Entrevista exclusiva a Sílvia Barros: “Se conseguir inspirar nem que seja uma alma fico muito feliz”

Sílvia Barros é uma promissora artista nascida em São Tomé e Príncipe. Veio para Portugal com apenas 5 anos e com ela trouxe o talento de escrever canções e cantá-las com soul na voz, mas também vários traumas na alma. Sílvia Barros é hoje uma das jovens promessas da música em português e apresentará um showcase de temas do seu álbum “Nua” dia 22 de setembro em Loulé no Festival Política. Contará com interpretação para Língua Gestual Portuguesa.

Entre a irreverência do tema “Sa Foda”, onde reúne um conjunto de frustrações e desabafos sobre experiências da sua vida, as suas canções também passam pelo empoderamento e desejo de realização, tudo envolvido numa voz melodiosa e quente. São estas as premissas da emergente artista que nos levam para a conversa com Sílvia Barros:

Tendo nascido em São Tomé e Príncipe, como tem sido a viagem, artística e pessoal, em Portugal?

Tem sido um desafio, sinto que Portugal não apoia os artistas, dão mais valor à música inglesa pelo que é o que passa mais nas rádios. Sinto que as oportunidades são muito escassas e as que há, quase sempre é com cunhas.

As canções trazem poemas acompanhados por uma voz melodiosa, doce e quente, mas não deixam de espelhar tanto a sua vulnerabilidade como a sua força. Como foi esse processo, de uma menina tímida, para uma mulher que não teme cantar a sua vivência?

Eu vim com 5 anos para Portugal sozinha a cuidados de uma hospedeira da companhia aérea, uma viagem longa a cuidado de uma hospedeira da companhia foi duro, toda uma mudança de realidade, de comida, de pessoas, foi um choque cultural para mim, sempre excluída por ser de pele diferente. Vim ter com o meu pai e cresci só com o meu pai, ele fez o melhor que conseguiu, hoje tudo o que sou devo-lhe e sou grata por isso, mas a minha parte emocional e saúde mental foi muito afetada. Cresci com traumas que só de há 3 anos pra cá descobri que tinha, tenho 26 anos e estou no processo de desconstrução dos mesmos. Mas foi essa dor que me impulsionou a começar a fazer música , e desde então a música é a minha Terapia.

Em abril fez parte da seção “Negras” do Festival Política em Lisboa onde, com o coletivo Mulheres Negras Escurecidas, deu a sua voz ao tema da invisibilidade e preconceito contra mulheres e em particular contra mulheres negras. Esta é uma vertente que a preocupa, na sua vida, nas suas canções?

Sim, com certeza, como mulher africana quero usar a minha voz para abraçar e dar força a outras mulheres Africanas e a todo o mundo que se sente oprimido e fraco, demorei a descobrir a minha voz, o meu poder e o meu valor, se conseguir inspirar nem que seja uma alma fico muito feliz

Depois de várias apresentações e concertos e do lançamento de um novo single, Mãos na Cabeça, dia 22 de setembro regressa aos palcos do Festival Política em Loulé onde apresentará um showcase de temas do seu álbum “Nua” (e que contará com interpretação para Língua Gestual Portuguesa). Que expectativas tem para esse momento e para o futuro?

Neste momento estou focada em resolver os meus problemas de saúde, para que consiga ter qualidade de vida e que o meu corpo não me esteja constantemente a travar nos meus planos. Quero poder continuar a lançar música sem interrupções, cada vez poder abraçar e inspirar mais pessoas. Se tudo correr bem, lanço um novo Ep no final do mês de outubro.


O EP “Nua” pode – e deve – ser encontrado no Spotify, na Apple Music, Youtube e nas restantes plataformas de música.

O mais recente single, Mãos na Cabeça, já tem vídeo:


Obrigado à Sílvia Barros pela disponibilidade 😊.

A programação completa do Festival Política em Loulé pode ser consultada no site do festival.

A esQrever é parceira à comunicação do Festival Política.

Festival política

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon: @pedrojdoc

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