
No passado sábado, 12 de outubro, o Queer Porto celebrou a sua edição número 10, com a habitual Sessão de Encerramento a ter lugar na Sala 1 do Batalha. O festival, que tem vindo a consolidar-se como uma referência na promoção de narrativas queer no cinema, revelou os filmes premiados da Competição Oficial e do Prémio Casa Comum, num ano marcado por desafios globais e um forte aumento de público.
Competição Oficial: A Intimidade e a História em Destaque
O prémio de Melhor Filme foi atribuído a El Polvo (2023), realizado por Nicolás Torchinsky. A obra argentina destaca-se pela simplicidade e profundidade dos seus planos, que nos transportam para o universo íntimo da personagem Tia Juli, enquanto a sua vida é explorada através de gestos e olhares subtis. Um filme sobre memória e legado, onde o “desfazer” de uma casa se torna numa metáfora poderosa para a preservação da vida e das histórias que ela contém.
A Menção Especial foi para Lesvia (2024), de Tzeli Hadjidimitriou, uma homenagem quase onírica à ilha de Lesbos e à sua importância histórica para a comunidade lésbica. O documentário não só relembra esse espaço mítico, mas também o reinterpreta à luz das transformações atuais, numa viagem emocional e visualmente cativante.
O Prémio do Público, por sua vez, reconheceu o impacto de Salão de Baile / This Is Ballroom (2024), de Juru e Vitã. Esta celebração da cultura ballroom no Brasil sublinha a força das comunidades queer, evidenciando a resistência através da dança e da performance, num ato de reivindicação da identidade e de espaços de pertença.
Prémio Casa Comum: Arte, Desafios e Emoções Queer

O Prémio Casa Comum destacou Spillovers (2024), de Ritó Natálio, como Melhor Filme. Uma obra portuguesa que cruza performance, música e literatura para explorar uma narrativa ecotransfeminista ousada. O filme oferece uma reflexão sobre a fluidez das fronteiras e a criação de novas formas de expressão queer, desafiando as estruturas sociais e estéticas convencionais.
A Menção Especial foi atribuída a Carta ao Pai (2023), de Rafael Ferreira, um registo autobiográfico comovente pela sua autenticidade. Com apenas 10 minutos de duração, este filme curto consegue criar uma ressonância emocional profunda, tocando em temas de reconciliação e aceitação através da simplicidade e honestidade do seu protagonista.
Um Festival Queer Porto de Resistência e Utopia
Nesta 10ª edição, o Queer Porto expandiu a sua programação para novos espaços, como o mítico Passos Manuel, e registou um significativo aumento de público. As sessões de cinema, conversas e exposições refletiram um diálogo entre as vivências queer e os desafios políticos globais, desde a guerra na Ucrânia ao genocídio em Gaza, passando pela ascensão da extrema-direita e a crise das migrações.
O festival mostrou ser não apenas um espaço de resistência, mas também de criação de utopias. Num mundo que se fragmenta, o Queer Porto continua a abrir portas para novas formas de imaginar e construir uma sociedade mais inclusiva e justa, onde as experiências queer são vividas em liberdade e autenticidade.

A esQrever volta a ser parceira media do Queer Lisboa e do Queer Porto em 2024.

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