Reflexão Colorida

Este ano tem sido atípico devido ao atual panorama de saúde mundial, que conjugada com a conjetura económico-politica, promoveu alterações significativas naquela que considerávamos ser a “normalidade”. Como é tão frágil a nossa condição humana, como é tão importante valorizarmos as relações humanas, como é tão fundamental priorizar a nossa saúde mental (entre outras reflexões…), promove-se assim o papel de destaque para a empatia, a humanidade, o amor, a compaixão, o eu e o outro.

A verdade é que o de quão garantido tínhamos rapidamente desvaneceu, a fragilidade subjacente é de uma imensidão… A nossa rotina, a nossa normalidade, a presença do outro, simplesmente já não é igual, tivemos de encontrar novas estratégias para ressignificar esses momentos e felizmente estamos na Era da Tecnologia, facilitou todo este processo.

No meio deste ano atípico confronto-me com um cenário que me enche o coração de orgulho, otimismo e felicidade, refiro-me ao lançamento de filmes natalícios com a existência de casais entre pessoas do mesmo sexo como protagonistas. Caramba, com 25 anos assistir a esta mudança na indústria cinematográfica, na qual filmes para assistir em família envolvem indivíduos LGB sem os sexualizar, sem ter um final infeliz, sem ter uma conotação negativa (e.g., considerar como doença ou a famosa fase de adolescência), deixa-me sem palavras!

Ao longo do tempo sempre nos confrontámos com poucas referências LGBT e muitas vezes foram negativas, por exemplo, em filmes e/ou séries a personagem lésbica, gay ou bissexual, encontrava-se muitas vezes num cenário sofrimento com o preconceito e estigmatização de que era alvo, expulsão de casa e exclusão do seu ciclo de amig@s, e poderia enumerar muitos mais…

Consequentemente, crescemos com poucas referências (ou quando existiam eram negativas) dificultando o processo de identificação com a comunidade LGBT, aumentando a invisibilidade para a existência de casais entre pessoas do mesmo sexo e, por conseguinte, aumentando o isolamento do individuo LGBT. É fundamental a existência de mais role models positivos e diversificados, e maior visibilidade, permitindo assim o crescimento do indivíduo LGB com referências positivas!

Estamos neste momento a assistir a uma mudança, este ano foram lançados os filmes Prom Happiest Season, recomendo que assintam a ambos! Prom é um filme de comédia com um twist musical repleto de um elenco de luxo, remete para uma história de uma jovem mulher lésbica que vê o seu baile de finalista ser cancelado com o objetivo de a afastar da sua namorada; e Happiest Season é uma comédia romântica tendo como protagonista um casal entre duas pessoas do mesmos sexo, remetendo para questões de coming out, aceitação da família, identidade e sexualidade, delicioso para se assistir em família.

Nesta quadra natalícia que se centra na família, no amor, nos afetos, e conjugando com este ano que passou, não esqueçamos do quão importante é vivenciar esta época sendo nós mesmos, colocando a nossa identidade em destaque e partilhando a felicidade com os nossos! Já tivemos provas sobre o quão frágil e rápida é a vida, não sabemos o dia de amanhã, mas certamente podemos escolher qual o tipo de filme que queremos ser, seja uma comédia romântica ou de suspense, o importante é estarmos preenchidos, felizes e mostrar a nossa vulnerabilidade sem qualquer receio, acredita o mundo fica tão mais bonito!

Assim te escrevo e da tela iluminada me lês, para partilhar contigo que estamos todos juntos neste ano surreal, nesta nova realidade, sendo o mais importante valorizar o presente, os momentos que partilhamos, e nunca esquecer de dizer ao eu e ao outro o quão orgulhosos, o quão importantes, o quão especial somos! Não te esqueças de viver…

Estar vivo
é abrir uma gaveta
na cozinha,
tirar uma faca de cabo preto, descascar uma laranja.
Viver é outra coisa:
deixas a gaveta fechada
e arrancas tudo
com unhas e dentes,
o sabor amargo da casca,
de tão doce,
não o esqueces.

Luís Filipe Parrado in “Entre a carne e o osso” edição por Língua Morta, em 2012

Gosto de mim e de ti que me lês! Tão simples assim! 💛

Imagem por Cody Board.


One comment

  1. Por mais letal que tenha ou esteja sendo o Covid-19, ele “escancarou” como a rotina diária “hetera”, esfria tais relacionamentos! Home office, juntando cônjuges de profissões diferentes, em mesma mesa da sala ou cômodos diferentes (nesse caso, reproduzindo o “distanciamento” em mesma cama, comumente ocorrendo entre esposa e marido)! Quando as pessoas, voltaram a caminhar, aqui no Brasil, conheci um cara, que havia se separado da esposa pela ausência de vida sexual, durante o isolamento e, disse que noutros tempos, nem cogitava em conversar com homem, buscando namorar e, muito menos elogiar pernas peludas, homem cisgenero! Na nossa primeira vez, conversamos durante a transa e, mesmo eu sendo penetrado, bom ouvinte! Chegou a dizer, sem palavras, pela atenção que dei a ele! Ai eu disse, nada “robótica” como muitas relações heteronormativas, em que o marido tem que se “desligar” do dia a dia, evitar ejaculação precoce e disfunção erétil, com causas – geralmente – emocionais!

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