Exclusivo: Entrevista a Pepi Ginsberg, realizadora do filme “The Pass”

Pepi Ginsberg é uma realizadora que começou por a sua exploração artística pela música onde alcançou elogios por parte de meios importantes como a Pitchfork ou a NPR pelo lançamento do EP Yes City. Mas foi a sua incursão pelo cinema que levou Pepi Ginsberg a estrear a curta-metragem “The Pass” em Cannes e que será exibido no Queer Lisboa 26.

Em “The Pass” encontramos Ben de férias onde conhece Sam, cujos amigos recomendam irem para uma praia privada de cruising (engate). Tímido, Ben recusa, mas acaba por ir sozinho. Enquanto nada, conhece Christopher, que o observa a partir da margem. Christopher torna-se progressivamente agressivo enquanto luta para ocultar o seu desejo, deixando Ben com medo de sair da água. É esta a premissa do filme que nos leva para a conversa com Pepi Ginsberg:

The Pass acontece numa praia de cruising, como surgiu a ideia para a história?

A ideia de colocar o coração do filme numa praia de cruising surgiu de forma indireta. Quando estava a conceber este filme, inspirei-me numa história que a minha Diretora de Fotografia me contou sobre ter sido atingida na água enquanto nadava. Amei essa imagem de estar presa, é uma situação que se presta ao drama e eu estava a pensar em alguém próximo e o que pode acontecer se estivesse de férias sozinho, à procura de uma ligação. Esse cocktail de impulsos levou-me a criar esse cenário para Ben. De muitas maneiras, eu estava a procurar por um contexto onde essa situação pudesse acontecer e em particular uma praia de cruising era a mais adequada para a história e os personagens, mas não há uma praia em particular onde filmámos que serviu de inspiração.

Parece existir alguma inversão de expectativas, no filme é o sair da água que é visto com hesitação e receio e não o contrário, que desafios trouxe esta perspectiva?

Fui nadar um dia e percebi algo que gosto na água – quando nadamos, empurramos contra esse peso enorme e, no entanto, a água continua a segurar-nos e a envolver-nos. Esse relacionamento complicado é para mim como ver uma pessoa a crescer, a mudar, reprimida, mas também segurada pela própria mente, pela própria ideia de si mesma. No filme, sair da água causa medo porque representa sair de um espaço de indecisão, de questionamento e de entrar em ação. A ação costuma ser assustadora, mas é o único caminho para o crescimento. No filme, Ben existia neste estado liminar entre ação e inação. No início do filme ele é tímido, inseguro – vêmo-o bastante passivo e inseguro em fazer ligações. Na água ele é forçado a um confronto, a enfrentar algo obscuro. O medo era tanto psicológico quanto físico. Mas ele faz uma escolha e essa coragem capacita-o a encontrar algo dentro de si mesmo, para crescer.

Filmado e produzido em plena pandemia, quais foram os maiores desafios na concretização de The Pass?

O maior desafio foi o cancelamento na nossa primeira tentativa de fazer o filme em 2020. Foi de partir o coração! Voltámos no ano seguinte e eu reformulei o argumento para incluir a cena final com Sam. Felizmente, a pandemia estava num ponto em que conseguimos filmar. O filme foi projetado de forma a ser amigável ao covid: tínhamos uma equipa pequena, filmámos apenas ao ar livre e o nosso elenco também era muito pequeno. Felizmente, isso facilitou a segurança e conseguimos realmente concentrar-nos no trabalho. Eu também tinha sido mãe na época das filmagens, o que proporcionou o seu próprio conjunto de desafios únicos, mas bonitos.

Depois da estreia em Cannes, como tem sido a experiência após visionamento do filme (além dos pedidos de entrevista haha)?

Oh Deus! Tem sido muito bom! Na verdade, já fiz algumas curtas-metragens e filmes, mas este foi apenas o meu segundo maior projeto e o meu primeiro fora de projetos académicos. Tenho filmado há algum tempo e ter o público finalmente a assistir ao meu trabalho nesta escala é tão emocionante! Estou realmente muito grata pela vida que o filme está a ter, foi tão inesperado. Tenho muito trabalho pela frente para escrever e produzir a minha longa-metragem, mas estou muito animada e encorajada. Espero fazer outra curta na próxima primavera e uma longa o mais rapidamente possível. Foi realmente maravilhoso que “The Pass” tenha tido a oportunidade de viajar. Foi um filme feito por amigos com a intenção de aprender e desfrutar – estou tão feliz pela sua vida no mundo!

The Pass é um dos filmes destacados no Queer Lisboa 26, o festival mais antigo da cidade, como tem sido a sua relação, como realizadora do filme, com o público queer?

Estou muito honrada por ter sido escolhida para o Queer Lisboa! Estamos muito empolgadas em poder compartilhar o filme com um público queer e continuaremos a fazê-lo em muitos outros festivais este ano. O nosso ator principal, Angus O’Brien, que é gay, recebeu elogios incríveis pela sua performance. Ele é um ator notavelmente talentoso e estou tão feliz que as pessoas possam descobri-lo! Estou muito feliz que o filme possa ressoar com o público queer, pois esta é a comunidade em que se passa e isso deixa-me muito feliz em saber que o filme está a ser assim recebido. Eu acho que The Pass é uma história que pode ser apreciada por todas as pessoas porque é um conto sobre matar os seus dragões e lutar pelo amor que você merece.


Obrigado à Pepi Ginsberg pela disponibilidade 🙂

Abaixo o trailer e a sessão onde “The Pass” pode ser visto no Queer Lisboa 26:

Trailer do filme “The Pass”.

The Pass, com argumento e realização de Pepi Ginsberg, será exibido no Queer Lisboa a 21 de setembro pelas 18h30 no Cinema São Jorge – Sala 3.

Programação e calendário completo disponível aqui.

esQrever volta a ser parceira media do Queer Lisboa em 2022.

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

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