Entrevista exclusiva a SURMA: “Vulnerável é uma palavra de força, de persistência, e é isso que eu queria dar também com este álbum”

No passado dia 24 de novembro, a breve ausência da chuva forneceu a oportunidade para sentar-me num jardim com a Débora Umbelino e assim falarmos de Alla, o novo álbum do seu projeto SURMA. SURMA é um trabalho rico em colaborações artísticas, referências musicais e culturais, várias vozes, mensagens, dimensões políticas e imaginários fantásticos. Abaixo segue a entrevista exclusiva para o esQrever, não percam:

Olá, Débora. Diz-me, como se pronuncia o título do teu novo álbum Alla?

É ála, sim, é mesmo ála. Até falei com uma amiga minha que é sueca, também tinha essa mesma dúvida, e ela disse-me logo, é simplicíssimo. Não tem aquelas pronuncias mesmo nórdicas, os ss e aquelas fonéticas que eles têm.  

Isto chama um pouco a atenção, porque é uma palavra, é não é a única no teu trabalho, que está muito distante da realidade portuguesa. Alla, pelo que eu percebi, é o equivalente ao “todes”…

É “todes”, “everything” e “everyone”. É uma palavra sem género que os suecos têm. E nós em Portugal temos muito o elu, e o inglês não tem muito essa ideia de dar um género à palavra. E os suecos pelo que percebi também têm várias palavras sem género. Achei isso muito interessante e quis ligar isso ao álbum porque é algo sem género, sem rótulos e sem labels.

Portanto há aqui uma associação dupla da ideia de género.

Exato

Género enquanto identidade de género e a de género musical.

Exatamente, é dois em um!

o teatro, o cinema, a dança a moda, são coisas que sempre me significaram muito

Muito interessanteEu estive a ouvir o álbum e em vários momentos torna-se realmente difícil atribuir um rótulo musical.

Sim, é complicadíssimo, também tem vários colaboradores dentro do jazz, do psicadélico, contemporâneo, do clássico. Foi uma partilha de ideias muito… Como é que hei-de escolher uma palavra para definir a experiência em estúdio…? Foi um caos autêntico! Foi um caos bonito.

Pode dizer-se que há um certo elemento do aleatório, da experiência, do não propositado. Ou seja, o deixar levar e ver até onde…

Até onde é que a música nos leva. A todos nós, não estou só a falar de mim e eu quis que eles todos trouxessem a sua essência para o álbum, e não o contrário. Quis que eles viessem com as suas raízes, as suas influências, e não eu “olhem, façam isto assim”. No mundo Surma? Não, de todo, exatamente o oposto.

SURMA bebe de várias áreas artísticas

Portanto, Surma acaba por ser um projeto que abre a possibilidade para ir beber de vários géneros. 

E mesmo de várias áreas artísticas, o teatro, o cinema, a dança a moda, são coisas que sempre me significaram muito. 

Sim e isso verifica-se muito nos teus vídeos musicais, mas iremos regressar a isso mais adiante. Alla tem um certo elemento autobiográfico.

Sim, tem.

A minha pergunta é: como é que tu achas que está equilibrado no álbum, se é que está equilibrado, e se é que tens essa ideia, entre: por um lado, essa ideia do não-género, do sem género e que pertence a Surma, e eventualmente pertencer a ti, enquanto pessoa. E por outro lado, qual é a outra dimensão expressiva, de uma ideia quase de representação artística, e de eventualmente até de uma relação Alla com o que nós hoje em dia chamamos de música queer, ou de imaginários LGBTI+. Que no fundo procuram desconstruir essa ideia de género.

Isso é incrível. Lá está, enquanto SURMA eu sempre quis destruir um bocadinho e desfragmentar essa ideia de estarmos sempre numa caixinha, não é? E de nos rotularmos com um certo género. E desde o início de SURMA que o meu objetivo foi esse mesmo, foi tentar desfragmentar essa ideia.

bullying acho que todos os miúdos passam infelizmente por muito hoje em dia. Quis focar-me um bocadinho nessa ideia de “não estão sozinhos”!

