Jimmy Carter (1924-2024) e o legado LGBTQ+ de um Presidente: “Jesus aprovaria o casamento gay”

Jimmy Carter (1924-2024) e o legado LGBTQ+ de um Presidente: "Jesus aprovaria o casamento gay"
FILE – Former President Jimmy Carter poses for a portrait during the Toronto International Film Festival, Sept. 10, 2007, in Toronto. (AP Photo/Carolyn Kaster, File)

Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos e Prémio Nobel da Paz, faleceu este domingo aos 100 anos, mas traz consigo um importante legado pelos direitos humanos e LGBTQ+. Apesar de ter presidido numa era em que o tema da orientação sexual era amplamente marginalizado, as suas ações marcaram o início do reconhecimento dos direitos LGBTQ+ no país.

Durante a sua presidência (1977-1981), Carter foi o primeiro presidente a convidar ativistas gays para a Casa Branca. Este gesto, na época, representou um importante marco simbólico para a visibilidade e o reconhecimento da comunidade. Entre os convidados estava Harvey Milk, uma das figuras mais proeminentes na luta pelos direitos LGBTQ+, que destacou o simbolismo do encontro como uma abertura ao diálogo e ao progresso.

Harvey Milk e Jimmy Carter em 1976.

Durante sua administração, suspendeu também a proibição de pessoas gays e lésbicas na administração pública, um grande passo para remover as caças às bruxas da era McCarthy. Chamado Lavender Scare (‘o susto da alfazema’), este foi um período de perseguição da comunidade LGBTQ+ nos anos 1950 e 1960. Como resultado desta perseguição, ocorreram despedimentos em massa com base na orientação sexual de pessoas ao serviço do Governo estadunidense.

Também com Carter, foi suspensa a sua exigência de que qualquer organização sem fins lucrativos LGBTQ+ declarar que a homossexualidade era “uma patologia doentia”.

Jimmy Carter trouxe uma visão inclusiva que pavimentou o futuro

Embora o seu mandato tenha sido caracterizado por desafios políticos e económicos, Carter demonstrou uma visão inclusiva que, mesmo de forma discreta, pavimentou o caminho para os avanços futuros. Após deixar a presidência, Jimmy Carter continuou a mostrar apoio à igualdade LGBTQ+ em discursos, entrevistas e no trabalho com a sua organização humanitária, o Carter Center.

Nos anos seguintes, Carter defendeu publicamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, afirmando que “Jesus encorajaria qualquer caso de amor se fosse honesto e sincero e não fosse prejudicial a mais ninguém”, e que o amor e a aceitação deveriam prevalecer. “Não vejo que o casamento gay prejudique ninguém. … Acredito que Jesus aprovaria o casamento gay. Essa é apenas a minha opinião pessoal.” As suas palavras ressoaram especialmente numa época em que muitos líderes religiosos usavam o cristianismo para justificar discriminação contra pessoas LGBTQ+.

Um legado de compaixão e igualdade

O impacto de Carter estendeu-se também ao encorajamento de outros líderes políticos a adotarem uma postura mais inclusiva. O presidente Joe Biden, que prestou homenagem a Carter após o seu falecimento, lembrou a sua coragem em enfrentar temas controversos, incluindo os direitos LGBTQ+, mesmo quando isso não era politicamente conveniente.

A Human Rights Watch (HRW), uma ONG de defesa dos direitos LGBTQ+ no Mundo, expressou a sua gratidão pelo legado de Carter. “Nos últimos anos, ele tornou-se numa voz proeminente de apoio aos direitos LGBTQ+, ao falar em igualdade no casamento num momento em que a maioria dos líderes nacionais nos EUA ainda se opunha a isso“, disse Kelley Robinson, Presidente da HRW. “Estendemos as nossas mais profundas condolências à sua família e a todas as pessoas enlutadas.”

Muitas pessoas reconhecem que, embora o progresso tenha sido lento, o seu trabalho e os seus valores de compaixão ajudaram a criar um espaço onde as vozes LGBTQ+ pudessem ser ouvidas. A sua abordagem humilde, mas firme, inspirou líderes a reconhecerem os direitos humanos como universais, incluindo os das pessoas queer.

Com a sua morte, Carter deixa um legado de esperança e perseverança. Num mundo ainda marcado por desigualdades, a sua vida serve como um lembrete de que pequenos gestos de inclusão podem transformar a história. Carter será lembrado não apenas como um presidente, mas como um aliado de todas as comunidades marginalizadas, incluindo a LGBTQ+, que lutam por igualdade e dignidade.



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