Moonlight People, de Dmitri Frolov; Progressive Touch, de Michael Portnoy; Quebramar, de Cris Lyra; Red Ants Bite, de Elene Naveriani; Stray Dogs Come Out at Night, de Hamza Bangash; Swinguerra (na foto), de Bárbara Wagner, Benjamin de Burca; La Traction des Pôles, de Marine Levéel; e Una Dedicatoria a lo Bestia, de nucbeade.
A Competição “In My Shorts” é constituida por dez curtas-metragens de escolas de cinema europeias tão diversas como o Doc Nomads, o Centro Sperimentale di Cinematografia, em Roma, a HEAD em Genebra, a francesa Le Fresnoy, a FAMU, em Praga, ou a berlinense DFFB: An Act of Affection, de Viet Vu; Le Dragon à Deux Têtes, de Páris Cannes; eadem cutis: the same skin, de Nina Hopf; L’Homme Jetée, de Loïc Hobi; J’ador, de Simone Bozzelli; Narkissos, de Nora Štrbová; Queens, de Youssef Youssef; Revolvo, de Francy Fabritz; Rose Minitel, de Olivier Cheval; e Why Do I Feel like a Boy?, de Kateřina Turečková.
A já anteriormente anunciada secção Queer Focus, revela agora também o seu programa completo. Cruising, Skin, Memory, Sex, Bodies e Play foram as palavras escolhidas como mote, evocando elementos e ações que a atual pandemia momentaneamente subtraiu do nosso quotidiano, mas também reafirmando a necessidade de reflexão e de se estabelecerem ligações entre o contexto atual e aspetos da história recente da comunidade LGBTQI+. Cada um destes programas, à exceção da Hard Night, inclui, para além dos filmes mencionados, momentos de conversa, debate ou performance ao vivo que, no contexto do tão longo afastamento físico vivido nos últimos meses, foi pensado pelo Queer Lisboa com o objetivo de reclamar a presença, e com um mínimo de mediação virtual.
No programa Cruising apresenta as curtas-metragens polacas Afterimages, de Karol Radziszewski, e Bodies without Bodies in Outer Space, de Rafał Morusiewicz; Fuck Tree, de Liz Rosenfeld; GUO4, do aclamado realizador Peter Strickland; e finalmente Sodom, filme experimental de culto do recém falecido Luther Price. A esta sessão segue-se uma conversa on-line com o realizador Karol Radziszewski.
Memory traz a Lisboa duas curtas-metragens da realizadora experimental Jennifer Reeves, Monsters in the Closet e Chronic, tateando temas que atravessam toda a obra da artista, como o trauma, a saúde mental e a opressão social, e complementados com un debate sobre estes assuntos com a artista e antropóloga Fernanda Eugénio, o realizador Sérgio Braz de Almeida, e a representante da APAV – Associação do Apoio à Vítima Joana Menezes; enquanto o programa Sex será a Hard Night deste ano, exibindo em toda a sua glória o recém-restaurado Équation à un Inconnu, de Dietrich de Velsa, talvez um dos mais cuidadosamente estilizados filmes pornográficos alguma vez feitos.
O Queer Focus continua com a longa-metragem Mr. Leather, de Daniel Nolasco, que constitui o programa Skin e que se complementa com uma performance presencial Blondi, do performer galego residente em Berlim David Loira; e, sob o signo Bodies, chegamos a Un Uomo Deve Essere Forte, de Elsi Perino e Ilaria Ciavattini, seguido de uma conversa com o ativista e poeta André Tecedeiro.
Por último a organização apresenta Play que com (W/Hole), de Mahx Capacity, convida a observar o processo de criação da nova peça do coletivo porno queer/feminista AORTA. Esta sessão é seguida de uma performance em remoto da artista colombiana Nadia Granados.
Do programa desta edição do Queer Lisboa faz ainda parte uma exposição do fotógrafo Lisboeta Italiano, “Frágil”, que decorrerá no Espaço Santa Catarina.
E relembra também as já anteriormente anunciadas Sessões Especiais deste ano. Na Esplanada da Cinemateca Portuguesa terá a exibição da longa-metragem francesa Race d’Ep!, o lendário documentário sobre o ativismo francês, de Lionel Soukaz e Guy Hocquenghem, uma sessão que acontece em diálogo com a nova exposição, “Race d’Ep!”, dos artistas portugueses João Pedro Vale + Nuno Alexandre Ferreira que estará patente de 23 de setembro a 23 de outubro na galeria Stolen Books em Lisboa.
No Cinema São Jorge apresenta a sessão/debate Liberdade, Participação e Ativismo, em parceria com o GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos e o CheckpointLX, e integrada na iniciativa Lisboa Sem Sida – Fast-Track City, que consiste num debate precedido pela exibição da curta-metragem Thrive, de Jamie di Spirito. O debate, moderado por Sofia Crisóstomo e Luís Veríssimo, terá como pessoas convidadas Maria José Campos, Paolo Gorgoni, Luma Andrade, Sérgio Vitorino e Pedro Silvério Marques.
Este ano, a equipa de programação dos Festivais teve em consideração mais de 1000 filmes, 497 deles recebidos como submissões, um número recorde para o festival.
Poderão seguir toda a informação do festival no site do mesmo.
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