Acho que estes 5 anos de pausa me deram essa maturidade, enquanto pessoa e enquanto artista, o que é que eu queria dar às pessoas, e o que é que queria ser enquanto artista. E o Alla acho foi um switch que me deu na cabeça e, “bora levar-me sem qualquer medo, sem qualquer pressão”. Eu via a palavra vulnerável como uma fraqueza e isso mudou muito nestes cinco anos. E a palavra vulnerável para mim é uma palavra de força, de persistência, e é isso que eu queria dar também com este álbum. Para as pessoas que ainda passam, infelizmente, por muitas questões de bullying e discriminação. Em que ser vulnerável é bom, e falar com pessoas é bom, e não isolarmos é bom. Terapia é incrível, e não fazermos disto um taboo, porque a terapia é mesmo inacreditável e tem-me ajudado muito. E essa palavra sempre foi uma coisa que me retraiu um pouco enquanto artista, e acho que foi um switch na minha cabeça em que agora vou ser eu mesma neste álbum, já chega de ser uma pessoa que eu não sou. 

Apesar do Antwerpen ser… aliás, sou eu, lógico, mas um bocadinho mais retraída do que no Alla. E o Alla sou eu na minha verdadeira essência, a todos os níveis artísticos, pessoais, a tudo, e também quis dar essa transparência às pessoas que o ouçam. Uma mensagem de força e esperança.

Alla possui também um lado político

Uma coisa que há na música e que depende, como é óbvio. de quem ouve e tem a experiência de relação com ela, é o lado social. Eventualmente também o político, o da ideia da mensagem. Será que, neste álbum, e pegando naquilo que estás a dizer, há uma certa mensagem de te ligares à ideia de normas e do desvio, nos estereótipos sociais. Até porque essa ideia de género traz consigo um conjunto de rótulos sociais.

Há, sim, sem dúvida. 

O álbum está escrito e cantado em inglês, ou seja, aí não há uma ligação mais direta à realidade portuguesa através da língua. Mas será que consideras que pode existir alguma contribuição, neste trabalho, para o debate na sociedade?

Eu espero que sim. Canto muito em fonético, e maioritariamente as músicas do álbum são em fonético. Costumo criar uma ligação ainda mais forte a cantar em fonético e a explorar esses murmúrios do que propriamente a ter uma letra. Mas neste álbum foi exatamente o oposto, eu quis criar uma letra para o single, porque senti que tinha uma voz. Sou uma sortuda incrível neste mundo e tinha uma voz ativa e era o meu papel tentar dar às pessoas uma mensagem de esperança e dessa força e persistência. Foi uma situação específica da minha vida, bullying acho que todos os miúdos passam infelizmente por muito hoje em dia. Quis focar-me um bocadinho nessa ideia de “não estão sozinhos”!

Há aquele cliché da ‘luz ao fundo do túnel. Sem sombra dúvida que espero que impacte as pessoas de alguma forma, que lhes dê força para verem que não estão sozinhas no mundo. Não só na situação do bullying, mas também na situação da comunidade LGBT, do racismo, e em todos os problemas que infelizmente ainda passamos hoje em dia e que não era suposto estarmos a passar por isto em pleno século XXI. Não é?

Quando o som se impõe à letra também se sente em Alla

Essa característica do cantar em fonético é uma característica que noto muito e é uma coisa que acho muito interessante. Sente-se que provoca afetos, sentimentos de ligação entre os ouvintes. Apesar de, por esse lado, diluir-se a ideia da mensagem, não é? Precisamente porque não há uma letra, mas o álbum consegue criar um equilíbrio… 

Exato. Mas às vezes acho, falando por experiência própria, que estou a passar uma mensagem ainda mais forte sem letra. Ao vivo, e mesmo em estúdio, sinto muito quando estou a cantar em fonético, e quando pego uma letra de música que tenho a cantar em fonético para mim não faz sentido algum. Por acaso aconteceu, eu duas músicas do álbum, ter o significado oposto com letra, senti mais com letra do que propriamente fonético. Mas maioritariamente fonético é uma coisa que me liga bastante à música. É uma bocadinho estranho mas é assim e não sei porquê.

tenho às vezes várias vozes que canto para dentro de um termo de água. Ou seja, houve uma experimentação assim louca em estúdio.

Falando agora da dimensão instrumental, sabemos que a voz é um instrumento, mas falando dos outros instrumentos. Em termos de timbres, as texturas, provavelmente as paisagens mais eletrónicas que constróis, como é que achas que isso contribui para a mensagem ou múltiplas mensagens que pretendes transmitir com este álbum?

