
Hwang Dong-hyuk, criador e realizador de Squid Game, abordou a polémica na comunidade LGBTQ sobre a decisão de escolher Park Sung-hoon, um ator cisgénero, para interpretar Hyun-ju, uma mulher trans. Esta decisão gerou uma onda de controvérsia online desde que foi anunciada.
O desafio do casting de Squid Game na Coreia do Sul
Hwang revelou que previu esta discussão desde o momento em que começou a criar a personagem. Segundo o realizador, a equipa considerou escolher uma atriz trans para o papel, mas enfrentou desafios: “Na Coreia, não há quase nenhum ator ou atriz assumidamente trans, muito menos abertamente gays, porque, infelizmente, na sociedade coreana, atualmente, a comunidade LGBTQ ainda é marginalizada e negligenciada, o que é de partir o coração.”
Hyun-ju é descrita como uma ex-soldado e mulher trans que participa no jogo para financiar cirurgias de afirmação de género. Apesar do contexto desafiador, Hwang defendeu a sua escolha, afirmando que confia plenamente no talento de Park Sung-hoon para interpretar esta personagem complexa: “Tenho acompanhado o seu trabalho desde o início da sua carreira e tinha confiança total na sua capacidade de dar vida a Hyun-ju.”
A evolução dos direitos LGBTQ na Coreia do Sul
A decisão de casting, como em Squid Game, reflete as dificuldades que atores e atrizes LGBTQ enfrentam na Coreia do Sul. Embora a comunidade tenha feito avanços nos últimos anos, como a decisão do Supremo Tribunal em julho de 2023 que reconheceu os mesmos benefícios de seguros de saúde para casais do mesmo sexo, a aceitação social e legal ainda é mista. Uma pesquisa do Pew Research de 2023, revelou que 56% da população sul-coreana é contra a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Além disso, em junho passado, as autoridades de Seul negaram, pelo segundo ano consecutivo, a autorização para o Seoul Queer Parade, apesar de dezenas de milhares de pessoas terem marchado em celebração.
A representação de personagens trans em dramas coreanos é rara. Um dos poucos exemplos é Ma Hyun-yi, da série Itaewon Class (2020), interpretada pela atriz cis Lee Joo-young. Apesar das críticas à falta de autenticidade no casting, a série foi elogiada pela abordagem delicada e nuançada da personagem.
A escolha de um ator cis para desempenhar uma mulher trans vinca a ideia de que estas não são mulheres
Esta controvérsia em Squid Game reflete um debate mais amplo sobre representação e autenticidade na indústria do entretenimento. Escolher atores cisgénero para papéis de personagens trans é muitas vezes visto como uma oportunidade perdida de dar visibilidade e emprego a artistas trans, que enfrentam desafios únicos no setor. Além disso, a escolha de um ator cis para desempenhar uma mulher trans vinca a ideia de que estas não são mulheres por inteiro.
A questão permanece: como pode a indústria promover uma representação mais autêntica e inclusiva, especialmente em países onde a comunidade LGBTQ enfrenta maior discriminação? O caso de Hyun-ju em Squid Game é apenas um dos muitos exemplos que colocam esta pergunta no centro da discussão global sobre diversidade e inclusão LGBTQ nos media.
A segunda temporada de Squid Game estreia a 26 de dezembro na Netflix.

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