Júlia Mendes Pereira Poderá Ser Primeira Deputada Trans Em Portugal

O Bloco de Esquerda deverá anunciar hoje em Setúbal a candidata a deputada Júlia Mendes Pereira. A confirmar-se, e estando ela também numa posição elegível, poderá tornar-se na primeira deputada transgénero em Portugal. Júlia tem já percurso reconhecido no activismo europeu na área das minorias sexuais.

A lista setubalense de Júlia Pereira é encabeçada por Joana Mortágua, irmã da deputada Mariana Mortágua (em cima), que lidera a lista por Lisboa.

Diz o Diário de Notícias:

Dirigente da associação “Ação pela Identidade“, a escolha de Júlia Pereira poderá significar que o Bloco quer apostar nos temas fraturantes na próxima legislatura. Se a ativista chegar ao parlamento, Portugal tornar-se-á num dos primeiros países da Europa a contar com uma deputada transexual. O primeiro caso aconteceu na Polónia: em 2013, a deputada transexual Anna Gradzka foi eleita para o parlamento pelos Verdes.

O referido jornal não tem sido exemplo no que trata a estes temas, mostrando algum descuido no uso das palavras e expressões que usa. Neste exemplo usa a expressão em desuso “transexual” em vez de “transgénero” que tem sido preferida por melhor representar a questão trans. Trata-se, sim, de uma questão de género e não do foro sexual (como por exemplo a heterossexualidade, homossexualidade ou bissexualidade). Daí uma pessoa ser cisgénero (ou transgénero) não é espelhado na sua orientação sexual, pode ser qualquer um dos casos. No entanto, e temos essa noção, o Diário de Notícias está longe de ser o pior caso no que respeita a estas questões, apenas sentimos alguma frustração por lhe faltar tão pouco para se tornar num jornal de referência quando trata temas LGBT.

Expressões à parte, esta é uma notícia importante para dar visibilidade e educar a população do que é ser-se transgénero, para além da continuação do empenho que o Bloco tem tido desde a sua fundação nas questões dos direitos humanos e, em particular, dos das minorias.

Actualização: Confirmada a candidatura da Júlia:

A feminista e ativista dos direitos das pessoas transexuais e intersexo Júlia Mendes Pereira integra a lista do Bloco às legislativas 2015 pelo distrito de Setúbal, que é encabeçada por Joana Mortágua. Júlia Pereira é cofundadora e codiretora da associação API – Ação Pela Identidade – “grupo liderado por jovens ativistas que tem como fim a defesa e o estudo da diversidade de género e das características sexuais” -, é membro do Steering Committee da TGEU – Transgender Europe, organização europeia de defesa dos direitos das pessoas trans, e foi coordenadora do GRIT – Grupo de Reflexão e Intervenção sobre Transexualidade da associação ILGA Portugal. A ativista torna-se assim a primeira mulher transexual a candidatar-se à Assembleia da República.

Actualização #2:

Não pude deixar passar alguns dos comentários que li na página oficial do Bloco de Esquerda no Facebook (cliquem na imagem para lá ir ter), são exemplo de ignorância, preconceito e transfobia. São pessoas que tentam mostrar-se superiores aos restantes impondo os seus princípios de igualdade absoluta, minorando assim o acto absolutamente relevante de podermos ter uma deputada transgénero no nosso Parlamento. Mais, colocam em questão as qualidades da mesma a priori. Pior, confundem a questão com a sexualidade da pessoa, pergunto: onde foi anunciada a sexualidade da pessoa? Por confusões destas, mais ou menos inocentes, que me faz mais sentido a designação “transgénero” e não “transsexual”, como expliquei acima. Fica ainda mais óbvio que se trata de uma questão de género e não de sexualidade quando os comentários transfóbicos são feitos precisamente por homens. Ficamos assim esclarecidos quanto à sua intenção.

Poderão apoiar a candidata comentando também, assim o fizemos:

Aconselho algumas das pessoas que aqui deixaram o seu comentário a deixar também o seu preconceito ou transfobia disfarçados e parem de complicar o que é simples e, no entanto, notável. Parabéns à Júlia e ao Bloco!

Fontes: Diário de Notícias, Dezanove, Facebook e Esquerda.net.

Nota: Obrigado à Célia pela partilha da notícia 🙂

Por Pedro Carreira

Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc

4 comentários

  1. Pedro Carreira – Portugal – Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc
    pedro_jose diz:

    Hehe é mesmo ela 🙂 vou apagar então (respondi para veres notificação)

    1. Pedro Carreira – Portugal – Ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e na esQrever. Opinião expressa a título individual. Instagram/Twitter/TikTok/Mastodon/Bluesky: @pedrojdoc
      pedro_jose diz:

      É mesmo isso! 😀

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