
Em resposta ao Relatório Cass sobre cuidados de saúde para jovens trans no Reino Unido, mais de 200 profissionais da psicologia educacional assinaram uma carta aberta. A carta, com autoria de Dan O’Hare, Cora Sargeant e Christie Ghent, expressa preocupações sobre o impacto das conclusões do relatório na vida de jovens trans e de género-diverso, apontando para possíveis repercussões negativas.
As 206 assinaturas partilham a preocupação com a forma como o relatório pode influenciar o bem-estar psicológico e emocional de jovens. Na carta, reconhecem a importância de uma diversidade de opiniões dentro da profissão sobre a melhor forma de apoiar jovens trans e de género-diverso. Contudo, sublinham que algumas abordagens presentes nas recomendações do relatório podem invalidar as experiências e identidades destas crianças e adolescentes, considerando-as discriminatórias e prejudiciais.
A carta frisa ainda o compromisso ético de profissionais em seguir os padrões de proficiência do Health and Care Professions Council (HCPC), uma entidade que regula a prática de profissionais da área da psicologia e outras no Reino Unido. Nesse sentido, a invalidade das vivências de pessoas trans é vista como uma violação dos princípios de igualdade e direitos humanos, podendo causar danos graves.
Recomendações enviesadas e ideológicas
Publicado em abril, o Relatório Cass é um documento de 400 páginas que propõe uma série de mudanças no modelo de cuidados prestados a jovens trans e género-diversos em Inglaterra. Com mais de 32 recomendações, o relatório tem como objetivo reorganizar a assistência médica e psicológica oferecida a jovens, focando-se num modelo que promete ser “baseado na evidência” e alinhado com diretrizes internacionais.
No entanto, profissionais de saúde e grupos de defesa dos direitos trans afirmam que o relatório, longe de promover cuidados baseados na evidência, representa uma tendência preocupante de restrição de acessos e instrumentalização da saúde trans para fins ideológicos. Entre as recomendações, destaca-se uma abordagem mais cautelosa e restritiva no uso de bloqueadores da puberdade, uma medida que já tinha gerado controvérsia e oposição do maior sindicato médico do Reino Unido, que recentemente pediu o levantamento da proibição de acesso a esses bloqueadores para jovens trans.
A carta aberta ressalta um ponto crítico: a necessidade de fornecer suporte sensível e informado para crianças e jovens trans. Segundo as pessoas signatárias, as recomendações do Relatório Cass ignoram em grande parte as complexas necessidades destas pessoas, baseando-se numa abordagem que é vista como desatualizada e insensível ao contexto contemporâneo de saúde mental e bem-estar juvenil.
É denunciado como certas abordagens apresentadas no relatório podem alimentar discriminação, ao tratar questões de identidade de género como problemáticas em vez de reconhecê-las como parte legítima da experiência humana. O compromisso de profissionais de psicologia, afirmam, é proteger jovens e garantir que tenham acesso a cuidados e apoios que respeitem a sua identidade e promovam o seu bem-estar integral.
Relatório Cass não pode instrumentalizar identidades trans
A carta aberta destaca a resistência crescente de profissionais de saúde contra as diretrizes restritivas do Relatório Cass. A carta sublinha que qualquer reforma nos cuidados de saúde para jovens trans deve partir de uma base de respeito e inclusão, e não de preconceito ou estigmatização.
Assim, a comunidade de saúde e direitos humanos permanece alerta, sublinhando a importância de uma abordagem informada e ética. Enquanto o debate continua, jovens trans e de género-diverso no Reino Unido esperam que as suas necessidades não sejam comprometidas por decisões políticas ou ideológicas que negligenciem o seu bem-estar.

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