
O cineasta Zach Meiners espera esclarecer quanto aos métodos secretos e violentos que estão envolvidos nas chamadas “terapias de conversão” num novo documentário. Estas são práticas violentas, de tortura e sem qualquer evidência médica ou clínica.
“Conversion” (Conversão em Português) será exibido em Chicago a 12 de janeiro. Nele, a ativista de direitos LGBTQ Elena Joy Thurston relembra as tentativas de conciliar a sua sexualidade queer com a sua fé. Este dilema levaram-na a procurar uma “cura” para a atração que sente pelo mesmo sexo.
“Casei-me aos 20 anos. Aos 30 tinha quatro filhos”, explica Thurston. “Tínhamos uma grande amizade e um ótimo casamento. Mas, quando as crianças foram para a escola, de repente, tinha seis horas por dia para pensar por mim mesma e tinha pensamentos como: ‘Na verdade, não gosto da minha vida.‘” Thurston não compreendia a razão desses pensamentos, dado que se tinha esforçado tanto para ter aquela vida. “Tive que me afastar desses pensamentos.”
Após a sua experiência pela ‘prática de conversão’, Thurston tornou-se fundadora do grupo de defesa LGBTQ conhecido como Pride and Joy Foundation. Ela também fez uma TedTalk para falar abertamente como recuperou:
O próprio realizador é um sobrevivente das “terapias de conversão”
Além de Thurston, “Conversion” destaca várias outras pessoas sobreviventes. Entre elas, está Dustin Rayburn – mais conhecido como o participante de “RuPaul’s Drag Race”, Dusty Ray Bottoms – e o próprio realizador Meiners.
Nascido em Kentucky, Meiners imaginou “Conversion” como uma curta-metragem de apenas cinco minutos. Assim que começou a entrar em contacto com mais pessoas, percebeu que tinha material suficiente para um documentário de longa-metragem.
“Quando descobri que o “terapeuta de conversão” da minha infância ainda praticava ativamente na minha cidade natal, fiquei incrivelmente chocado”, disse Meiners.
Meiners vê a produção do seu filme como “um processo de cura e fortalecimento”. O cineasta deseja que “Conversion” seja um veículo para encorajar sobreviventes “a ter uma voz e saber que não estão sós”.
“A terapia de conversão quase destruiu a minha vida”, disse Meiners, “e eu sabia que tinha que fazer algo para impedir que isso acontecesse a outras pessoas”.
ONU apelou à proibição global das “terapias de conversão”
Em 2020, a ONU apelou à proibição global das “terapias de conversão”, recomendando que os estados-membros:
- Tomem medidas urgentes para proteger as crianças e jovens de práticas de “terapia de conversão”.
- Realizem campanhas para consciencializar figuras parentais, famílias e comunidades sobre a invalidez, ineficácia e os danos causados pelas práticas de “terapia de conversão”.
- Adotar e facilitar serviços de saúde e outros serviços relacionados à exploração, desenvolvimento livre e/ou afirmação da orientação sexual e/ou identidade de género.
- Promover o diálogo com as principais partes interessadas, incluindo organizações profissionais de saúde e medicina, organizações religiosas, instituições educacionais e organizações comunitárias, para aumentar a consciencialização sobre as violações dos Direitos Humanos relacionadas às práticas de “terapia de conversão”.
No passado dia 17 de maio de 2022, Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia, Bifobia e Transfobia, os partidos LIVRE e Bloco de Esquerda submeteram ao parlamento projetos de lei que visam criminalizar este tipo de práticas em Portugal.
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