Wow, perguntas incríveis! Nunca tinha pensado nisso…

Apesar de tudo, o álbum tem muitas texturas eletrónicas, mas mesmo na eletrónica…

E há instrumentos muito orgânicos e texturas muito orgânicas…

Exato, e a própria eletrónica tem uma grande variedade e multiplicidade que quem consegue trabalhá-la, e tu consegues muito bem, não sei se o fazes sozinha, mas quem o faz…

De todo. A parte eletrónica até costuma ser mais o Rui, que é o meu partner in crime, como costume dizer. É o rapaz com quem produzo os álbuns e eu vou buscar mais a parte orgânica e explorar vários instrumentos.

Vocês claramente conseguiram fazer um grande equilíbrio e uma grande diversidade. Como é que sentes o resultado final, ficaste contente? Ouve aquele elemento de experiência, de “agora vou experimentar um conjunto de timbres” e se calhar estes funcionam e outros não…?

Uma coisa inacreditável que aconteceu em estúdio, que nunca tinha feito até hoje, foi muito estranho. Nós pensávamos “ok, bora pôr aqui um instrumento o mais estapafúrdio que seja e logo se vê o que dá na música”. E esse instrumento que não dávamos nada por ele, foi o instrumento que ligou a música do início ao fim, com uma textura única. E isso aconteceu no álbum inteiro. Cada música tem um instrumento que achávamos que era “meh”. Por exemplo, temos um tubo de plástico a fazer um som de vento. Acabaram por criar uma narrativa no álbum muito única. Por exemplo, tenho às vezes várias vozes que canto para dentro de um termo de água. Ou seja, houve uma experimentação assim louca em estúdio. E essa pergunta é muito bonita, porque eu tenho sempre imagens na minha cabeça e tendo sempre criar bandas sonoras…

Pois, era isso que eu queria perguntar-te, é que eu sinto que há uma grande abordagem de banda sonora. De imaginário audiovisual, eu sinto-me dentro de um audiovisual quando estou a ouvir este álbum. 

Boa!

Pode ser ou não propositado, e pelos vistos era. Agora que me falaste do plástico que trabalha o vento, isso é um grande trabalho de sound design

Sim, de materiais, texturas,

De muitos materiais que criam paisagens sonoras que se combinam com a música. 

Nunca tinha pensado nisso. 

Aliás, tu já fizeste uma banda sonora, não foi?

Muitas. Isso abriu-me muito a cabeça. Trabalhei com teatro, sonoplastia ao vivo, cinema. São mundos completamente diferentes daquilo a que estás habituado. Criar sonoplastia é uma coisa que me tem aberto muita coisa, inspirações, tentar experimentar tudo e mais alguma coisa. Tentar sons orgânicos. E nunca tinha pensado nisso, mas sem dúvida que me inspirou muito na criação deste álbum, de uma experimentação sonora. E a imagem está sempre presente na minha cabeça, em primeiro plano e então a partir daí é que imagino todo o mundo a acontecer na minha cabeça.

Ou seja, tu pensas primeiro numa certa imagem e depois é que surge a música e começas a explorar os materiais?

Exatamente. O que é muito estranho, supostamente a música é que devia vir ao de cima, mas não, a música fica sempre em segundo plano quando estou a compor. Depende muito do espaço onde estou, e imagino toda uma atmosfera na minha cabeça. É engraçado.

Alla surge após um percurso atribulado, mas incrível

Que desafios musicais e profissionais tiveste que ultrapassar para a criação deste álbum? Considerando que passaram cinco anos, como foi este percurso?

Foi atribulado. Demorei muito a criar este álbum por falta de tempo e de vários trabalhos que ocorreram neste 5 anos. Foi incrível, foram anos muito bonitos. Mas acho que se fizesse este álbum dois anos depois do Antwerpen ter saído acho que não iria ser a mesma coisa. Porque acho que precisava deste tempo para respirar e para me criar enquanto artista. Ter trabalhado em várias áreas deu-me também essa liberdade para criar uma persona que eu já queria criar há imenso tempo. Ao vivo e não só. Quis criar uma persona mesmo dentro de Surma. Fazer um reset do meu som, acho que precisava deste tempo para pensar nisso.

Portanto, há aqui uma persona.

Há! Eu ainda não arranjei um nome para ela, mas há.

Ok! Surma é o projeto e dentro de Surma há uma persona?

Exatamente. 

