Wendy Carlos é uma figura emblemática na música eletrónica e uma pioneira dos direitos trans. Desde ajudar a desenvolver o sintetizador Moog até revolucionar a música clássica com o seu álbum “Switched-On Bach”, a sua trajetória é marcada pela inovação e coragem.
Wendy Carlos nasceu em 1939 e começou a estudar música aos seis anos quando iniciou aulas de piano. Prosseguiu os seus estudos em música e física na Brown University, em Rhode Island, e depois completou um mestrado em composição na Columbia University, em Nova Iorque, onde começou a explorar a música eletrónica.
Wendy Carlos e o desenvolvimento do Sintetizador Moog
Foi em Nova Iorque que conheceu Robert Moog, ajudando-o a desenvolver o famoso sintetizador Moog, lançado em 1964. Em 1968, Wendy lançou o álbum “Switched-On Bach”, que apresentava peças de Bach interpretadas no sintetizador Moog, tornando-se um sucesso inesperado.
Este foi um dos primeiros álbuns clássicos a vender meio milhão de cópias, eventualmente atingindo o disco de platina e levando a música eletrónica ao mainstream.
Consciência e Experiência Trans
Wendy Carlos teve um impacto profundo não só na música, mas também na visibilidade das pessoas trans. Em entrevista à Playboy em 1979, Carlos recordou que a sua consciência de ser uma menina era uma das suas primeiras memórias, por volta dos cinco ou seis anos: “Lembro-me de estar convencida de que era uma menina, preferia cabelo comprido e roupas de menina, e não entendia por que os meus pais não viam isso claramente“.
Durante os seus estudos académicos, Wendy teve um date com uma rapariga e sentiu-se “tão ciumenta dela que estava fora de mim“. Ao entrar na Columbia University em 1962, cruzou-se pela primeira vez com estudos sobre questões trans. E também pela primeira vez reconheceu ali os seus sentimentos. “Não entendia por que insistiam em me tratar como um rapaz. Mas queria que me amassem e sentia que, se me comportasse como queria, perderia o amor deles – então comecei a esconder os meus sentimentos muito cedo.”
Em 1966, Wendy entrou em contacto com o pioneiro dos direitos trans Harry Benjamin, que começou a aconselhá-la sobre a sua transição. Dois anos depois, o mesmo ano em que lançou “Switched-On Bach”, começou a terapia hormonal e contou a algumas pessoas próximas. À medida que a terapia hormonal começou a provocar mudanças na sua aparência, ficou claro que o seu álbum de estreia era um sucesso fenomenal e que seria abordada pela imprensa.
A Revelação Pública de Wendy Carlos
Com receio de ser vista publicamente como mulher, Wendy tentou desesperadamente disfarçar-se de homem em aparições na TV, como a sua participação na BBC em 1970, usando peruca e patilhas postiças.
Em 1979, aumentou a conscientização sobre questões trans ao revelar que vivia como mulher desde pelo menos 1968 e que, em 1972, tinha realizado a cirurgia de redesignação sexual.
Carlos revelou a sua condição trans numa série de entrevistas publicadas na edição de maio de 1979 da revista Playboy. Explicou que “sempre esteve preocupada com a libertação e [queria] libertar-se“. Em 1985, falou sobre a reação à sua transição: “O público mostrou-se surpreendentemente tolerante ou, se preferir, indiferente… Nunca houve necessidade desta charada ter ocorrido. Provou ser um desperdício monstruoso de anos da minha vida“.
Wendy descreveu a melhor reação quando contava a amigos e conhecidos: “As pessoas não se abalam nada“. Disse: “Elas apenas continuam e dizem: ‘Isso é fascinante. Como eu estava a dizer…’ Essa é a melhor experiência.“
A vida e a carreira de Wendy Carlos são um testemunho da sua coragem e inovação, tanto na música como na luta pelos direitos das pessoas trans.
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