Pedro Choy afirmou ter tratado jovem homossexual: “pelo menos é casado e pai de família”

Imagem composta da original.

Pedro Choy, um dos rostos maiores em Portugal das chamadas medicinas tradicionais chinesas, afirmou, perante uma plateia e durante vários anos, ter curado um jovem de 16 anos da sua homossexualidade, avançou a revista Visão.

Entre 2003 e 2008 terá assinalado esse episódio com orgulho e como prova de que a sua (pseudo)terapia funcionava na cura da orientação sexual, algo que “a medicina chinesa considera uma doença e que tem tratamento.” Quem assistiu a essas afirmações, repetidas ao longo de vários anos e várias turmas, veio agora denunciar o caso.

Pedro Choy procurou justificar-se com argumentos preconceituosos e sem rigor científico

Choy esclareceu a quem o ouviu na altura não ter “nada contra” pessoas com “este tipo de problemas“, mas insistiu que a homossexualidade para praticantes de medicina tradicional chinesaé uma doença dos meridianos curiosos” (o que quer que isso signifique, dado que não há qualquer evidência científica do que afirmou.) Segundo Choy, estes meridianos podem ser assim tratados desde que haja um (pseudo)diagnóstico precoce.

Contou ainda que tratou apenas um caso, um jovem de 16 anos levado pela mãe, e que lhe disse que todas as pessoas procuram a felicidade, mas que a sua homossexualidade “não é um caminho muito feliz“. Alguém lhe explique que, ironias das ironias, um dos significados da palavra gay é precisamente feliz. E porque não é um caminho muito feliz? Porque, segundo as denúncias, Choy, “as pessoas acabam por ser segregadas e sofrer com isso.” E, aposto, este discurso apenas aliviou todas as pessoas LGBTI que sofreram na vida por serem quem são, porque culpabilizar a vítima e não quem agride é aqui a prescrição acertada. Bem, pelo menos este jovem será hoje “casado e com filhos“, o que só mostra como Choy não consegue entender a violência tremenda que isso pode significar (ou, eventualmente, o jovem ser bissexual e não ter havido na realidade qualquer tratamento, vá).

O que diz a psicologia sobre terapias de conversão?

Como explicou Nuno Carneiro, psicólogo clínico, e vale a pena reforçar mais uma vez, a tentativa de mudança da orientação sexual de uma pessoa “é mais do que ineficaz, é profundamente maleficente”. Pode agravar o estado de saúde mental de quem à partida já procurou ajuda para algum tipo de problema, seja depressivo ou de outro tipo. Pode levar ao “abuso de substâncias, abandono escolar, ataques de pânico e sofrimentos de vários tipos atribuídos a patologias que não o são”. E, em casos extremos, ao suicídio.

A proibição de “terapias de reorientação sexual” é uma medida acompanhada pelo Bloco de Esquerda que propôs, no dia 17 de maio de 2021, que “estes processos não são terapias pelo simples facto de que a orientação sexual, a identidade ou expressão de género, não são doenças, são características pessoais próprias de cada indivíduo, essenciais ao seu equilíbrio, saúde e vivência social. Não há nada que curar“, notou a deputada Fabíola Cardoso, autora do projeto de lei bloquista.

Presença política de Pedro Choy promoveu legislação

Ainda assim, e importa notar, o Bloco de Esquerda não se livra de críticas e de uma postura contraproducente quando Pedro Choy, que incursou na política pelo Bloco, “tem interesses comerciais a defender” no contexto da legalização das terapias alternativas em Portugal, medida apoiada pelo partido (e PSD e CDS) . Este é o ponto de Carlos Fiolhais, físico e divulgador científico, que assim relacionou as antigas incursões de Choy no mundo da política com a legalização das terapias alternativas em Portugal: “A sua presença na política também terá a ver com essa legislação”.

Legitimar este tipo de atividades, seja politicamente ou dando-lhes mediatismo como fazem inúmeros órgãos de comunicação social, é fragilizar e colocar em perigo pessoas e, neste caso em concreto das (pseudo)terapias de conversão, jovens especialmente suscetíveis a pressões familiares e/ou religiosas.

Não são atividades puramente de entretenimento

Os conselhos e atividades por parte destas pessoas, tenham agulhas, cartas ou búzios na mão, mais do que apenas entretenimento, não são inocentes. Não raras vezes substituem-se, e com intenção, a especialistas, seja na área da medicina, da psicologia ou das finanças. Existe um aproveitamento, recordemos, de grupos especialmente vulneráveis – em particular minorias e mulheres – que são condicionados ao fatalismo das (pseudo)terapias que lhes vendem e impõem.

