
Amamentar foi sempre a minha vontade. Sabíamos que era o melhor para ele e, convenhamos, o mais simples, o mais barato, o mais prático, logo o melhor para nós também. Sabíamos que amamentar poderia não ser fácil no imediato, mas somos mulheres privilegiadas e com acesso ao bem mais precioso de todos: informação. E sabíamos quais poderiam ser as maiores dificuldades e o que fazer e a quem recorrer em caso de aflição. O que nós não sabíamos é que durante o puerpério a pessoa deixa de conseguir raciocinar com clareza. E amamentar transformou-se num pesadelo.
Nada daquilo me parecia “natural”, “orgânico”, “prazeroso”. Durante 6 semanas amamentei o meu filho de lágrimas nos olhos, com muita dor, rancor e tristeza. Pegar no meu bebé para o alimentar era um tortura.
Procuramos ajuda em muitas e variadas frentes e a pergunta que ouvíamos era recorrente: mas se são duas e uma das mães está assim porque é que a outra não amamenta? Das primeiras vezes ainda explicávamos a coisa de forma “educativa”, mas a paciência tem limites. A outra mãe não amamenta porque não quer. Ponto. Haver 4 mamas no casal não é sinónimo de haver 4 mamas leiteiras. Até porque, como dizia o outro, mamas há muitas, seu palerma.
Entravamos nas consultas (várias) em lágrimas e saíamos em lágrimas e zangadas. Tudo aquilo virou uma espécie de fetichismo. Sim, somos duas. Não, não queremos as duas amamentar. E sabe que mais, Sra. Doutora/Enfermeira/IBCLC/Fisioterapeuta/Osteopata/Terapeuta Craniosacral? Na verdade, já nenhuma das duas quer amamentar.
Na maternidade toda a gente tem opinião sobre tudo
Nisto da maternidade toda a gente tem opinião sobre tudo. Tudo o que fazes está mal. Se fizeres assim és mãe-merda. Se fizeres assado mãe-merda serás. E talvez por isso tenha continuado a amamentar, mesmo sem vontade. Devia ter parado mais cedo? Devia. E estava tudo bem na mesma. Em vez disso obriguei-me a semanas de sofrimento e desdém, um dia de cada vez.
Hoje o meu filho tem 5 meses e meio e ainda mama. Numa conjugação de fatores milagrosos, a amamentação deixou de ser um suplício. E a partir desse momento consegui finalmente apaixonar-me por aquele pequeno humano perfeito que cresceu dentro de mim. Por isso irei continuar a amamentar enquanto fizer sentido para o meu filho e para mim.
Fala-se muito (cada vez mais e ainda bem) sobre boas práticas na primeira infância, hospitais amigos dos bebés, partos humanizados, movimento livre, BLW, etc., etc., mas não nos podemos nunca esquecer que ser amigo das mães é ser amigo dos bebés.
Esta crónica foi escrita com um bebé a dormir deitado a fazer da mama chucha.

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