
Young Royals é uma série sueca da Netflix. O drama adolescente segue o príncipe da Suécia, Wilhelm, que quando chega a um internato sente-se atraído por Simon, um colega de escola, quando o ouve cantar no coro. Ao longo da primeira temporada, o relacionamento deles enfrenta uma série de desafios. No início da segunda, numa espécie de espelho do primeiro encontro, outro jovem, Marcus, também é atraído por Simon quando o ouve cantar no quarto. O magnetismo da música mostra como esta desempenha um papel importante na história, unindo e construindo afetividades entre personagens.
A música que Simon compôs e canta na série Young Royals é a sua mais íntima forma de expressão. Ela é autobiográfica, fala sobre o desgosto amoroso que Simon sofreu com Wilhelm, bem como a sua incapacidade de esquecê-lo. No enredo, a música desempenha um papel crucial porque é uma espécie de tecnologia social. Na investigação académica, o termo refere-se à capacidade da música transformar as pessoas, tanto individual quanto coletivamente. É por meio da música que as pessoas conseguem fazer algo que não seriam capazes de realizar isoladamente, tornando-a um auxílio na intimidade e nas relações humanas.
A música em Young Royals serve de veículo de expressão
Curiosamente, Wilhelm, o príncipe da Suécia, também recorre à música para lidar com os seus sentimentos. Ele visita o local onde costumava conviver com Simon e, lá, coloca os fones de ouvido enquanto observa uma série de fotografias. A música tem o poder de aproximá-los novamente por meio das memórias, reativando as experiências alegres que tiveram juntos. Por sua vez, Marcus também encontra uma conexão com Simon através da música. Durante o primeiro encontro, numa noite de karaoke, Marcus admite que não sabe cantar, mas mesmo assim eles fazem um dueto no bar. Independentemente das diferentes habilidades técnicas, essa cena mostra-os em harmonia, divertindo-se e compartilhando uma atividade musical que, mais uma vez, os une.
Na vida de Simon, a música não é apenas uma extensão da sua identidade, mas sim uma parte essencial de quem é. Uma das suas professoras reconhece o seu talento musical e incentiva-o a explorá-lo. Simon vive a sua sexualidade através da música, que mais do que uma autodescoberta é um instrumento de intervenção social e política. A canção que Simon compõe é inspirada no hino da escola, que simboliza força, determinação, mas também conservadorismo. Por meio dessa música, a narrativa vai explorar um conflito central: o príncipe Wilhelm, obrigado pelas regras da corte a ser heterossexual e a garantir o legado (ter filhos), apaixona-se por outro homem, Simon. A música torna-se, assim, uma expressão poderosa desse dilema, representando a luta entre as expectativas impostas e a necessidade de transformação social.
A música é também liberdade e orgulho
Durante a gala de aniversário da escola, Simon propõe à professora que o coro cante uma versão atualizada do hino. Ele acredita que uma versão modernizada transmitiria uma mensagem de progresso. No entanto, um dos representantes da corte intervém no último momento e decide que a corte, e a escola, precisam reforçar a sua imagem de estabilidade. Infelizmente, isso significa que Simon não pode cantar a música representativa da sua identidade e amor por Wilhelm. Desse modo, ele sente que uma parte de si foi aprisionada. O coro é, por fim, forçado a cantar a versão original, e Simon fica visivelmente abatido entre os seus colegas.
O acontecimento proporciona o alento que o príncipe Wilhelm necessitava. Durante o discurso no final da gala, ele corajosamente admite a sua homossexualidade diante da escola e das câmaras de televisão locais. Essa mensagem destaca que as tradições devem transformar-se. Por conseguinte, a música composta por Simon desempenha um papel crucial nesse processo, mesmo que de forma indireta – precisamente pelo facto da sua interpretação ter sido impedida. A arte musical ajuda a iniciar uma trajetória de modernização nos códigos de conduta tradicionais e conservadores, onde até esse momento a homossexualidade não tinha espaço. Agora, a Suécia tem um príncipe homossexual que desafia os valores da corte, tudo porque está apaixonado por um músico. Young Royals é, então, uma narrativa que destaca a importância da música como uma força transformadora que, ao dar um “empurrão” ao amor, desafiam as normas sociais estabelecidas.

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