E se é verdade que, segundo Fiolhais, “a validade científica não se obtém com a publicação de legislação”, é igualmente verdade que, ainda que neste contra-senso legislativo, importa que em 2022 sejam definitivamente proibidas as (pseudo)terapias de conversão em Portugal, tal como já acontece em vários outros países como França, Canadá ou Alemanha.

Ainda que com eleições legislativas já no final deste mês, Portugal tem assim um objetivo concreto para alcançar nos próximos meses e salvaguardar a saúde e a dignidade das pessoas que são submetidas à violência de uma pseudo-“terapia de conversão”.


Ep.197 – 25 de Abril SEMPRE! no teatro & The Tortured Poets Department Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️‍🌈

O CENTÉSIMO NONAGÉSIMO SÉTIMO episódio do Podcast Dar Voz A esQrever 🎙️🏳️‍🌈 é apresentado por nós, Pedro Carreira e Nuno Miguel Gonçalves. Celebramos os 50 anos do 25 de Abril, com todo o contexto atual triste e da transgressão da comunidade LGBTI e também da arte, nomeadamente das peças de teatro Quis Saber Quem Sou de Pedro Penhim, em cena por todo o país, e Catarina e a Beleza de Matar Fascistas de Tiago Rodrigues, agora em livro. No Dar Voz A… como não podia deixar de ser, temos… Taylor Swift e o seu novo e antológico The Tortured Poets Department. Ah, e não podiamos deixar de congratular Nymphia Wind, the next drag superstar!!! Artigos mencionados no episódio: 25 de Abril, o ponto de partida para o Orgulho LGBTI O 25 de Abril Também Passou Por Nós (e nós por ele) Nymphia Wind elogiada pela Presidente de Taiwan na vitória em RuPaul’s Drag Race Sasha Colby, vencedora de RuPaul’s Drag Race: “Sou uma mulher trans e uma drag queen. Sou a personificação do que querem erradicar” AbriLés 2024: Celebrar a Visibilidade Lésbica em Portugal EMIS24: Se és homem, mulher trans ou pessoa não binária que se sente sexualmente atraída por homens, este inquérito é para ti! CRONOLOGIA LGBTI DO 25 DE ABRIL 1974: 25 de Abril 1982: Homossexualidade descriminalizada 1999: Homossexuais e bissexuais podem servir abertamente nas Forças Armadas 2004: A orientação sexual é incluída na Constituição Portuguesa no artigo 13º – Princípio da Igualdade 2010: O Casamento é estendido a casais de pessoas do mesmo sexo 2015: Parlamento aprova adoção e apadrinhamento civil de crianças por casais do mesmo sexo 2018: Lei da autodeterminação de género 2021: Fim da discriminação na dádiva de sangue 2023: Criminalização das “terapias de conversão” INQUÉRITO EMIS2024: https://maastrichtuniversity.eu.qualtrics.com/jfe/form/SV_00TU5rrPxK3dzoO Jingle por Hélder Baptista 🎧 Este Podcast faz parte do movimento ⁠#LGBTPodcasters⁠ 🏳️‍🌈 Para participarem e enviar perguntas que queiram ver respondidas no podcast contactem-nos via Twitter e Instagram (@esqrever) e para o e-mail geral@esqrever.com. E nudes já agora, prometemos responder a essas com prioridade máxima. Podem deixar-nos mensagens de voz utilizando o seguinte link, aproveitem para nos fazer questões, contar-nos experiências e histórias de embalar: ⁠https://anchor.fm/esqrever/message⁠ 🗣 – Até já unicórnios #25deAbril #25deAbrilSempre #NymphiaWind #DragRace #TaylorSwift #TTPD — Send in a voice message: https://podcasters.spotify.com/pod/show/esqrever/message
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Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

3 comentários

  1. Me parece haver um viés político pela questão da taxa de natalidade europeia, já há anos estar baixa. Aqui no Brasil, descendentes italianos viram, por volta de 2017/2018, a possibilidade de pedirem dupla cidadania até pelo incentivo financeiro se desejassem fixar residência na Itália! Noutra ponta, há uma “brecha” para a “cura gay” quando até os movimentos “Arco Iris” definem que somos “orientados sexualmente”! Sutilmente quando ouço a expressão “Orientação Sexual” digo que ninguém me orientou e se tivessem orientado, seria “hetero”!

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