Festival Política distingue os filmes ‘O Teu Nome É’ e ‘Alcindo’

Festival Política distingue os filmes 'O Teu Nome É' e 'Alcindo'

O Festival Política anunciou os grandes vencedores onde “O teu nome é” de Paulo Patrício e “Alcindo” de Miguel Dores são os filmes distinguidos da edição de 2022. O evento registou 4.000 participantes entre as suas edições em Lisboa, Braga e Loulé.

Dos 22 filmes a concurso na secção de Cinema nas três edições do Festival Política 2022, “O teu nome é”, de Paulo Patrício, é o grande vencedor do Prémio do Júri.

O filme português de 2021 explora os últimos dias de Gisberta Salce Júnior, morta às mãos de um grupo de 14 jovens em 2006. O filme mergulha nos depoimentos daqueles que conheciam a mulher transgénero, seropositiva, em situação de sem-abrigo e toxicodependente e conta o relato da sua morte, após ser torturada e espancada. O contraste entre a brutalidade do que é descrito e o formato de animação em que é contada toda a história trazem à luz temas como a segregação, a condição social, a violência e a identidade de género, convencendo o júri composto por Sandra Almeida (directora e programadora do Shortcutz), Roni Sousa (responsável pelo programa educativo do Cine Brasília) e Amaya Sumpsi (realizadora e antropóloga).

Há muitas surpresas no percurso de uma curta-metragem, até para quem a realizou. Uma delas foi perceber que há gerações mais novas que desconhecem quase por completo o caso Gisberta. Daí que o dela, assim como o de Luna e tantas outras, não podem ser casos tidos como arrumados. Portanto, é preciso reacender a memória para não esquecer. A outra surpresa, foi chegar ao final de algumas sessões e ouvir esta pergunta: ‘E muda alguma coisa?’ Não sei. Quer dizer, o cinema não muda a realidade, muito menos a história. Quando muito, com sorte, pode mudar uma pessoa, porque se temos a cabeça redonda, não é para ter ideias quadradas”, afirmou o realizador Paulo Patrício.

Já nas categorias de Prémio do Público e Prémio Sub-30 – para produções de realizadores com menos de 30 anos – distinção ainda para “Alcindo”. O filme do realizador português Miguel Dores debruça-se sobre o brutal assassinato de Alcindo Monteiro, vítima de crime de ódio por parte de um grupo de etno-nacionalistas que, na madrugada de Santo António, em 1995, percorreram o Bairro Alto agredindo pessoas negras, culminando em 11 feridos graves e na trágica morte do jovem de 27 anos. O documentário é uma ode à luta contra o racismo e a lembrança necessária de que é preciso amplificar o movimento anti-racista em Portugal.

Tendo em conta o compromisso político deste festival, ser premiado não significa passear entre palmarés, mas reforçar coletivamente o vínculo com a transformação da sociedade. Alcindo é um documento, um filme-debate. Agradecemos ao Festival Política por amplificar e reconhecer este debate”, referiu Miguel Dores, a propósito do documentário que recorda um violento assassinato, ao mesmo tempo que faz a ponte para casos recentes de racismo em Portugal.


A esQrever é parceira à comunicação do Festival Política.

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