A história de Len e Cub, o casal gay que se fotografou há 100 anos

Len e Cub, um casal gay que viveu na zona rural de Nova Brunswick (Canadá) no início do século XX, tinham uma outra grande paixão: a sua câmara fotográfica. Leonard “Len” Olive Keith usou-a para documentar os dias felizes da sua relação com Joseph Austin “Cub” Coates e as fotografias que daí resultaram inspiraram um livro.

Livro Len & Cub: A queer history por Maredith j. Batt e Dusty Green.

No seu novo livro, Len & Cub: A Queer History, Meredith J. Batt e Dusty Green partilham as fotografias de Len como uma janela para a sua vida com Cub no contexto dos anos 1910s e 1920s.

A história do casal Len e Cub

Nascido em dezembro 14, 1891, Len era oito anos mais velho que Cub. As suas famílias eram vizinhas numa área rural do Canadá. A família de Len possuía uma fábrica de fósforos e um moinho de grãos, e sua prosperidade é provavelmente o motivo pelo qual a família poderia pagar uma câmera fotográfica na altura.

Len tornou-se um fotógrafo amador e entusiasta de automóveis que passou a possuir uma garagem local e um salão de bilhar depois de servir na Primeira Guerra Mundial.

Já Cub era filho de um fazendeiro, um veterano da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, um talhante, um empreiteiro e um amante de cavalos.

A câmara de Len possuía um temporizador automático que lhe permitiu explorar com o seu namorado Cub a fotografia à distância. Em 1911, o pai de Len tornou-se na primeira pessoa da sua aldeia a possuir um carro o que proporcionou a Len uma maior mobilidade e liberdade para passear com Cub.

Os dois eram vizinhos e desenvolveram uma relação próxima e íntima um com o outro. O tempo de Len e Cub juntos é documentado pelas muitas fotos tiradas nos momentos partilhados. Como muitos fotógrafos amadores fazem, Len fotografou o que era importante para ele, e a prevalência de Cub entre as centenas de fotos “é impressionante e impossível de ignorar.

Fotografias históricas do amor entre dois homens no início do século XX

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As fotografias tiradas nas décadas de 1910 e 1920 mostram o desenvolvimento da sua relação enquanto Len e Cub exploram o deserto de Havelock e passam o tempo sozinhos juntos. Infelizmente, esses momentos iriam cessar quando Len foi acusado de ser homossexual por membros da sua comunidade no início da década de 1930 e forçado a deixar Havelock.

Cub, no entanto, aparentemente escapou à acusação e permaneceu em Havelock até 1940, quando se casou com Rita Cameron, enfermeira, e se mudou para Moncton após a Segunda Guerra Mundial.

Len nunca retornou a Havelock, residindo perto de Montreal antes de falecer em 1950.

Ao contrário de outros casais descobertos da altura, Len e Cub nunca trocaram cartas que tenham sido descobertas. Ainda assim, importa relembrar que os registos são um produto do seu tempo. Registos queer do início dos anos 1900 são raros, mas no livro fica claro que Len e Cub estavam apaixonados. John Corey, que doou a coleção de Len para os Arquivos Provinciais de New Brunswick, cresceu em Havelock a ouvir histórias sobre Len e Cub. Entendeu assim o significado destes registos e fez questão de comentar ao arquivista durante o processo de doação das fotografias que os dois homens eram “namorados” e que Len fora expulso da cidade por ser homossexual.

Muitas das fotografias apoiam essa narrativa e mostram os meios pelos quais o seu relacionamento foi permitido florescer naquele tempo e lugar e os truques que Len e Cub fizeram para esconder a verdadeira natureza da sua relação.

Relações homossexuais fazem parte da história da humanidade

O estigma em torno das pessoas LGBTI estava em ascensão e o policiamento moral da sociedade sobre os papéis de género procurou suprimir quem não se enquadrava da norma. Ironicamente, o facto de homens e mulheres viverem em esferas sociais tão segregadas permitiu a criação de amizades românticas sem grande escrutínio social. Historiadores como George Chauncey, John D’Emilio ou Colin Spencer fornecem amplas evidências de que os anos que precederam a Segunda Guerra Mundial estão repletos de exemplos de pessoas em relações homossexuais e sem que estas reflitam sobre as suas próprias “identidades“.

Longe de ser uma moda, importa recordar que as pessoas LGBTI sempre fizeram parte das sociedades, mais ou menos escondidas, mais ou menos armariadas, perseguidas ou violentadas. Viver plenamente com quem desejam é um direito que hoje é profusamente reivindicado, importa pois não esquecer o percurso feito até aqui.


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