Como a Rainha Isabel II apoiou os direitos LGBTI+ durante os 70 anos do seu reinado

Como a Rainha Isabel II defendeu os direitos LGBTI+ durante os 70 anos do seu reinado

Durante a maior parte de seu reinado, a Rainha Isabel II foi bastante tímida no que toca a questões LGBTI+ e apenas na última década ela começou a assumir uma posição pública a favor dos direitos das pessoas LGBTI+. Suficiente?

Tendo chegado ao trono do Reino Unido em 1952, faleceu a 8 de setembro de 2022 aos 96 anos. Era a monarca britânica mais antiga, tendo trabalhado com 14 pessoas primeiras-ministras britânicas ao longo do seu reinado.

Empurrada para o papel aos 25 anos após a morte do seu pai, ela reinou através da Crise do Canal de Suez, a descolonização de África, a formação da União Europeia, a descriminalização da homossexualidade e, mais recentemente, o BREXIT e a pandemia da COVID-19.

Ao longo de seu reinado, a Rainha Isabel II viu a Grã-Bretanha transformar-se numa nação que condenava homens gays para um país onde eles se podem casar. Quando chegou ao poder pela primeira vez, a polícia ainda aplicava as rígidas leis anti-sodomia do país que haviam sido implementadas por Henrique VIII em 1533.

Embora os homens gays não fossem mortos como eram nos anos 1500, os seus atos sexuais foram criminalizados e muitos estavam sujeitos a castração química ou prisão. Os atos homossexuais não foram totalmente legalizados no país até meados dos anos 1990.

Embora a Rainha notoriamente tenha mantido um ar de neutralidade política, ela é timidamente reconhecida como uma apoiante dos direitos LGBTI. Durante a maior parte do seu reinado ela ficou bastante silenciosa sobre questões LGBTI+, mas nas últimas décadas começou a assumir uma posição pública de apoio aos direitos das pessoas LGBTI+ no Reino Unido.

O apoio público de Rainha Isabel II parece ter começado apenas em 2013

Tudo começou de forma algo tímida no ano de 2013, mais de 60 anos após a sua coroação. Naquele ano, ela concedeu um perdão a Alan Turing, considerado o pai da ciência da computação e é famoso por ter quebrado o código Enigma nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi punido pelo governo britânico pela sua sexualidade e foi quimicamente castrado depois de ser condenado em 1952 por “indecência grosseira” com outro homem. Turing morreu por suicídio em 1954 – durante o seu reinado.

Este perdão, levaria o Reino Unido a perdoar os britânicos homossexuais e bissexuais que foram condenados pela sua orientação sexual quando a lei de alteração do direito penal de 1885 tornou a homossexualidade num crime no país até 1967 (e 1980 na Escócia e 1982 na Irlanda do Norte!). A lei teve o nome de Alan Turing.

Também em 2013, a Rainha Isabel II assinou uma carta histórica de igualdade de direitos apoiando as pessoas LGBTI+. Numa cerimónia para marcar o Dia da Commonwealth, a monarca com então 86 anos fez um discurso endossando um novo acordo entre as nações e afirmando que os signatários se opõem a “todas as formas de discriminação, sejam elas enraizadas em género, raça, cor, credo, crença política ou outros motivos”.

As palavras “outros motivos” referiam-se à orientação sexual. Embora referências específicas à discriminação contra pessoas LGBTI+ não tenham sido incluídas para evitar antagonizar os países da Commonwealth que mantiveram leis anti-LGBTI, este ainda foi considerado um momento de emancipação da sua posição pública. Foi a primeira vez que ela sinalizou o seu apoio aos direitos LGBTI+ no seu reinado de então 61 anos.

Em 2013, a Grã-Bretanha legalizou o casamento entre pessoas do mesmo género depois da Rainha Isabel II ter dado o seu selo real de aprovação.

Como em quase tudo, a Família Real Britânica levou tempo a abrir horizontes

Em 2014, a Rainha Isabel II deu aprovação real à lei de igualdade de casamento da Escócia. Ela também congratulou um dos mais antigos grupos de caridade LGBTI+ da Grã-Bretanha, o London Lesbian and Gay Switchboard, no seu 40º aniversário. Esta terá sido a primeira vez que a monarca reconheceu um grupo de defesa dos direitos das pessoas LGBTI+.

Os meus melhores desejos e parabéns a todas as pessoas envolvidas neste aniversário especial“, disse a Rainha, de acordo com uma transcrição divulgada pelo Palácio de Buckingham.

Mais recentemente, em maio de 2021, a Rainha anunciou que o governo proibiria a prática perigosa das chamadas “terapia de conversão”.

As medidas serão apresentadas para abordar as disparidades raciais e étnicas e proibir as ‘terapias de conversão‘”, disse a Rainha durante um discurso de nove minutos ao Parlamento.

Foram 60 anos de silêncio com a última década a timidamente encarar – e porventura corrigir – erros do passado sobre direitos LGBTI+.

Nota: O título original mencionava “defesa” dos direitos LGBTI+ o que, como se leu no artigo, estava longe da verdade. Fica a edição para o “apoio” (tardio e tímido – ou escasso – sobre a temática) e a sugestão de outras leituras sobre o tema:

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