Isso é muito interessante, porque normalmente a ideia é que Surma seria já ela própria uma persona.

É complicado, mas estes cinco anos deram-me a liberdade para recriar essa personagem. 

Acho que depois temos de voltar a falar sobre isso, quando eventualmente existir uma persona, porque acho que esse aspeto interessantíssimo. A ideia de personas.

Acho que é um bocadinho a libertação da tua própria alma, não é? Da tua rotina, e tentares ir para outros mundos, e eu adoro isso. Dá uma liberdade incrível. Sais um bocadinho da tua bolha. Gosto de me desafiar um bocadinho nesse aspeto. Está em criação ainda.

chegava a casa cansada e já estava um bocado farta de ser uma coisa que não era

Se falarmos em termos de mercados da música, como é que tu achas que este álbum vai ao encontro do que é eventualmente esperado de um mercado de música nacional ou internacional? Ou não costumas pensar nisso? 

Eu não costumo pensar nisso. Não costumo pensar “olha, vou fazer um álbum para chamar massas” ou “para chamar um certo tipo de público”. De todo. Eu vou para estúdio e crio aquilo que me sai no momento, não penso naquilo que vou criar. Aliás, é mesmo a experimentação máxima e logo se vê o que é que o futuro nos reserva. Mas não costumo pensar muito “olha, vou para uma label enorme” ou “vou dar muitos concertos internacionais”. Não! É ir um dia de cada vez. Tenho sido uma sortuda desde 2017 até hoje, tenho tocado muito lá fora, tenho feito muitas tours internacionais. A nível nacional tenho tido um apoio inacreditável e que nunca pensei que acontecesse. Nunca pensei muito porque as coisas ganham o seu próprio rumo.

Engraçado, porque normalmente as pessoas acham sempre que existe uma espécie de molde e de uma tentativa. Então bora seguir o mesmo e vamos todos chegar lá! É engraçado perceber que realmente não existe essa intenção.

Não, de todo. Acho que a magia está nisso mesmo porque acontecem várias coisas que tu não estás à espera. Por exemplo, já tive uma sorte incrível com Antwerpen e fui correr quase meio mundo à custa do Antwerpen. Eu nunca na vida pensei ir a vários países que eu fui enquanto artista. Nunca pensei ir a esses países enquanto turista, quanto mais em trabalho. Lançar aquilo que nós gostamos de fazer, o que amamos, não é? E ir na onda, um dia de cada vez.

SURMA traz muitas e ricas colaborações ao novo álbum

O álbum tem muitas colaborações. 

Muitas.

Com quem gostavas de trabalhar a seguir?

Nacional e internacional?

À tua escolha.

Nacionais queria muitos. Adorava trabalhar com o Bruno Pernadas. Internacionais a St. Vincent, é a minha deusa do coração! [risos] 

Vamos passar para o single, “Islet”. À semelhança de outras músicas a que já nos habitaste, tem uma orientação eletrónica experimental, com uso de vários efeitos e tipos de vocalidade. Sinto que, na música, há uma espécie de grito de libertação, principalmente no clímax. 

Sem dúvida!

Talvez até pelo tipo de vocalidade que expressas no fim. Aqui faço uma pergunta algo provocatória, o que é – ou talvez quem é – este ilhéu que está isolado no mar?

Wow… Quem é este ilhéu…? Eu acho que o ilhéu foi a máscara que a Débora usava há muitos anos. A Débora antiga ficou nesse ilhéu. E deu então essa liberdade para se recriar uma outra formação de coisas bonitas e novas a acontecer. Acho que esta música fala sobre isso mesmo. Foi um processo totalmente terapêutico para mim e para o Rui. Sentámo-nos os dois assim, muito sérios e falámos durante horas e horas e horas de vários processos da minha vida.

Essa música fala de um processo muito específico da minha vida. É o retirar de uma máscara com que já estás há tantos anos e é tão desgastante seres uma pessoa que não és para te incluíres em tantos grupos da sociedade. É mau, é mau… Chegava a casa cansada e já estava um bocado farta de ser uma coisa que não era. Acho que esse ilhéu é essa máscara, essa Débora que ficou aí. Uma Débora que eu não era. E também quis mostrar com este álbum que eu não sou a pessoa que era há uns anos. O Nick Cave deu uma entrevista há uns anos muito interessante onde ele fala sobre isso. Que usou uma máscara durante tanto tempo que ele retirou essa máscara e já não reconhecia a pessoa que estava por trás da máscara. Era uma pessoa que ele não era. Eu não quero isso. Quero retirar e quero ser a pessoa com que me identifico. Acho que o ilhéu  é isso, é uma máscara com a qual já não me identifico.

