EUA: Tennessee pode tornar-se no primeiro estado a banir espetáculos de drag

EUA: Tennessee pode tornar-se no primeiro estado a banir espetáculos de drag
Fotografia por Rochelle Brown.

O Tennessee aprovou um projeto de lei que restringe as performances de drag em público ou diante de crianças. Este é um esforço liderado pelo partido republicano para limitar os espetáculos de drag em pelo menos 15 estados.

A lei poderá afetar as celebrações de Orgulho LGBTQ+ e pessoas trans e não binárias que estejam presentes em espetáculos de qualquer tipo.

Os mais de 20 projetos de lei conhecidos são um retrocesso que pretende atacar uma arte que cresceu do mundo underground para o mainstream. Nos últimos anos, alcançou o grande público com RuPaul’s Drag Race ou We’re Here.

Artistas e grupos de direitos civis condenaram os regulamentos propostos que consideram inconstitucionais e redundantes sob as leis de obscenidade já existentes. Alertam ainda que poderão levar a mais assédio e violência contra a comunidade LGBTI+.

O projeto de lei irá seguir para o governador Bill Lee, um político republicano, para assinar a lei.

Não por acaso, houve também a votação para enviar um projeto de lei ao governador que proíbe pessoal clínico de fornecer tratamento médico de afirmação de género, como bloqueadores da puberdade, terapia hormonal e cirurgia, para menores trans. Isto acontece apesar de toda a evidência científica da importância do seu uso.

“A primeira coisa que fazem é atingir-nos, desumanizar-nos, vilanizar-nos e, de seguida, aprovam legislação contra nós”

Peppermint, um artista de drag que alcançou a fama em “Drag Race”, disse que os projetos de lei foram apenas os mais recentes numa longa história da legislação anti-LGBTI+. Segundo ela, os projetos baseiam-se em insultos falsos e perigosos contra a comunidade LGBTI+: que esta está a “preparar” crianças ou a procurar explorá-las sexualmente.

É um argumento-espantalho. Não é real, simplesmente inventam estas histórias“, disse. “A primeira coisa que fazem é atingir-nos, desumanizar-nos, vilanizar-nos e, de seguida, aprovam legislação contra nós.”

Como mulher trans, Peppermint disse que hesitaria em ir agora ao Tennessee, uma vez que artistas trans, mesmo quando não estão em drag, podem ser acusadas de serem um “imitador masculino ou feminino”, termos não definidos no estatuto.

A violência contra a comunidade LGBTI+ é crescente e o drag é um alvo que abrange toda a gente

Tem-se verificado um perigoso aumento dos protestos contra o drag nos Estados Unidos da América. Desde 2021 que pessoas ligadas a políticas conservadoras e a grupos de ódio anti-LGBTQ+ atacaram a comunidade drag numa retórica de ódio em relação a eventos familiares, como a Drag Queen Story Hour (leitura de histórias infantis por drag queens). Devido ao aumento do ódio anti-drag nos EUA, eventos queer têm vindo a receber protestos, ameaças e violência de indivíduos e organizações preconceituosas.

De acordo com um relatório da GLAAD, houve pelo menos 141 protestos e ameaças anti-LGBTQ+ em 2022 em 47 estados do país, com os maiores a acontecer no Texas e na Carolina do Norte.

Drag é mais conhecida pelo seu humor e glamour. Falamos de pessoas que fazem lip synch de músicas pop e dançam em roupas elaboradas“, disse Lynne Pervis, uma administradora dos tribunais do Tennessee. Pervis chegou a fazer drag e testemunhou contra o projeto de lei.

Ver uma drag queen não torna uma criança gay ou trans, mas pode ajudar crianças queer que estão a sofrer para que haja esperança de um dia poderem expressar-se livremente.”

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