
Pôr do Sol, a paródia da RTP às telenovelas, ganhou rapidamente estatuto de série de culto logo no seu ano de estreia. Com a segunda temporada cimentou o seu legado e levou o orgulho bissexual ao horário nobre da estação pública.
Com argumento de Henrique Cardoso Dias e realização de Manuel Pureza, Pôr do Sol conta com um elenco de luxo que passa por Gabriela Barros, Diogo Amaral, Marco Delgado ou Sofia Sá da Bandeira. E, claro, o genérico por Toy.
A família Bourbon de Linhaça, uma das mais influentes famílias betas de que há memória e oriunda de Santarém, é dona da herdade do Pôr do Sol, rica em cereja da melhor qualidade e de cavalos que são campeões mundiais de corrida, nomeadamente o Testículo. Mas uma série de desgraças começam a assolar a família Bourbon de Linhaça quando segredos são revelados e há quem procure levar a família à ruína e a torná-la pobrezinha.
No meio de todo este trama, é através de Rui Melo, Madalena Almeida e Mafalda Marafusta que a aclamada série apresenta e pelo caminho desconstrói vivências bissexuais.
Em Pôr do Sol, Simão é um dos melhores vilões que a televisão portuguesa conheceu
Já há muito que é conhecido o conceito de vilões queer no cinema e na televisão e em como muitas vezes são o escape em que a comunidade LGBTI+ se revê. É certo que não deixa de ser, no entanto, uma linha ténue entre a vilipendiação de toda uma comunidade e a projeção de uma resistência com que facilmente nos revemos. Mas Simão Bourbon de Linhaça consegue em Pôr do Sol tornar-se num dos melhores vilões que a televisão portuguesa já viu.
Com reminiscências de papéis icónicos de Herman José e até de Anthony Hopkins em Silêncio dos Inocentes, Rui Melo é brilhante tanto no humor físico (o já clássico partir de copos de whiskey ou os saltos para a piscina), como no timing das suas deixas (“Eu sou alérgico a homens. Sempre que vejo um homem todo nu, incha-me o pénis“).
É uma delícia vê-lo ao lado de uma igualmente brilhante Gabriela Barros (no papel triplo Matilde Bourbon de Linhaça / Filipa Martins / Salomé) onde se envolvem com tremendo desejo sexual enquanto tentam roubar o colar de São Cajó que está na família Bourbon de Linhaça há mais de 3.500 anos.
O Simão rompe depois com Filipa que é morta por Eduardo, o chefe da família Bourbon de Linhaça e beto. Simão promete vingar a sua morte enquanto o planeia rodeado de homens desnudados.
Beta e Vera são exemplo da vontade de viver um desejo
“Diz-me que não te queres enfiar num poliban comigo…“
Também Beta (Mafalda Marafusta) e Vera (Madalena Almeida) protagonizam um casal lésbico. Vera engravida com Beta depois de ter esquecido o amor pelo primeiro vocalista da banda Jesus Quisto, Lourenço (Diogo Amaral). O segundo morreu quando um projetor lhe caiu em cima em pleno concerto. Vera resiste inicialmente por não saber o que significa aquela atração por Beta e porque nunca tinha beijado uma mulher antes sem ser no Boom.
É uma lufada de ar fresco no humor nacional que conquistou um público fiel e que replica os inúmeros gags da série. E pelo caminho apresenta-nos uma bissexualidade não como um fim para a representação do mal ou da experimentação, mas como parte integrante destas personagens. Não importa se estão agarradas a um copo de quebradiço de whiskey ou a roupas em segunda mão de uma qualquer feira vegan de Paio Pires.
Pôr do Sol pode – e deve – ser visto na RTP1 às 21h e na RTP Play a partir das 12h.

Ep.186 – Renaissance: A Film by Beyoncé (hmmm, yummy, yummy, yummy, make a bummy heated) – Dar Voz a esQrever: Notícias, Cultura e Opinião LGBTI 🎙🏳️🌈
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