Será essa a máscara que vemos no início do vídeo musical a ser retirada?

Exatamente. [risos]

o livro 100% Nasty Women of History fala de mulheres feministas das antiguidades que não fazíamos ideia de que existiram, mas que depois abriram tantas portas

A minha interpretação do vídeo é que é uma tentativa de aceitação do corpo, de quem se é, de si mesmo. E o vídeo é uma espécie de viagem por vários espaços onde há desafios e a pessoa vai rompendo com um conjunto de camadas até finalmente mergulhar na água…

… no seu eu, exatamente. Esse vídeo é um bocadinho o meu cérebro em 4 fases. Foi a minha ideia para a casota collective. Olha, eu quero criar o meu cérebro em 4 salas. Então, eles criaram um cenário de raiz e é essa passagem em várias fases da minha vida em que finalmente chegas ao teu eu a 100%. E é mesmo, mesmo isso. Começas assim numa bolinha e vais por aí subindo! Continuo uma pessoa muito insegura, como é lógico, mas pronto, é um processo.

Portanto, apesar de casota collective ter feito a realização, a escolha, pelo menos do tema principal, passou por ti.

Sim. Há sempre um brain storming muito coletivo. Aliás, a Tilda Swinton e o último filme que ela fez com o AlmodóvarA Voz Humana, foi das maiores referências para o vídeo. No que toca a temática, direção de fotografia, tudo.

O vídeo tem uma multiplicidade de artes performativas em simultâneo. Acho muito interessante como cada elemento artístico está incorporado na mensagem. Os próprios bailarinos têm um papel fundamental, sinto quase que são uma espécie da norma…

É a sociedade.

… a impedir-te. Não podes avançar.

Exatamente.

Os livros que SURMA lê impelem-na a recriar bandas sonoras para os mesmos

O que te inspira quando escreves música?

Olha, muita coisa. 

Será cinema?

Literatura. Muitos livros deram muitas referências para este álbum. Entre eles um livro do Saki, de contos muito ficcionais, muito fantásticos. Entrei assim muito no mundo dele e foi um dos livros que mais me marcou este ano, para ser honesta. Mas os livros acho que me inspiram a tentar recriar essas bandas sonoras na minha cabeça, enquanto leio. É uma coisa especial para mim, estou ali no meu silêncio.

Trazes daí um elemento quase fantástico, não é?

É isso, acho que ponho um pouco da minha pessoa nas histórias que os livros contam. Tive dois livros que me puxaram muito para este álbum. Foi esse [do Saki] e 100% Nasty Women of History, que fala de mulheres feministas das antiguidades que não fazíamos ideia de que existiram, mas que depois abriram tantas portas.

E que foram apagadas da história.

Sim, que foram apagadas da história. Aliás, ainda estou a ler, mas é muitas graças a elas que estamos assim hoje em dia. Acho que a literatura me inspirou muito neste álbum em específico. No Antwerpen posso dizer que foi o cinema. Mas acho que tenho várias fases…

Isso é bom, sempre em transformação! Queria dar-te a oportunidade para fazeres um último comentário e enviares uma mensagem aos leitores de esQrever.

Sou a pior a mandar mensagens! [risos] Sei lá… Malta, não se metam por trás de máscaras, porque não é bom. Sejam vocês mesmos. Pronto, estou a ser um bocado cliché…

Não, de todo. Acho que a máscara continua a ser um elemento muito presente nos nossos dias.

Sim, por isso: “malta, não usem máscaras nenhumas e sejam vocês a 100% porque vão encontrar o vosso grupo, o que vos quer a 100%, que vos quer bem e vice-versa”! 

Próximos concertos de SURMA

Porto – Novo Ático (Coliseu) – 11 de dezembro, 19h00

Aveiro – Gretua – 16 de dezembro, 22h00

Lisboa – Culturgest – 17 de dezembro, 19h00

Poderão descobrir o trabalho completo e atualizações de SURMA na sua página.


Por André Malhado

Musicólogo, músico e comentador cultural.

Exit mobile version
%%footer%%