
Recentemente, um estudo da UNICEF sobre a violência sexual contra crianças causou uma forte reação em Portugal, refletindo um profundo desconhecimento na prevenção e ajuda desta questão alarmante. A associação Quebrar o Silêncio, a única organização no país que apoia homens e rapazes vítimas de violência sexual, destacou a urgência de uma resposta eficaz a este problema.
De acordo com a UNICEF, uma em cada cinco crianças na Europa é ou será vítima de abuso sexual. No entanto, Portugal continua sem um plano nacional de prevenção. Ângelo Fernandes, fundador da Quebrar o Silêncio, sublinha que, apesar das estatísticas preocupantes, muitas pessoas profissionais e famílias desconhecem como agir perante casos de abuso sexual infantil.
A surpresa com os dados apresentados não é uma novidade para a associação. Apesar da mesma promover formações e workshops, a adesão é quase inexistente. Famílias e profissionais tendem a evitar abordar o tema, o que dificulta a criação de uma cultura preventiva. O diretor da associação lamenta a resistência no envolvimento nestas discussões essenciais.
Outro ponto crítico levantado pela associação é o desconhecimento de profissionais sobre a sua obrigação legal de denunciar casos de abuso sexual infantil. Em muitas escolas, o corpo docente desconhece o crime e os procedimentos necessários para agir. Este desconhecimento atrasa ou impede a denúncia e a proteção das vítimas.
Dar respostas às famílias, ao corpo docente e às próprias vítimas é essencial para parar o ciclo de violência sexual
Para colmatar esta lacuna, a Quebrar o Silêncio lançou o manual “Princípios básicos para a prevenção da violência sexual contra crianças”, destinado a profissionais que lidam com crianças. Este guia, criado com o apoio de diversas entidades, como a APAV e o Ministério da Educação, explica como identificar e agir em casos de abuso.
Também em 2022, a associação lançou um guia para identificar abuso sexual entre homens que têm sexo com homens. O guia pretende ajudá-los a a identificar situações de abuso sexual que por vezes passam despercebidas ou que não são reconhecidas enquanto tal.
À luz do estudo da UNICEF e da realidade em Portugal, a associação apela à criação urgente de um plano nacional de prevenção da violência sexual contra crianças. O silêncio e a inação perpetuam o ciclo de abusos, e é vital que Portugal avance com medidas estruturadas que protejam as suas crianças.

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