NuPRIDE: Novo núcleo LGBTI da FCT enfrenta ‘orgulho hétero’

 

Tal como os núcleos QueerIST, do Instituto Superior Técnico, ou o OutCiências, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, surgiu esta semana o NuPride, o núcleo LGBTI da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Este núcleo pretende promover “a discussão e a divulgação de informação sobre a temática LGBTQ+”, apresentando como seu “principal objetivo ajudar a eliminar a invisibilidade e isolamento da comunidade LGBTQ+ na faculdade.” E se o principal objetivo poderá ser esse, o primeiro talvez seja como lidar com a criação no dia seguinte de várias páginas do Orgulho Hetéro dessa mesma faculdade e outras.

 

Importa aqui entender alguns pontos. Nomeadamente entender por que um pseudo orgulho hétero, seja em formato de provocação ou de mera piada de mau-gosto, é ofensivo. Duplamente ofensivo, acrescentaria, quando foram precisos 42 anos na história da faculdade em questão para que fosse criado um núcleo de apoio e sensibilização a estudantes LGBTI. E porquê falar em Orgulho LGBTI e não no orgulho hétero? Porque o primeiro é contraponto à vergonha, ao silêncio, ao armário, à desigualdade, à discriminação, ao ódio, ao crime. Historicamente foram as orientações sexuais e as identidades de género minoritárias que foram perseguidas, que foram criminalizadas, enxovalhadas, minoradas e, em muitos casos ainda no mundo hoje em dia, mortas. E tudo isto, lamento, não faz qualquer sentido na história e na identidade da pessoa heterossexual. Fazer uma ligação direta, inocente ou não, ao sentimento de orgulho sem perceber este contexto, não deixa de ser uma piada pobre.

 

Mas não é só pobre como é também perigosa. É neste sentido que o dever de responsabilidade social que cada pessoa se deve reflectir na sua convivência, no seu dia-a-dia. Porque uma brincadeira destas não é apenas uma brincadeira de mau-gosto. É divulgar ideias que poderão ser validadas por quem as leia. E pelo que li em alguns dos comentários, assim aconteceu. A desvirtuação daquilo que representa o Orgulho LGBTI e daquilo que a população tem lutado ao longo das últimas décadas é assim rasurado a troco de uma homofóbica risota.

 

E isso é duplamente infeliz. Porque, para além de desvalorizar o simbolismo do Orgulho LGBTI, tornará ainda mais difícil a vida de estudantes LGBTI dentro da faculdade. Porque esta risota facilmente poderá surgir-lhes. E quando digo risota, digo ódio, preconceito e armário. Vale a pena perguntar, quem ganha com estudantes que não se sintam confortáveis no seu espaço académico? Não podemos pois permitir que o preconceito vença.

 

É aqui que surge o NuPRIDE. Com o apoio da respetiva Associação de Estudantes, importa agora deixar uma mensagem bem clara a quem acha que o Orgulho não simboliza a luta histórica pelos direitos e pela identidade, que não simboliza a sobrevivência de quem é corrido de casa por ser quem é, que não é a resposta a quem outrora aceitou a vergonha como absolutamente sua, que não é a única solução contra o isolamento da pessoa LGBTI. Que se façam pois ouvir, orgulhosamente!