Qatar: Gays torturados e forçados a denunciar membros da comunidade LGBTI+

Qatar: Gays torturados e forçados a denunciar membros da comunidade LGBTI+

Gays residentes no Qatar estão a ser forçados, perante ameaça de tortura, a aceitar trabalhar para as autoridades do país de forma a denunciarem outros membros da comunidade LGBTI+ local.

Quem o afirma é Nasser Mohamed, a primeira pessoa do Qatar a sair do armário, que mora nos Estados Unidos da América, mas mantém contacto com centenas de pessoas da comunidade LGBTI+ do país que está prestes a receber o Mundial de Futebol Masculino da FIFA. Mohamed disse que algumas redes secretas foram comprometidas após prisões pelo departamento de segurança preventiva do Qatar.

Muitos [qataris gays] não sabem uns dos outros”, disse Mohamed. “E é mais seguro assim, porque quando as autoridades encontram uma pessoa, elas tentam ativamente encontrar toda a sua rede. Mas algumas das pessoas que foram capturadas e abusadas fisicamente foram recrutadas como agentes.”

Agora há agentes na comunidade LGBTI+ a quem foi prometida segurança contra a tortura física se trabalharem para o departamento de segurança preventiva e ajudá-los a encontrar grupos de pessoas LGBTQ+.”

Mohamed disse que fãs de futebol que se desloquem para o Mundial de Futebol Masculino não sofrerão perseguição durante a competição. No entanto, ele alertou que apoiantes locais da comunidade LGBTQ+ enfrentam uma realidade muito diferente. “Como é ser uma pessoa qatari LGBT? Vivemos com medo, vivemos nas sombras, somos ativamente perseguidos. Estamos sujeitos a abuso físico e mental patrocinado pelo estado. É perigoso ser uma pessoa LGBT no Qatar.

O atropelo dos direitos humanos no Qatar está documentado, mas a FIFA não ouve ativistas

Nas Mohamed ajudou recentemente a Human Rights Watch (HRW) a publicar um relatório onde denuncia como o Qatar tem detido e maltratado membros da comunidade LGBTI+ entre 2019 e 2022.

Rasha Younes, pesquisadora sénior da HRW, disse que casos extremos de tortura. “Uma mulher trans foi detida em confinamento solitário por dois meses no subsolo“, tendo perdido o seu emprego como resultado da detenção arbitrária. “Raparam o seu cabelo, bateram-lhe severamente até ela sangrar e negaram-lhe cuidados médicos.”

A HRW está a pedir que as autoridades do Qatar revoguem o artigo 285 e todas as outras leis que criminalizam as relações sexuais consensuais fora do casamento e introduzam legislação que proteja contra a discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género. Também quer que a liberdade de expressão e a não discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género sejam garantidas, permanentemente, para todas as pessoas residentes no Qatar.

Younes também criticou a FIFA por não fazer mais. “Mantemos contacto com a FIFA, outras organizações desportivas e ativistas de direitos LGBT há anos e as entidades não têm prestado atenção”, disse. “Não deram respostas nem deram conta dos dados que divulgámos. Agora que temos todas essas evidências, é hora da FIFA realmente ouvir-nos.”

Gianni Infantino, presidente da FIFA, afirmou que “todas as pessoas serão bem-vindas, independentemente da sua origem, formação, religião, género, orientação sexual ou nacionalidade” e acredita que o evento poderá ser “o melhor de sempre, dentro e fora do campo“.

O Qatar, país onde a homossexualidade é crime, recebe o Mundial de Futebol Masculino entre 20 de novembro e 18 de dezembro.