As pessoas que se submeteram a mastectomia de afirmação de género em adultas praticamente não se arrependem e têm níveis muitíssimo elevados de satisfação. É esta a principal conclusão de um novo estudo publicado na JAMA Surgery.
Os resultados foram tão positivamente polarizados que não foi possível realizar as complexas análises estatísticas planeadas devido à impressionante uniformidade nas respostas dadas. “Com base em nossa experiência anterior com essa população de pacientes, esperávamos que as pessoas ficassem muito satisfeitas com sua decisão de fazer a cirurgia, mas ficamos surpresos ao descobrir o quão pouco esses resultados variaram“, disse Megan Lane, cirurgiã da Universidade de Michigan e que liderou o estudo.
No que toca à sua satisfação após a cirurgia, a pontuação mediana dada por 139 respostas elegíveis foi de cinco (média de 4,8 de um possível 5). Por outro lado, quando ao arrependimento, a pontuação mediana foi de 0 (média 4,2 de um possível 100). Importa referir que estes são valores tipicamente mais positivos que os encontrados noutras cirurgias como tratamento ao cancro da mama e de reconstrução.
Ian Nolan, Brielle Weinstein e Loren Schechter também observaram como os resultados são “impressionantes” em comparação com as taxas de arrependimento de outros tipos de tratamentos médicos. Para a equipa, esta descoberta destaca um “padrão duplo“. “Na cirurgia de afirmação de género, as preocupações com o potencial de arrependimento são frequentemente usadas para negar ou limitar o acesso a cuidados médicos necessários“, disseram. No entanto, os níveis de arrependimento de outros procedimentos são muitas vezes significativamente mais altos. “Curiosamente, nenhum esforço legislativo visa proibir esses procedimentos.”
Estudo reforça a importância das cirurgias de afirmação de género e do seu acesso
O estudo vem apenas confirmar a tendência de outros que apontam no mesmo sentido: cirurgias de afirmação de género em pessoas adultas salva vidas. Esta é precisamente a posição da Organização Mundial da Saúde cujas diretrizes enfatizam “a importância de programas nacionais estabelecerem e fornecerem cuidados que afirmação de género ou vinculação e encaminhamento efetivos para serviços que possam fornecer tais cuidados”.
Já no início de 2023, um outro estudo mostrou como cuidados de afirmação de género são benéficos para a saúde mental de adolescentes trans. Estes são procedimentos que, quando associados ao uso de bloqueadores de puberdade em jovens trans, possuem um elevado grau de sucesso na melhoria da sua saúde física e mental.
A equipa que realizou o novo estudo observou que os baixos níveis de arrependimento após procedimentos cirúrgicos de afirmação de género podem, ainda assim, envolver vários fatores distintos do arrependimento de outros tipos de procedimentos. Isso pode incluir o arrependimento social ligado ao aumento do estigma e da discriminação após procedimentos ou uma perda de sistemas de apoio social.
“O arrependimento em relação à própria identidade é raro“, escreveram.