
O documentário Outlasting – Living Archives of Older Queers, com estreia marcada para 2025, apresenta-se como uma poderosa celebração das vidas e lutas de pessoas LGBTQI+ seniores na Europa do Sul. Realizado por Nuno Barbosa e com direção científica de Ana Cristina Santos, o filme integra o projeto TRACE, que se debruça sobre a cidadania queer ao longo do tempo, analisando questões como o envelhecimento, o idadismo e as políticas LGBTQI+ na Europa.
Este documentário foca-se em cinco países do sul da Europa — Portugal, Itália, Grécia, Malta e Eslovénia — e destaca as histórias de resistência, resiliência e dignidade de pessoas queer seniores, cujas experiências se tornam fundamentais para compreender o caminho que percorremos enquanto sociedade. São estas histórias de vida que nos ajudam a perceber que as pessoas queer sempre existiram, desafiando a narrativa conservadora de que a diversidade sexual e de género é uma “moda” dos tempos modernos.
Há outras pessoas como tu. Vai e encontra-as, porque quando as encontrares vais também encontrar-te a ti mesma.
Em Portugal, as gerações queer mais velhas viveram sob a opressão de uma ditadura que não só condenava a dissidência política, como também impunha um forte controlo sobre a sexualidade e os papéis de género. As histórias que emergem deste documentário trazem à luz as experiências de pessoas que tiveram de viver na sombra, reprimindo as suas identidades ou enfrentando perseguições, mas que, ainda assim, encontraram maneiras de resistir e sobreviver.
Essas mesmas pessoas são agora testemunhas de um tempo em que a sociedade se transformou radicalmente, abrindo espaço para a liberdade que celebramos hoje. No entanto, o documentário não só reconhece as suas lutas, como também as apresenta como pioneiras. Elas enfrentaram barreiras que possibilitaram as liberdades que as gerações mais novas desfrutam, tornando-se fundamentais para a mudança que veio com a democracia e o avanço dos direitos LGBTQI+.
A importância da visibilidade de pessoas queer seniores: Desafiar o idadismo e o apagamento histórico
Uma das grandes forças do Outlasting reside no seu foco na visibilidade de pessoas queer seniores. Num mundo onde o envelhecimento é muitas vezes acompanhado de invisibilidade social, o documentário surge como uma resposta à marginalização que muitas pessoas LGBTQI+ seniores continuam a sofrer, tanto dentro como fora da comunidade queer. O idadismo é uma realidade que afeta especialmente as pessoas queer mais velhas, cujas histórias e contribuições são muitas vezes ignoradas.
Vais cometer erros pelo caminho, mas nunca te arrependas…
O documentário não só oferece uma plataforma para as suas vozes, como também desafia o apagamento histórico, reafirmando que a diversidade sexual e de género não é algo recente. Desde tempos imemoriais, pessoas queer têm existido, resistido e reclamado os seus direitos. Esse ponto é especialmente importante num momento em que discursos conservadores e retrógrados tentam sugerir que as questões LGBTQI+ são “modas” ou que ameaçam os valores tradicionais. A verdade é que, como o documentário demonstra, a existência queer é uma constante na história humana, e as pessoas mais velhas são a prova viva dessa continuidade.
Memória coletiva como ferramenta de resistência
Embora as gerações mais velhas tenham conseguido criar um espaço mais livre para as identidades LGBTQI+, os desafios estão longe de estar ultrapassados. O futuro reserva novas batalhas, como o combate ao idadismo, a melhoria de condições para o envelhecimento da população queer e a necessidade de proteger as conquistas já alcançadas face à ascensão de movimentos conservadores.
À medida que a população LGBTQI+ envelhece, é crucial criar redes de apoio e solidariedade que garantam que as pessoas queer seniores possam viver com dignidade, segurança e aceitação. A luta pelos direitos LGBTQI+ é contínua e intergeracional. Aquilo que as gerações mais velhas conquistaram deve ser honrado e expandido, para que as futuras gerações não enfrentem as mesmas discriminações.
A liberdade não pode ser tomada como garantida, as coisas podem mudar a qualquer momento.
Outlasting – Living Archives of Older Queers é um convite para olharmos para trás e aprendermos com as histórias de quem abriu caminho para a sociedade em que vivemos. Ao resgatar essas memórias, o documentário faz mais do que celebrar o passado; ele torna-se uma ferramenta de resistência e de projeção para o futuro, lembrando-nos que as conquistas só são duradouras se continuarmos a lutar pela inclusão e pela dignidade de todas as pessoas, em todas as idades.
Que este documentário sirva como um lembrete de que a visibilidade importa — não apenas para o presente, mas para manter viva a memória de quem tornou este presente possível e para potencial um futuro que rime com liberdade.

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