O Legado Queer de Buffy – Caçadora de Vampiros: Entre o Passado e o Presente

A série Buffy – Caçadora de Vampiros, que marcou o final dos anos 90 e início dos 2000, destacou-se como uma das primeiras séries adolescentes a trazer personagens queer visíveis e complexas para a televisão.

A série, transmitida entre 1997 e 2003, marcou gerações e tornando-se icónica para a população LGBTQ+ por trazer personagens e relações queer ao grande público. Neste mês, durante o evento “Buffy’s Biggest Slays” no Tubi, Amber Benson, que deu vida a Tara – uma das primeiras personagens lésbicas de forma complexa e positiva na televisão –, partilhou como foi viver esses tempos desafiadores, mas também inspiradores, com um impacto duradouro na representatividade queer.

Na entrevista para a Out, Benson destacou a importância do relacionamento entre Tara e Willow (Alyson Hannigan), não só para a série mas também para fãs LGBTQ+ que, ao assistir, encontravam uma “mão amiga” em tempos de isolamento e rejeição. “Com Buffy, senti que estava a fazer algo importante e que não era apenas um programa de televisão“, contou. Para jovens LGBTQ+ que viviam em isolamento e sem uma comunidade queer, a relação entre Tara e Willow era uma representação de amor e empatia. “Willow e Tara ajudaram a criar a Dawn, e antes de tudo correr mal, o seu relacionamento era muito especial e importante,” relembrou Benson.

Relações LGBTQ+ eram vistas como tabu

Apesar do impacto positivo, a representação de uma relação lésbica trouxe resistência. Benson recorda como as cenas entre Willow e Tara eram cuidadosamente vigiadas pela produção, enquanto cenas intensas entre Buffy e Spike eram permitidas sem problemas.

Beijo entre Tara e Willow em Buffy.

O Legado Queer de Buffy - Caçadora de Vampiros: Entre o Passado e o Presente

Tivemos muita resistência dos padrões e práticas. A produção estava desconfortável com raparigas a beijarem-se ou estarem juntas na cama,” explicou. Essa dualidade expunha as tensões culturais da época, onde relações LGBTQ+ eram vistas como tabu, enquanto conteúdos heteronormativos mais explícitos passavam sem grandes objeções.

Um dos momentos mais marcantes para Benson foi quando um colega da equipa de arte comentou que, apesar das limitações, a sua representação ajudava a transformar a perceção do público sobre o que significa ser queer. “Estavam a assistir ao programa e nunca conheceram um casal queer, mas amavam a Tara e a Willow,” relatou. Este feedback fez com que Amber e Alyson sentissem que o simples facto de existirem no ecrã era revolucionário e uma ponte para audiências que, de outra forma, nunca teriam contacto com uma relação queer positiva.

O legado queer de Buffy permanece vivo e muito acarinhado pela comunidade queer

Curiosamente, apesar do potencial para receber reações negativas, Benson diz que raramente foi alvo de ódio. No entanto, um presente misterioso destacou-se – uma caixa gigante de pastilhas de menta com cafeína. “Ou alguém não gostava da Tara, ou alguém achava que eu tinha mau hálito,” brincou a atriz, ilustrando a natureza peculiar das respostas que recebia.

Hoje, passadas duas décadas, o legado queer de Buffy permanece vivo e muito acarinhado pela comunidade queer. Tara e Willow não foram apenas personagens, mas símbolos de resistência e aceitação, especialmente em espaços onde tais narrativas não existiam.

A série pavimentou o caminho para mais histórias queer no mainstream e mostrou que a representação genuína é fundamental para a inclusão e aceitação. Esse legado permitiu, por exemplo e noutro estilo, a existência da também vampírica What We Do In The Shadows. Este legado não só ressoou com quem cresceu a ver Buffy, mas também continua a inspirar novas gerações a questionar normas e a celebrar a diversidade na ficção.



A esQrever no teu email

Subscreve e recebe os artigos mais recentes na tua caixa de email

Deixa uma resposta

Apoia a esQrever

Este é um projeto comunitário, voluntário e sem fins lucrativos, criado em 2014, e nunca vamos cobrar pelo conteúdo produzido, nem aceitar patrocínios que nos possam condicionar de alguma forma. Mas este é também um projeto que tem um custo financeiro pelas várias ferramentas que precisa usar – como o site, o domínio ou equipamento para a gravação do Podcast. Por isso, e caso possas, ajuda-nos a colmatar parte desses custos. Oferece-nos um café, um chá, ou outro valor que te faça sentido. Estes apoios são sempre bem-vindos 🌈

Buy Me a Coffee at ko-fi.com